Negroni: do balcão de Florença ao posto de coquetel mais consumido do mundo
Drinque atravessa mais de um século de história, ganha variações icônicas e conquista de vez o paladar do mundo

O Negroni é hoje o drinque mais pedido no mundo. Mas nem sempre foi assim. Essa virada aconteceu apenas em 2022, quando o clássico italiano superou o Old Fashioned e assumiu o topo da lista global. A pergunta que fica é: o que levou uma bebida com mais de 100 anos de história a viver esse boom?
São alguns fatores. O primeiro deles é a própria evolução da coquetelaria e o amadurecimento do consumidor.
Encorpado, composto por gim, vermute e amaro, o Negroni nunca foi um drinque de aceitação imediata em mercados menos experientes no universo dos bares, como o Brasil. Normalmente, o caminho é começar por coquetéis mais leves e acessíveis, para só depois conquistar espaço com receitas mais complexas.
No caso brasileiro, a evolução é clara. Há pouco mais de dez anos, o gim tônica dominava as cartas de drinques. Hoje, é cada vez mais comum encontrar Negronis e Dry Martinis, tanto em bares especializados de coquetelaria quanto em casas de maior volume.
Mas o sucesso recente do Negroni também se explica por outro fator: sua história.
O coquetel foi criado em 1919, em Florença, mas suas raízes remontam à década de 1860, quando italianos já misturavam Campari e Vermute Rosso no Torino Milano — ou MITO — considerado o “avô” do Negroni. No início do século XX, surgiu o Americano, versão mais leve com água com gás, que pode ser visto como o “pai” do drinque.
A lenda mais difundida conta que, em 1919, o conde Camilo Negroni pediu a seu bartender um “Americano mais forte”. O profissional trocou a água com gás por gim e nasceu o icônico coquetel.
De lá para cá, não faltaram variações. Entre elas, o Boulevardier e o Negroni Sbagliato, criado em Milão em 1972, quando um bartender trocou o gim por espumante. O nome, que significa “errado”, se tornou um acerto: é uma das versões mais apreciadas, perfeita para o aperitivo.
Esse equilíbrio entre tradição, reinvenção e estilo de vida ganhou ainda mais força na última década com a Negroni Week. Criada em 2013 pela Campari em parceria com a revista Imbibe, a ação se espalhou para mais de 80 países e passou a celebrar não só o coquetel, mas toda a sua história e cultura.
No Brasil, acompanhei de perto esse movimento. Em pouco tempo, o país ultrapassou Itália e Estados Unidos e se tornou o maior consumidor de Campari do mundo — um dado que mostra a força dessa tendência por aqui.
Este mês, a Negroni Week volta a acontecer em todo o país e é um convite tanto para os apaixonados pela bebida quanto para quem quer conhecer melhor esse clássico e suas múltiplas interpretações.
Hoje, o Negroni não é apenas um coquetel. É uma jornada de mais de um século que continua evoluindo com novas variações, releituras autorais e histórias que se entrelaçam ao redor do mundo.
Errado ou certo, clássico ou autoral, o Negroni é o drinque que o mundo escolheu para brindar.
*Os textos publicados pelos Insiders e Colunistas não refletem, necessariamente, a opinião do CNN Viagem & Gastronomia.
Sobre Nicholas Fullen

Empreendedor do setor de gastronomia e hospitalidade, integrante da Forbes Under 30 (2022) e jurado do Campari Bartender Competition, Nicholas Fullen é sócio-fundador e CPO do Grupo Locale — que reúne o Locale Caffè, Locale Trattoria, Exímia Bar, Oguru Sushi & Bar, Go By Oguru e Poke by Oguru. Nicholas lidera o desenvolvimento de produtos e a estratégia de expansão.


