Como Abu Dhabi pode superar Orlando e se tornar centro de parques temáticos
Abu Dhabi está construindo um playground movido a adrenalina que pode dar muito trabalho a Orlando

Por décadas, Orlando reinou como a capital mundial dos parques temáticos — um lugar onde a Disney, a Universal, o SeaWorld e inúmeras outras atrações atraíram milhões de visitantes.
Mas um desafio para essa coroa surgiu de um lugar inesperado: os desertos do Golfo Árabe. Em um destino antes conhecido mais pela riqueza do petróleo e pelas corridas de camelos do que por montanhas-russas, Abu Dhabi está construindo um playground movido a adrenalina que pode dar muito trabalho a Orlando.
E acaba de conquistar sua arma mais poderosa: a Disney.
Em maio de 2025, quando a Disney anunciou seu primeiro novo parque temático em 15 anos, escolheu Abu Dhabi em vez de outros destinos tradicionais de parques como a Califórnia, o Japão e até a própria cidade de Orlando.
“Não havia dúvida”, disse Josh D’Amaro, presidente da Disney Experiences. A capital dos Emirados Árabes Unidos já abriga o Ferrari World, com a montanha-russa mais rápida do mundo; o Warner Bros. World (construído sob licença da Warner Brothers Discovery, empresa-mãe da CNN internacional); o Yas Waterworld, uma rede épica de toboáguas e piscinas; e, mais recentemente, o SeaWorld Yas Island Abu Dhabi. Está claro que o emirado surge como o concorrente mais sério que Orlando já enfrentou.
A Disneyland Abu Dhabi, prevista para abrir na Yas Island no início da década de 2030, será o parque mais tecnologicamente avançado da Disney até hoje. As imagens mostram uma torre cintilante e futurista em seu centro — mais parecida com o reluzente skyline de Abu Dhabi do que com um castelo europeu tradicional. Será o primeiro resort Disney localizado em uma orla acessível, a apenas 20 minutos do centro da cidade.

O parque será desenvolvido, construído e operado pela Miral, empresa de Abu Dhabi responsável pelo portfólio de outras atrações da Yas Island. Os Imagineers da Disney cuidarão do design criativo e da supervisão operacional, garantindo que o novo parque esteja em sintonia com a marca da empresa.
O CEO da Miral, Mohamed Abdalla Al Zaabi, afirma que a demanda já existe: em 2024, a Yas Island registrou um aumento de 20% na frequência de visitantes em seus parques temáticos. E a expansão já está em andamento — uma área temática de Harry Potter no Warner Bros. World, novas atrações recordistas no Ferrari World, hotéis temáticos e até duas praias ao longo do Yas Bay Waterfront.
“Não se trata de construir mais um parque”
A localização de Abu Dhabi, a poucas horas de voo tanto da Europa quanto da Ásia, e a curta distância da Índia, significa milhões de visitantes em potencial ao seu alcance.
“Não se trata de construir mais um parque temático”, disse Saleh Mohamed Al Geziry, diretor-geral de turismo de Abu Dhabi, à CNN internacional. “Trata-se de definir Abu Dhabi como um destino global onde cultura, entretenimento e luxo se encontram.”
A ascensão de Abu Dhabi acontece em um momento em que Orlando e o turismo dos Estados Unidos enfrentam ventos contrários. As viagens internacionais ao país diminuíram recentemente, com longos processos de visto, checagens de imigração imprevisíveis e fiscalização de segurança rigorosa sendo apontados como fatores que afastam visitantes.
Abu Dhabi, por sua vez, oferece atualmente uma alternativa mais tranquila. Muitas nacionalidades podem entrar nos Emirados Árabes Unidos sem visto ou com um "e-visa", e o aeroporto da capital — em expansão — tem fama de oferecer um processamento rápido na imigração e conexões fáceis.
Apesar das tensões regionais mais amplas, Abu Dhabi continua a se posicionar como um polo turístico seguro e confiável. Os Emirados Árabes Unidos ficaram bem colocados no Índice Global da Paz de 2024. “Em tempos de incerteza, as pessoas procuram destinos nos quais possam confiar”, acrescentou Al Geziry.
Na Yas Island, os visitantes encontram atrações internas com clima controlado, filas mais curtas e um nível de sofisticação que normalmente não se associa a parques temáticos.
