Conheça Vientiane, a capital comunista mais jovem do mundo
Com estilo de vida tranquilo e cultura em crescimento, capital do Laos ainda recebe poucos turistas em comparação com os países vizinhos

Aditta Kittikhoun aprendeu a antecipar a pergunta. Não, não é a Tailândia, mas é próximo à Tailândia. Não, não é a China, mas é vizinho da China. Não, não é o Vietnã, mas fica ao lado do Vietnã.
Kittikhoun, que é laosiano, mas cresceu principalmente nos Estados Unidos, está acostumado com as pessoas não saberem de onde ele é. Seu pai trabalhava na missão diplomática do Laos nas Nações Unidas, na cidade de Nova York. Como resultado, ele fala inglês fluentemente, uma vantagem quando se mudou de volta para sua terra natal.
Atualmente, Kittikhoun dirige uma empresa de mídia e marketing criativo em Vientiane, uma cidade com cerca de 850 mil habitantes.
“Eu diria que é extremamente confortável, é agradável, as pessoas geralmente são gentis umas com as outras”, diz Kittikhoun, que está criando seus três filhos em Vientiane. “Gosto da atmosfera deste lugar. Quero continuar morando aqui por muito tempo.”
Embora Vientiane exista neste trecho do rio Mekong há séculos, dezembro marca 50 anos como centro da República Democrática Popular do Laos. É a mais jovem das capitais comunistas do mundo, sendo as outras Pequim, Havana, Hanói e Pyongyang.
Esta não é Bangkok às margens do Mekong. O Laos, que não tem saída para o mar, recebe muito menos turistas do que seus vizinhos rodeados por praias. Não há arranha-céus. O transporte público é mínimo. O pequeno aeroporto de Vientiane tem apenas seis portões, atendendo somente voos de curta distância da região.
Marcas globais são escassas. A maioria das redes é tailandesa ou chinesa, embora algumas unidades da Starbucks tenham sido abertas nos últimos anos — os copos com a marca Vientiane se tornaram inesperados itens de colecionador online. Um DoubleTree by Hilton foi inaugurado na cidade em 2024, uma das primeiras marcas hoteleiras ocidentais a entrar aqui.
E quanto aos pontos turísticos? As atrações mais populares são o Monumento da Vitória de Patuxai, dedicado ao povo laosiano que lutou pela independência dos franceses, e Wat Si Saket, um templo conhecido por suas milhares de esculturas e desenhos de Buda.
A primeira coisa que a maioria das pessoas nota em Vientiane é o calor. Assim como outras capitais do Sudeste Asiático, é um país quente e úmido, com um longo verão e uma estação chuvosa.
Aqui em Vien, como os moradores chamam sua cidade, motos passam zunindo por santuários budistas e edifícios governamentais baixos em estilo brutalista. Em parques e praças públicas, amigos se reúnem em banquinhos, comendo carnes grelhadas acompanhadas das onipresentes garrafas de Beerlao.
Bandeiras do Laos — vermelhas e azuis-escuras com um círculo branco brilhante no meio — são penduradas entre as árvores ou afixadas nas laterais das barraquinhas de comida.

Vientiane e além
A economia do Laos cresceu na última década, mas o Banco Mundial observa que “a alta inflação, a desvalorização da moeda e a queda dos salários reais estão levando os trabalhadores a migrarem do trabalho assalariado e do trabalho familiar não remunerado para o trabalho autônomo”.
O país foi duramente atingido pela pandemia, e seu frágil setor de turismo sofreu mais danos no ano passado depois que seis viajantes morreram por álcool contaminado em um hostel em Vang Vieng, o principal destino de festas do país.
Muitos jovens laosianos emigraram para a Tailândia em busca de trabalho, onde a economia é mais forte, principalmente no setor de hotelaria. A maioria dos falantes de laosiano consegue entender e falar tailandês, já que os dois idiomas são semelhantes e muitos canais de TV locais exibem filmes e programas de televisão tailandeses.
“Grande parte da mão de obra braçal está indo para o exterior”, diz Kittikoun. “A classe altamente educada ainda está aqui e é extremamente requisitada.”
Segundo o Banco Mundial, a economia do Laos deverá crescer cerca de 3,5% este ano. Os salários subiram um pouco, mas as pressões inflacionárias, incluindo o aumento dos preços dos imóveis, mantêm a casa própria fora do alcance de muitos.
No entanto, Kiyé Simon Luang, cineasta laosiano que passou anos na França antes de retornar, diz que alguns laosianos de sua geração que pensavam que teriam que viver no exterior para seguir suas carreiras em campos criativos estão voltando para casa.
Luang, que gosta de explorar a vibrante cena musical independente da cidade em seu tempo livre, diz que se sente energizado pelos jovens do Laos que estão impulsionando a cultura e mudando a ideia do que significa ser bem-sucedido. E ele acredita que a maré alta levanta todos os barcos.
“É normal que o país se desenvolva”, diz ele. “A população está crescendo. Posso ver que o padrão de vida aumentou, que o nível de saúde também melhorou, assim como a higiene. O desenvolvimento traz vantagens.”
Embora o turismo de entrada seja um setor em crescimento na economia do Laos, a maioria dos turistas visita o país como parte de uma viagem maior pelo Sudeste Asiático.
E quando os viajantes vêm ao Laos, Vientiane não é o destino principal da maioria deles.

