Dia das Crianças: dicas e cuidados ao viajar com os pequenos
De cuidados médicos a roteiros criativos, especialistas revelam como tornar a aventura em família mais leve, segura e prazerosa

No saguão do aeroporto, no carro ou no check-in de um resort, é fácil reconhecer quem viaja com crianças: mochilas coloridas, carrinhos dobráveis, lanchinhos à mão e a eterna conta de quantas horas faltam para o próximo cochilo. Viajar com filhos significa trocar a rotina por uma logística que começa muito antes da mala pronta.
O processo envolve escolher o destino com cuidado, consultar o pediatra, pensar no fuso horário, nas refeições e até no tipo de transporte mais adequado para cada idade. Se por um lado exige atenção redobrada, por outro é a chance de criar memórias.
Com a proximidade do Dia das Crianças, o tema ganha ainda mais destaque, mas os aprendizados e cuidados valem para qualquer época do ano, desde um passeio curto até o roteiro internacional.
Antes de arrumar a mala: planejamento
A primeira parada da viagem deve ser no consultório, ressalta a pediatra Juliana Pellegrini. Para ela, o ponto de partida não é a escolha do hotel, mas a conversa com o médico da criança. É o profissional também que pode dar orientações de como os pais devem agir em caso de adversidades.
“Para fazer uma viagem com crianças, principalmente com as menores de dois anos, é preciso planejamento. Converse com o pediatra antes e organize a viagem analisando o destino. Há hospitais próximos que o plano de saúde ou seguro atendam? Há farmácias perto? Há como a criança manter a rotina de sono e alimentação? São perguntas importantes antes de tomar a decisão”, orienta.
Esse cuidado, entretanto, não significa restringir possibilidades, mas estar atento às condições que podem impactar o bem-estar dos pequenos. Temperaturas extremas, longas horas de deslocamento ou falta de serviços médicos podem se sobrepor ao atrativo turístico. Na prática, esse planejamento se traduz em etapas objetivas para mitigar os riscos de imprevistos.
"A primeira delas é garantir que a vacinação esteja em dia, de acordo tanto com a faixa etária quanto com o destino. Há locais, por exemplo, em que a vacina de febre amarela é necessária, mas ela só pode ser dada para bebês com mais de nove meses", reforça a pediatra.
Outro ponto é montar um kit de saúde personalizado, para que os pais tenham em mãos medicamentos necessários. "Todos os pacientes, antes de uma primeira viagem, marcam uma consulta. Faço um exame físico detalhado e organizo os medicamentos que precisam levar: para febre, alergia, vômitos, anti-inflamatórios, picada de insetos, além de itens de higiene", diz Juliana.
A alergista e imunologista Raíssa Pimentel reforça que a prevenção vem em primeiro lugar. Ela acrescenta que manter as rotinas básicas o mais próximo possível do habitual faz diferença durante a viagem. "Sono, alimentação equilibrada e hidratação adequada ajudam a proteger a imunidade e a evitar crises alérgicas", reforça.
O kit básico que ela recomenda inclui antitérmico, antialérgico, soro fisiológico, curativos, repelente e, claro, medicamentos de uso contínuo com doses certas e receitas. "Em casos de doenças crônicas, como asma ou dermatite atópica, as medicações controladoras e planos de ação precisam sempre acompanhar a família", enfatiza.
De olho no conforto e na segurança
Com a mala encaminhada, vem a escolha de “onde ir”. Para Juliana, a decisão reside no conforto e na segurança: se for praia, sítio ou fazenda, vale redobrar o cuidado com sol e repelente.
“Filtro solar é essencial, mas só pode ser usado em crianças com mais de seis meses. Com isso, é importante evitar a exposição em horários de pico. Passeios no início da manhã e ao fim da tarde são ideais”, enfatiza.
Água potável para beber e para lavar alimentos entra na lista, assim como a estrutura de restaurantes e mercados nas proximidades para que a criança consiga manter a alimentação mais próxima de sua rotina. A poluição em grandes centros também deve ser levada em conta, cenário em que a lavagem nasal e a inalação podem ser necessárias.
Como pediatra, costumo dizer que o melhor destino é aquele onde a criança pode brincar, dormir bem e manter uma rotina segura, sem riscos desnecessários
Para viagens ao exterior, além da malinha de remédios, a dica é não abrir mão do plano de saúde com cobertura internacional. Outro alerta são destinos com altitudes elevadas, que podem acentuar desconfortos respiratórios.
Raíssa adiciona alguns pontos estratégicos: evitar destinos muito quentes, úmidos ou poluídos, e redobrar a atenção em áreas rurais, praias isoladas e lugares com muitos insetos, sempre com repelente correto e roupas que protejam a pele.
Carro ou avião? O ritmo da criança manda
Na hora de escolher entre estrada ou ar, o ponto central não é o meio de transporte, mas a rotina da criança. No avião, a orientação de Pellegrini para bebês é simples: “Na decolagem e na aterrissagem, ofereça o peito, mamadeira ou chupeta para aliviar a pressão nos ouvidos”, explica.
Para voos longos, ela recomenda priorizar os noturnos, que se encaixam melhor ao sono dos pequenos. Quando acordados, momentos de caminhada pelo corredor ajudam a reduzir a irritação. E, em qualquer horário, a palavra-chave é hidratação.