“Para famílias acostumadas a parques nos Estados Unidos ou na Europa, Abu Dhabi é uma revelação”, diz Steven Hopkinson, um expatriado britânico que vive na cidade. “Você não passa horas esperando no calor, e tudo parece mais refinado, mais acessível, o que é um luxo quando você está com crianças pequenas.”
Orlando pode ter o sol da Flórida, mas no verão também sofre com a umidade e as multidões. As temperaturas também disparam em Abu Dhabi, mas seus parques internos com ar-condicionado mantêm a experiência agradável, independentemente do clima externo.
O Warner Bros. World e o Ferrari World são totalmente fechados, com passarelas e restaurantes climatizados, e até mesmo os aquários e experiências com animais do SeaWorld ficam em áreas cobertas.
“Comparado a lugares como a Flórida, é um nível diferente de conforto”, disse Ahmed El Khoury, um expatriado palestino e pai de três filhos.
“A Disney fez uma escolha inteligente”
Apesar das comparações, Abu Dhabi não está se posicionando como um rival direto de Orlando — busca ser algo mais. O emirado enxerga seus parques temáticos como parte de um portfólio mais amplo de atrações, que inclui marcos culturais, hotéis de luxo, praias intocadas e aventuras no deserto.
A apenas 15 minutos de carro da Yas Island, a Saadiyat Island abriga o Louvre Abu Dhabi, uma filial licenciada do famoso museu de Paris, que recebeu 1,4 milhão de visitantes no ano passado, 84% deles vindos do exterior. O Guggenheim Abu Dhabi e o Zayed National Museum estão em construção, formando um distrito cultural que será um dos polos mais concentrados de arte e patrimônio da região.
“O apelo único de Abu Dhabi está na diversidade da nossa oferta turística”, acrescentou Al Geziry. “Para quem busca emoção, temos montanhas-russas recordistas e passeios de jipe nas dunas do deserto. Para os amantes de cultura, locais históricos como o oásis de Al Ain e instituições como os museus de Saadiyat. E para os viajantes de luxo, restaurantes de nível mundial, resorts em ilhas privadas e compras de alto padrão".
E completou: “Em que outro lugar você pode começar o dia sob a icônica cúpula de chuva de luz do Louvre e terminá-lo nos mundos imersivos e cheios de histórias do Warner Bros. World ou do Ferrari World?”.
Ainda assim, nem todos estão convencidos de que a expansão da Disney para o Oriente Médio é uma aposta certeira.
“A região já teve sua cota de falsos começos”, diz Dennis Speigel, fundador da consultoria International Theme Park Services, comparando com o histórico irregular de Dubai em relação a projetos de parques temáticos na metade da década de 2010. “Vários deles enfrentaram dificuldades de rentabilidade em seu primeiro decênio.”
Speigel, no entanto, acredita que Abu Dhabi é diferente. “A Disney fez uma escolha inteligente. A infraestrutura, a segurança e os empreendimentos de lazer já existentes criam um ponto de entrada ideal”, disse ele à CNN internacional no início deste ano. “É uma movimentação muito mais controlada e calculada.”
No âmbito da sua Estratégia de Turismo 2030, Abu Dhabi pretende aumentar o número de visitantes anuais de 24 milhões, em 2023, para mais de 39 milhões até o fim da década. Com a Disneyland como peça central, essas metas podem ser superadas. A população da cidade já cresceu de 2,7 milhões em 2014 para mais de 4,1 milhões hoje, reflexo de seu perfil crescente como centro regional.
A Yas Island sozinha foi transformada, em apenas uma década, de uma faixa de areia em grande parte não desenvolvida para um destino turístico autossuficiente, com campos de golfe, marinas, shopping center, mais de 160 restaurantes e um conjunto de hotéis de luxo.
A vantagem de Orlando ainda é formidável — a cidade continua oferecendo vários parques da Disney e da Universal, tem décadas de fidelidade de marca e uma infraestrutura preparada para receber dezenas de milhões de turistas por ano.
Mas Abu Dhabi está alcançando-a rapidamente. Sua combinação de viagens sem burocracia, conforto o ano todo, atrações de ponta e uma cena cultural que acrescenta profundidade à experiência dá a Abu Dhabi um diferencial próprio, com potencial para se tornar o modelo da próxima geração de capital dos parques temáticos.
