O frio chegou: entenda diferença entre doenças como Covid-19, gripe e rinite
Especialistas explicam como aglomerações comuns nessa época propiciam transmissão de vírus respiratórios e apontam principais sintomas de cada enfermidade
A chegada do frio é motivo de alerta em relação às doenças respiratórias. O espalhamento dos vírus causadores das infecções é favorecido pela queda de temperatura durante o outono e o inverno. Além disso, a mudança no comportamento das pessoas, que passam a ficar mais tempo confinadas em espaços fechados, facilita a transmissão de doenças como a Covid-19, a gripe comum e os resfriados.
O tempo seco prejudica as vias aéreas, dificulta a respiração, causa desconforto e aumenta o número de casos dessas infecções. As doenças respiratórias podem apresentar um conjunto de sintomas muito parecido. Alguns sinais podem ajudar a diferenciar as doenças.
No caso da gripe, os sintomas são mais intensos, duradouros, e a febre é alta, diferentemente dos resfriados, que são mais curtos e com sintomas mais brandos. A rinite provoca espirros em salva, ou seja, são muitos e em sequência, além de acontecer geralmente em crises que podem se repetir após 4 a 6 horas. Já a Covid-19 apresenta quadros bastante variáveis de uma pessoa para outra, quando presentes, a perda do olfato e paladar podem ser duradouras.
Entenda as principais diferenças entre a Covid-19, a gripe comum, o resfriado e a rinite.
Os diferentes sintomas da Covid-19
Causada pelo vírus SARS-CoV-2, a Covid-19 pode provocar uma grande variedade de manifestações clínicas. O Ministério da Saúde classifica os casos em cinco níveis, de acordo com a severidade: assintomáticos, leves, moderados, graves e críticos.
Os casos leves apresentam sintomas como tosse, dor de garganta ou coriza, que podem vir acompanhados ou não de perda do olfato e do paladar, diarreia, dor abdominal, febre, calafrios, dor muscular, fadiga e dor de cabeça.
Já os casos moderados podem incluir, além dos sintomas leves, tosse e febre persistentes e sinais de piora progressiva de outros sintomas relacionados à doença, como cansaço intenso, falta de apetite e diarreia. Nesse estágio, os pacientes podem apresentar pneumonia sem sinais de gravidade.
O desenvolvimento da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) é considerado pelo Ministério da Saúde um caso grave da Covid-19. A SRAG é uma complicação da Síndrome Gripal (SG), que apresenta sintomas como falta de ar ou desconforto respiratório, pressão persistente no tórax e saturação de oxigênio menor que 95% – a queda acentuada da saturação pode indicar redução da oferta de oxigênio no organismo.
Fase mais grave da doença, os casos críticos apresentam sintomas como a sepse (resposta inflamatória que se espalha pelo organismo), desconforto respiratório agudo, insuficiência respiratória ou pneumonia graves. Os pacientes podem precisar de suporte respiratório e internação em unidades de terapia intensiva (UTIs).
Gripe, resfriado e rinite alérgica
A gripe comum é causada por um tipo diferente de vírus, o influenza, que apresenta diversos subtipos, sendo um dos mais conhecidos o A (H1N1), responsável pela pandemia de 2009. Como as epidemias sazonais acontecem em várias regiões do mundo, a doença se espalha predominantemente no inverno.
Os principais sintomas são febre alta, tosse, garganta inflamada, dores de cabeça, no corpo e nas articulações, diminuição do olfato e do paladar, calafrios e fadiga. A duração dos sintomas é de cerca de 5 a 7 dias.
Diferentemente da gripe, os resfriados são causados principalmente pelo rinovírus, também tendo como causa os vírus parainfluenza e o vírus sincicial respiratório. Os sintomas são parecidos com os da gripe, porém mais brandos e com uma duração menor, em torno de 2 a 4 dias.
Os primeiros sinais podem ser coceira no nariz e irritação na garganta, seguidos de tosse, congestão nasal, coriza, dor no corpo e dor de garganta leve. Nesses casos, a febre é menos comum e pode acontecer em temperaturas baixas.