A imunologista Raíssa Pimentel acrescenta que brinquedos familiares, de tamanho reduzido, são aliados. “A criança se sente mais segura quando tem perto algo que já faz parte do cotidiano dela”, observa.
Na estrada, valem outras regras: cadeirinha adequada, paradas a cada duas horas e atenção ao interior do carro, que deve estar arejado e confortável. Juliana lembra que a vantagem da viagem terrestre está na flexibilidade: é possível parar para amamentar, trocar fraldas e ajustar a rota.
Independente do transporte, ambas são unânimes quanto ao respeito do sono. Evitar que a criança acumule “sono picado” é decisivo para o humor, a imunidade e para o bem-estar da família.
Quando a logística vira propósito

Toda essa logística ganha outra perspectiva com a fundadora da agência Viajar com Crianças, Claudine Blanco. Depois de se separar, ela decidiu encarar sozinha uma viagem com os dois filhos para a Chapada Diamantina. Mesmo com anos de experiência no turismo, se viu diante de dúvidas: tempo de trilha, alimentação, segurança. A experiência foi transformadora e plantou a semente do projeto que nasceria em 2015.
Desde então, a agência se especializou em mostrar que viajar com crianças não significa se limitar a parques temáticos ou resorts tradicionais.
O maior desafio é fazer com que a viagem seja boa para todos. Esse é o sucesso. Não é para a criança, é para a família. Quando a criança está feliz, o pai está feliz
Esse olhar se traduz em roteiros feitos sob medida. A proposta, segundo Claudine, é provar que viajar com filhos não significa abrir mão de experiências autênticas, apenas vivê-las de forma diferente.
A prioridade é sempre o ritmo da infância, equilibrando interesses culturais e gastronômicos da família. Amazônia, Lençóis Maranhenses, Atacama, Patagônia e até safáris já ganharam versões adaptadas ao universo infantil, mostrando que destinos fora da curva também podem ser cenário de conexão familiar e de consciência socioambiental.
Vida real com crianças na estrada
Do lado de quem sempre viaja com os filhos, a criadora de conteúdo Camila Amaral, por trás do Instagram e do blog Mala de Mãe, resume três aprendizados centrais.
“Durante as viagens, vivemos verdadeiramente a presença que a correria de uma rotina não nos permite. Sem distrações, todos focados na família. Isso não tem preço. A segunda coisa é o tanto que eles evoluem conhecendo novas culturas. Não existe mais espaço para preconceito. Já o jogo de cintura e flexibilidade são essenciais, totalmente possíveis de serem treinados e aprendidos", reflete.
Antes de sair de casa, ela defende o uso da racionalidade. “Esqueça o ‘e se’. É ele que faz as pessoas fazerem uma mala de 30 anos para viagens de uma semana. Ninguém está indo para Marte. Faça uma lista objetiva e, na hora de montar a mala, siga a lista.”
Ela lembra que conflitos e perrengues vão acontecer. A diferença entre uma ótima viagem e uma cilada está em alinhar as expectativas e ser leve: o objetivo é construir memórias, não perseguir a perfeição. No roteiro, ela procura começar o dia com um programa focado nas crianças e, satisfeitos, seguir para um passeio de interesse adulto, mantendo sempre um kit de entretenimento para momentos mais longos.
Na alimentação, a estratégia é, quando possível, escolher hospedagem com cozinha, ou ao menos freezer e micro-ondas; em casos extremos, levar comidas congeladas. O mais importante, porém, é exercitar a flexibilidade.
“Aceite que seus filhos não comerão da forma mais adequada e que sair da rotina faz parte. Em qualquer lugar do mundo é possível encontrar uma massa, um franguinho, legumes e, às vezes, uma batatinha frita que não matará ninguém", completa.
Destinos nacionais com crianças

Do lado do mercado, a plataforma de vigens Decolar mapeou destinos nacionais com boa estrutura para famílias. Os locais misturam parques, resorts all inclusive, praias e experiências culturais.
"As famílias têm buscado cada vez mais experiências que unam lazer, entretenimento e momentos de convivência com as crianças, especialmente em datas comemorativas", afirma Daniela Araujo, diretora de Produtos em Destino da Decolar. Abaixo, confira 14 destinos nacionais recomendados pela plataforma que cumprem com os requisitos acima:
- Aquiraz (CE)
- Penha (SC)
- Rio Quente (GO)
- Caldas Novas (GO)
- Itupeva (SP)
- São Pedro (SP)
- Mogi das Cruzes (SP)
- Florianópolis (SC)
- Porto de Galinhas (PE)
- Maragogi (AL)
- Ilhéus (BA)
- Maceió (AL)
- Foz do Iguaçu (PR)
- Manaus (AM)


