Nudez completa: como é visitar fonte termal no Japão
Conhecido como onsen, a prática consiste em banhos de águas termais ricas em minerais, aquecidas geotermicamente

Era um dia frio de fevereiro no norte do Japão. Do lado de fora das janelas do vestiário do onsen, a neve se acumulava em montes, enquanto eu tirava minhas roupas.
Com certo nervosismo, caminhei entre as nuvens de vapor que vinham da sala ao lado e segui em direção à área de banho. Não era um mergulho privado: eu estava cercada por outras pessoas nuas — nenhuma delas parecia se importar.
Crescendo no Reino Unido, nunca havia tomado banho nua ao lado de estranhos — e nem sequer imaginado essa possibilidade. No Japão, porém, isso faz parte do cotidiano.
Aprendendo a ficar nua
Peguei o trem-bala de Tóquio até Hokkaido, a ilha mais ao norte do Japão, vendo montanhas nevadas e pequenas cidades agrícolas desfilarem pela janela.
Viajando sozinha e com orçamento apertado, reservei um quarto sobre um café administrado por uma senhora calorosa de cerca de 60 anos chamada Michiko. Uma noite, enquanto conversávamos durante uma de suas refeições caseiras, ela me fez uma proposta: "Vamos ao onsen?"
Um misto de medo e empolgação tomou conta de mim. Já tinha ouvido falar dos onsen, visto em animes, lido em guias de viagem — mas encarar minha primeira visita era assustador por um motivo específico: a nudez.
De origens envoltas em mitos, os onsen são banhos de águas termais ricas em minerais, aquecidas geotermicamente. Eles fazem parte da cultura japonesa há séculos, mencionados já no século VIII no "Kojiki", um dos textos mais antigos do país.
Antes locais sagrados para rituais de purificação e frequentados pela elite, os onsen se transformaram, no período Edo (1603–1868), de destinos quase medicinais em espaços sociais — não muito diferentes dos banhos romanos.
Hoje, há milhares deles espalhados pelo Japão, de pequenas cidades a grandes resorts planejados — mais de três mil, segundo o Ministério do Meio Ambiente. Todos abastecidos com água termal e seguindo regras rígidas: a temperatura deve variar entre 34 e 42 °C (93 a 107 °F) e jamais cair abaixo de 25 °C (77 °F).
A maioria dos locais, geralmente marcados pelo símbolo ♨, oferece banhos internos (uchiyu) e externos (roten-buro), sempre separados entre homens e mulheres. Ali, banhistas relaxam sozinhos ou acompanhados de familiares e amigos, mergulhando em águas conhecidas por aliviar tensões musculares, melhorar a circulação e beneficiar a pele.
Ainda assim, não saber exatamente como começar pode deixar visitantes estrangeiros desconfortáveis — como aconteceu comigo.
Encarando o mergulho
“No início, fiquei um pouco tímida, não apenas por me despir diante de uma amiga, mas também entre completos estranhos”, conta Stephanie Crohin, especialista em casas de banho. Francesa de origem, ela logo percebeu que era a única pensando na nudez.
“Todos estavam apenas se lavando, conversando ou relaxando — então, eu também relaxei”, recorda.
Anos depois, ao visitar um tipo de banho público chamado sentō com uma colega de universidade, ela se apaixonou de vez.
“Descobri um mundo inteiro que desconhecia”, diz. “O sentō talvez seja o único lugar onde você realmente esquece as inseguranças com o corpo.”
Não é raro que viajantes confundam onsen com sentō. Ambos envolvem ficar nu e se banhar em águas quentes. A diferença é que os sentō não são aquecidos naturalmente: comuns em áreas urbanas, eles serviam a moradores sem banheiro em casa.
Na época da primeira visita de Crohin, quase não havia informações em línguas estrangeiras sobre sentō. Com seu trabalho junto à Associação de Sentō, ela ajudou a abrir esses espaços também para visitantes e estrangeiros residentes.
Seu conselho para quem vai a um banho público pela primeira vez, seja onsen ou sentō: aproveite a experiência.
“É totalmente normal se sentir hesitante no início — eu também me senti!”, diz. “Mas ninguém está observando ou julgando você. Cada um está concentrado em seu próprio momento.”
Novatos em águas termais podem achar que vão se destacar em um onsen local, mas Crohin garante que a realidade é oposta.
“Cada corpo tem suas imperfeições, e este é o único lugar que conheço em que isso não importa”, afirma.
Para quem estiver nervoso, ela recomenda encarar como uma experiência cultural, não apenas um banho. Depois de alguns minutos, o desconforto de estar nu em público se dissipa.
“Você pode até sair dali com uma sensação de liberdade e aceitação raras em um mundo tão obcecado pela aparência”, acrescenta.