A rinite é a inflamação da mucosa nasal, podendo acontecer nas formas aguda, crônica, infecciosa e alérgica. Os casos agudos, em sua maioria, são causados por vírus.
Os casos crônicos e recorrentes geralmente são fruto da rinite alérgica, aquela relacionada à exposição a substâncias que provocam a reação alérgica no indivíduo – sendo as mais comuns os ácaros presentes na poeira, pólen, fungos, urina e saliva de animais como cães e gatos.
Os sintomas mais comuns são inchaço da mucosa com obstrução nasal, coriza, espirros seguidos e coceira no nariz, garganta e nos olhos.
Cuidado e tratamento
Em geral, os cuidados com as doenças respiratórias envolvem repouso e ingestão de líquidos. O tratamento disponível é direcionado ao alívio dos sintomas, incluindo medicamentos analgésicos e antitérmicos, que aliviam a dor e a febre.
Em relação à gripe especificamente, em alguns casos, pode ser indicada sob prescrição médica a utilização de medicamentos antivirais, como o oseltamivir.
Para a Covid-19, não existem medicamentos específicos comprovados cientificamente para a prevenção da doença. A vacinação é uma das melhores formas de proteção tanto para a Covid-19 como para a gripe.
Risco maior tem relação com o comportamento no frio
A microbiologista Natalia Pasternak explica que o comportamento das pessoas durante o frio é o fator decisivo para o aumento na transmissão das doenças respiratórias. “O frio é uma época em que as pessoas se aglomeram mais, ficam menos ao ar livre e mais tempo em locais fechados. Além de utilizar mais transporte público do que caminhadas ao ar livre, provocando aglomerações em ônibus e metrô, que favorecem a propagação de qualquer vírus respiratório”, comenta.
Segundo a pesquisadora, o ressecamento das mucosas nasais aumenta a sensibilidade e torna mais propícia a entrada de vírus respiratórios no organismo. No entanto, ela ressalta que, em relação ao novo coronavírus, não foram observadas diferenças significativas na transmissão quando comparados os períodos de frio e calor.
“No caso do coronavírus, assim como no da gripe, a aglomeração é o fator mais impactante para a transmissão. Vimos uma diferença pequena no aumento de casos no inverno em diferentes locais do mundo. Infelizmente, é um vírus que se espalha muito bem no verão também. Passamos pelo período de mais calor no Brasil e estamos no pico da doença, com o maior índice do número de casos, de hospitalizações e de mortes”, destaca Natalia.
A microbiologista enfatiza que os cuidados devem ser reforçados e que as medidas de proteção são comuns para a maior parte das doenças respiratórias. “É preciso manter o distanciamento físico e social, evitar aglomerações, principalmente em locais fechados e sem ventilação, como bares e restaurantes. Devemos aproveitar o fato de que o Brasil não tenha um inverno rigoroso, que impeça a circulação em espaços abertos, e continuar priorizando atividades ao ar livre, como caminhadas”, orienta.
Quando procurar o serviço de saúde?
O infectologista da Fiocruz Pernambuco e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Paulo Sergio Ramos de Araújo explica que a semelhança entre os sintomas das diferentes doenças respiratórias torna difícil o diagnóstico da Covid-19. O pesquisador recomenda que, diante do aparecimento de sintomas, as pessoas busquem atendimento médico para esclarecimento.
“Na presença de qualquer sintoma relacionado às vias aéreas, como coriza, tosse, dor de garganta, febre, de forma isolada ou associada, o indivíduo deve buscar atendimento médico ou serviço de atenção básica da saúde, para receber orientações sobre a necessidade de testagem para a Covid-19 e prosseguir com as medidas de isolamento, caso seja indicado”, afirma.
Segundo Araújo, a testagem é fundamental para a redução no número de novos casos. “Quanto mais diagnósticos fizermos e quanto mais isolarmos as pessoas infectadas, melhores as chances de controle da pandemia até que consigamos vacinar um percentual de pelo menos 80% da população”, analisa.