Hong Kong se firma como novo epicentro da coquetelaria mundial

Estive na China vivendo algo único. Não são só as luzes, o calor, o sobe e desce das ruas ou o caos urbano de Hong Kong. Foi a sensação de estar no centro de uma cena que não para de crescer e surpreender.

No início do mês, o The World’s 50 Best Bars anunciou, em uma celebração realizada na cidade, o Bar Leone, também localizado em Hong Kong, como número 1 do mundo. Mais do que um título, o prêmio confirma algo maior: a cidade se tornou o novo centro global da coquetelaria.

O Leone é um caffè italiano autêntico, mas com seu toque único, iluminação mais baixa, ótimos coquetéis (ressalto o Negroni com folha de figo e oautoral il Cacciatore) e um panino de mortadela inesquecível.

Mas Hong Kong vai muito além dele. Lá, cada bar é uma experiência distinta e acrescenta algo ao cenário global. É uma cidade sem fronteiras, onde tradição e culturas diversas coexistem e trazem à tona inovação e ousadia.

O COA é uma dessas experiências que ficam. Por anos considerado o melhor bar da Ásia, ele é incrível e educativo, focado em destilados de agave. Mais do que beber, é aprender — sobre processos e cultura. Ali, cada drinque vem acompanhado de uma explicação, e isso transforma a experiência. O COA mostra como Hong Kong consegue abraçar universos tão distintos dentro da sua cena, ensinando de forma linda sobre os destilados mexicanos, mesmo estando do outro lado do mundo.

O Penicillin é outro destaque marcante. Para mim, é pioneiro. Não pela estética, mas pelo conceito: tecnologia e sustentabilidade integradas ao serviço e ao drinque. Cada coquetel conta uma história, e muitas vezes é possível sentir essa conexão entre bebida, técnica e propósito. É um lugar que me fez pensar que a coquetelaria pode ir muito além do copo. A sustentabilidade está em cada detalhe do bar. É a cara do futuro.

O The Old Man é outra parada obrigatória. Hospitalidade asiática na sua essência. O balcão do bar é uma atração à parte, muito diferente do convencional, como uma mesa comunitária, que agrega muito à experiência. O atendimento impecável, com drinques que flutuam entre tradição e muita inovação, formam a combinação perfeita. Entrar lá é mergulhar na alma de Hong Kong. É como visitar um lugar que mantém viva uma história e, ao mesmo tempo, a reinventa a cada coquetel.

O Argo caminha para um novo capítulo. Já consagrado entre os melhores, agora sob o comando do novo diretor de bebidas, Jonathan Gabbay — ex-The Champagne Bar at The Surf Club do Four Seasons Surfside em Miami — promete trazer uma nova energia. É um daqueles bares que você sabe que continuará surpreendendo, mantendo sempre um padrão de excelência.

O Montana traz outra camada dessa cena: frescor, ousadia e atitude. Um espaço jovem, vibrante, onde cada detalhe é pensado para surpreender. Música, luz, atmosfera — tudo se mistura para criar uma experiência única e latina, bem no centro de Hong Kong. A paloma cubana e alguns daiquiris são pedidas certeiras.

Para quem visita Hong Kong, minha dica é simples: ande pela cidade, converse com bartenders, descubra bairros como Sheung Wan, Central e Soho. Cada bar é um universo distinto. Não se trata apenas de beber, mas de viver a coquetelaria mais influente do mundo neste momento.

A cidade não está apenas brigando pelo topo — ela está redefinindo o topo. E agora, com o Leone em primeiro lugar, isso deixou de ser possibilidade para se tornar realidade. Por lá, beber é descobrir, aprender e se surpreender a cada pequeno gole.

*Os textos publicados pelos Insiders e Colunistas não refletem, necessariamente, a opinião do CNN Viagem & Gastronomia.

Sobre Nicholas Fullen

Empreendedor do setor de gastronomia e hospitalidade, integrante da Forbes Under 30 (2022) e jurado do Campari Bartender Competition, Nicholas Fullen é sócio-fundador e CPO do Grupo Locale — que reúne o Locale Caffè, Locale Trattoria, Exímia Bar, Oguru Sushi & Bar, Go By Oguru e Poke by Oguru. Nicholas lidera o desenvolvimento de produtos e a estratégia de expansão.