Redução de isolamento vai aumentar risco de transmissão, diz infectologista
Em entrevista à CNN, o pesquisador da Fiocruz Julio Croda afirmou que o tempo de isolamento ideal não é um consenso na comunidade científica
Diante das declarações do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, de que pretende reduzir o tempo de isolamento de dez para cinco dias para os pacientes assintomáticos que testam positivo para Covid-19, o infectologista e pesquisador da Fiocruz Julio Corda considera que caso a medida entre em vigor, o risco de transmissão vai aumentar.
Em entrevista à CNN nesta segunda-feira (10), o médico avaliou que não há consenso na comunidade científica sobre o tempo de isolamento ideal, e que os riscos e benefícios de cada região devem ser analisados criteriosamente. De acordo com Croda, a redução para cinco dias iria beneficiar a preservação da força de trabalho, já que há um aumento exponencial do número de casos da variante Ômicron do coronavírus.
“A gente não tem consenso na comunidade científica a respeito desse assunto. É importante observar como vai evoluir a pandemia pra gente entender se é uma medida importante ou não, principalmente no que diz respeito de preservar força de trabalho. Que vai aumentar o risco de transmissão com certeza, mas às vezes esse risco compensa o benefício de preservar a força de trabalho”, disse.
De acordo com o pesquisador, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA encurtou, em dezembro, o tempo recomendado de isolamento para cinco dias, mas com a condição de que a pessoa infectada continue usando “máscara bem ajustada” por dez dias, além da necessidade de estar vacinada.
“A gente sabe que o período de transmissão maior é o de dois dias antes de apresentar sintomas e três dias depois do início dos sintomas, e foi por conta disso que o CDC dos Estados Unidos justificou essa diminuição do tempo de isolamento”, afirmou o infectologista.
Croda considerou que cada país vem adotando uma medida diferente sobre o tema. No Reino Unido e na França, por exemplo, o tempo de isolamento permanece sendo de sete dias. “A nossa realidade tem que ser avaliada. Não devemos copiar o que os outros países já fazem, mas sim adaptar as nossas condutas de acordo com a nossa realidade”, considerou.
O pesquisador ainda considerou que a restrição de voos vindos de países africanos é uma medida discriminatória e desnecessária, uma vez que já há, no Brasil, uma transmissão comunitária da variante Ômicron. Croda ainda criticou o apagão de dados do Ministério da Saúde: “A gente está num voo cego, a gente ouve que está tendo um aumento mas a gente não sabe realmente quantificar de quanto é esse aumento”, concluiu.