Essa mesma visão é compartilhada pelo grupo Hoshino Resorts. Fundado em 1914 como Hoshino Onsen Ryokan, uma pequena pousada familiar em Karuizawa, na província de Nagano, o empreendimento hoje conta com hospedagens em várias partes do Japão e da Ásia.
“Para visitantes ocidentais que ficam apreensivos com a primeira ida a um banho público ou inseguros quanto à etiqueta, nossa principal dica é: não se preocupem!”, afirma Chanel Cai, representante do resort.
“Na verdade, os japoneses não ficam reparando nos corpos uns dos outros no banho público — é apenas parte da vida cotidiana aqui.” Uma vez dentro das águas termais, ela garante, cada pessoa mergulha em seu próprio mundo.
“Não há motivo para se sentir constrangido.”
Etiqueta no banho
Sentir vergonha da nudez é uma coisa, mas as regras dos onsen e sentō também podem deixar estrangeiros inseguros.
Na minha primeira ida a um onsen com Michiko, levei toalha e produtos de higiene pessoal, e seguimos de carro pelas ruas cobertas de neve até um estabelecimento nos arredores de Hakodate. O prédio brilhava na escuridão, vapor escapando pelo telhado.
Na entrada, famílias locais circulavam. Alguns homens deitados em tatames assistiam a um programa de humor na TV, outros bebiam refrigerantes de máquina enquanto esperavam amigos. Tudo estava em japonês. Felizmente, eu tinha uma anfitriã atenciosa — mas uma breve pesquisa antes da primeira visita já ajudaria a diminuir a ansiedade.
Uma regra bastante conhecida é simples: nada de tatuagens. “Isso tem ligação histórica com a associação [das tatuagens] ao crime organizado”, explica Cai. Visitantes tatuados geralmente não têm opção além de cobrir a pele com mangas ou curativos.
Mas essa restrição está mudando. Em junho, ao declarar que estava “comprometida em respeitar culturas diversas”, a Hoshino Resorts alterou sua política e passou a permitir tatuagens. Outros onsen seguiram o exemplo.
Enquanto isso, Crohin conta que muitos sentō já aceitam banhistas tatuados sem problema algum.
Além das tatuagens, a etiqueta geral nos banhos públicos é uma questão de convivência. “É importante ser atencioso ao usar áreas coletivas”, diz Cai. “Isso inclui manter os itens compartilhados limpos, recolher cabelos que caem, preservar um ambiente silencioso e nunca nadar nas piscinas.”
Regras básicas — como não salpicar água ou falar alto — fazem parte da experiência. Mas antes de entrar na água, há todo um ritual.
Guia rápido da cultura dos banhos
Se estiver em dúvida ou não houver sinalização em inglês, basta observar e seguir o fluxo. “É bem intuitivo”, explica Crohin, que lista um passo a passo:
- Tire os sapatos na entrada e guarde-os em um armário;
- Pague a taxa no balcão. A sauna é cobrada à parte;
- Entre no vestiário, tire toda a roupa e guarde-a;
- Leve uma pequena toalha para a área de banho;
- Lave-se bem sentado em um boxe com chuveiro;
- Enxágue todo o sabão antes de entrar na água;
- Nunca coloque a toalha dentro da piscina;
- Prenda os cabelos compridos;
- Se usar a sauna, enxágue-se de novo antes de voltar ao banho;
- Seque-se antes de retornar ao vestiário.
E, caso chegue de mãos vazias, não há problema: a maioria dos banhos fornece itens como xampu, sabonete e toalhas para aluguel.
“O mais importante”, reforça Crohin, “é não hesitar em puxar conversa. Mesmo com japonês básico ou gestos, as pessoas são gentis.”
Banho noturno
Foi exatamente o que descobri. Michiko me ajudou a pagar a entrada, cerca de 500 ienes (uns R$ 18). Guardamos os sapatos em um armário e trocamos por chinelos. Depois, passamos pela cortina vermelha noren marcada “mulheres” e entramos no vestiário.
Tirei as roupas e, nervosa, segurei uma toalhinha junto ao corpo. Na área de banho, mulheres estavam sentadas em banquinhos de plástico diante de espelhos, lavando o corpo, os cabelos, até limpando os ouvidos. Fiz o mesmo: lavei o corpo e o cabelo, espiando discretamente minhas vizinhas para conferir se fazia certo — e, claro, me perguntando se olhavam para mim.
Em seguida, fui até as piscinas termais. Sob o céu congelante da noite, com flocos de neve caindo, nos sentamos para relaxar. Mulheres e crianças conversavam sobre a vida, seus problemas e esperanças.
Aquela atmosfera tranquila ficou comigo. Hoje, sempre que viajo pelo Japão, uma visita às águas termais é parada obrigatória.
No fim das contas, realmente não havia motivo para tanta preocupação.