Luang Prabang, a antiga capital real no norte do Laos, listada como Patrimônio Mundial da Unesco, há muito tempo é a vitrine do país graças aos seus belos edifícios coloniais franceses bem preservados.
Atualmente, o maior e mais dinâmico mercado turístico é vizinho do Laos ao norte: a China.
Um projeto ferroviário de alta velocidade apoiado pela China que conecta Luang Prabang a Vang Vieng e Vientiane tem sido um sucesso. Agora, os viajantes podem ir de Vientiane a Luang Prabang em duas horas — uma viagem que facilmente levaria o dia todo de carro pelas estradas locais.
O trem parte da província chinesa de Yunnan. Embora os viajantes chineses precisem de visto para ir ao Laos, essa exigência é dispensada se reservarem um pacote turístico com uma agência de viagens laosiana. Como resultado, guias turísticos em mandarim estão surgindo nas áreas de fronteira para atrair turistas chineses para o sul.
Colocando o Laos em contexto
Luang Prabang talvez seja o lugar mais famoso do Laos. Mas, como destaca a expatriada Sophie Steller, a cidade histórica é pequena e não tem uma população residente durante todo o ano tão grande quanto Vientiane.
Muitos estrangeiros vêm para a capital do Laos para trabalhar em ONGs, ensinar inglês ou francês (este último ainda é usado oficialmente pelo governo) ou se estabelecer como nômades digitais.
Steller, originária de Sydney, veio para o Laos pela primeira vez para trabalhar para a Unicef em 1999 e está sediada em Vientiane desde então. Ela rapidamente se apaixonou por sua cidade adotiva, mas sentia falta de um bom e confiável lugar para tomar coquetéis que estivesse aberto aos domingos e tivesse funcionários que falassem inglês.
Para preencher essa lacuna, ela e dois amigos abriram um café chamado Sticky Fingers no centro de Vientiane há 10 anos. Desde então, Steller comprou a parte dos sócios, tornando-se a única proprietária, e permaneceu no país com um visto de empresária.
Steller gosta de passar seus dias de folga andando de bicicleta ou de barco pelas áreas verdes de Vientiane. Mas quando amigos de fora da cidade vêm visitá-la, ela diz que sempre recomenda que eles visitem a Cope, uma organização que apoia vítimas de minas terrestres.
“É uma verdadeira revelação para algumas pessoas”, diz ela. “É um pouco da história da Guerra do Vietnã e de como este lugar foi devastado pelos bombardeios.”
Entre 1964 e 1973, os Estados Unidos lançaram cerca de dois milhões de bombas sobre o Laos, no que foi chamado de “guerra secreta”.
Os ataques tinham como objetivo interromper as linhas de suprimento dos Viet Cong durante a Guerra do Vietnã, dando ao Laos a duvidosa honra de ser o país mais bombardeado per capita na história. Hoje, estima-se que existam 80 milhões de bombas não detonadas em todo o país, e organizações sem fins lucrativos estão ajudando a encontrá-las e removê-las com segurança.
Cerca de três milhões de turistas visitaram o país em 2025, em comparação com os 32 milhões da Tailândia. O Laos anunciou a meta de atingir cinco milhões de turistas por ano.
Em um mundo onde o turismo excessivo é uma preocupação constante, os moradores locais dizem à CNN que adoram Vientiane por seu estilo de vida tranquilo e fácil de administrar. E para expatriados como Steller, ainda parece um segredo bem guardado.
“Nunca me senti entediada aqui”, diz ela. “Nunca.”



