Miniguia Manaus: 5 programas imperdíveis na porta de entrada da Amazônia

Capital do Amazonas reserva uma riqueza cultural imensurável, boa gastronomia, locais históricos e uma exuberante natureza. Confira um rápido guia do que ver e fazer na cidade

Saulo Tafarelodo Viagem & Gastronomia , Manaus

Estar em Manaus é ter a certeza de que se sentirá muitas coisas. Além do iminente calor físico, que faz o suor escorrer pela testa, a capital do Amazonas exala os sabores, saberes e aromas da Amazônia.

Com mais de 2,2 milhões de habitantes, Manaus é lar de alguns superlativos: está a poucos passos da maior floresta tropical do mundo, é banhada pelo maior rio em volume de água do mundo, o Amazonas, e possui a maior ponte estaiada do Brasil, a ponte Rio Negro, com 3,6 km sobre o curso d’água.

Entre os pontos turísticos, o centro histórico guarda riquezas que remetem aos tempos do auge do ciclo da borracha, como o emblemático Teatro Amazonas, além de outras construções do século XIX – que ganham vida agitada com seus bares durante as noites quentes.

Na culinária, tucumã, tucupi, tucunaré, pirarucu, taperebá, cupuaçu, tambaqui, pacovã… São frutos e peixes onipresentes nos restaurantes locais que ganham combinações e releituras deliciosas, dignas de pedir por mais.

A maioria dos alimentos também pode ser apreciada ou comprada nos mercados municipais, em que vendedores anunciam seus produtos nas portas dos boxes e vendem souvenirs da cidade.

Aspectos culturais, históricos, naturais e gastronômicos configuram o roteiro básico para vivenciar o básico da capital amazonense. A seguir, confira os principais programas em Manaus, entre o que ver, fazer e comer.

Lembrete: não se esqueça da câmera fotográfica, do filtro solar e de levar roupas leves.

1. Passear e comprar nos mercados municipais

É nos centros comerciais manauaras que se sente e se degusta um pouco mais dos aromas de peixes e dos frutos amazônicos.

Com 139 anos de história, o Mercado Municipal Adolpho Lisboa, o “mercadão” da cidade, tem um notável estilo art nouveau: de fora, a estrutura de ferro fundido chama atenção com um design que se assemelha ao de gaiolas.

Seu interior é dividido em seções, como de peixes, estiva e artesanato e hortifruti. Geleias, doces, cachaças, souvenirs dos mais variados e até língua de pirarucu seca (usada como ralador) podem ser encontrados pelos corredores cheios de boxes.

A apenas alguns passos do mercadão fica a Feira Manaus Moderna, centro comercial em que se pode encontrar uma maior variedade de peixes frescos de água doce – milhares deles ficam espalhados com gelo pelas bancadas de inox, prontos para serem limpos e cortados.

Entre os corredores, experimente lascas de tucumã das mãos dos vendedores e note a variedade de farinhas – a mais comum por ali é a ovinha, bem crocante, usada para rechear peixes ou como acompanhamento, fazer farofa e também cuscuz.

O tucupi, base do tacacá, é facilmente encontrado por ali, assim como o queijo coalho e a pimenta murupi. Nos boxes externos também é possível comer peixes “ticados”, como o matrinxã, em que se usa a técnica ancestral de quebrar as espinhas para facilitar o consumo, o que também ajuda a fazer os temperos penetrarem na carne.

Ambos mercados ficam no centro, logo às margens do rio Negro.

2. Descobrir o Centro Histórico

Tombado pelo Iphan em 2012 devido à importância das edificações do período áureo da borracha, que hoje estão ao lado de construções modernas, o centro é um local imperdível da cidade com seus aspectos simbólicos e artísticos.

Um bom começo é pelos arredores do Teatro Amazonas, logo em frente ao Largo de São Sebastião. Construído por 12 anos e finalizado em 1896, é uma das joias arquitetônicas e culturais mais imponentes não só da região, mas de todo o país. Guarda toda a pompa da elite da época pelo enriquecimento no auge do ciclo da borracha.

De corpo rosado em estilo neoclássico, seu exterior já rende lindas fotos. Preste atenção aos detalhes únicos da cúpula, composta por milhares de peças de escamas em cerâmica esmaltada vindas da Europa, com cores que remetem à bandeira brasileira.

Considerado um dos teatros mais belos do mundo, seu interior conta com 701 lugares e uma das referência do teto são as bases da torre Eiffel – é como se a plateia estivesse sentada debaixo da torre. O interior do teatro pode ser acessado mediante agendamento e, para visitantes não amazonenses, com o pagamento de uma taxa, contando com visita guiada.

Bem atrás do teatro fica outro endereço cultural, o Palácio da Justiça, de arquitetura clássica e exterior amarelado. Inaugurado em 1900, até 2006 servia como Sede do Poder Judiciário do Estado do Amazonas. Bem conservado, o local conta hoje com exposições temporárias no térreo e um acervo fixo no piso superior com objetos – e a história – de sua funcionalidade.

Há gabinete de leitura, tribunal do júri, hall e sala das becas (utilizada para troca das becas entre uma sessão e outra). Relógios estilo carrilhão preenchem os cômodos, como o que fica na escadaria principal – ali desde 1920 e com maquinaria da Suíça. Também é necessário agendamento para visitar o local.

A alguns passos do teatro, na rua 10 de Julho, fica a Igreja de São Sebastião, em frente ao largo de mesmo nome. Inaugurada em 1888, ela é de estilo eclético, de predominância gótica e neoclássica. Separado deste “quadrilátero”, o centro também guarda o Palácio Rio Negro, que foi sede do governo, residência do governador do estado e hoje funciona como um centro cultural.

Se de dia os arredores do teatro têm uma vibração cultural, durante à noite o entorno revela um agito social. Recheado de bares e restaurantes, as noites quentes do centro ganham adeptos da vida ao ar livre, como fazem os locais e turistas no animado Bar do Armando (também em frente ao largo na rua 10 de julho).

Seja dentro do salão com música ao vivo ao ritmo de samba e carimbó ou nas mesas de plástico na calçada e em parte da rua, é quase impossível não pedir uma cerveja gelada e se divertir na companhia de colegas.

3. Embarcar pelas águas do rio Negro

As águas caudalosas e escuras do rio Negro impressionam qualquer um. A bordo de uma embarcação (em que agências oferecem passeios pelo rio), é poético olhar para trás e ver Manaus se distanciando enquanto os raios solares se refletem no vai e vem da água.

Já no meio dele, a impressão é a de estar em mar aberto, devido à grandeza do rio. Cheio de vida, tomar um banho em suas águas é revigorante – e quente, devido ao fluxo lento do rio. E não se preocupe com os mosquitos: não há sinal deles por conta da forte acidez da água.

Alguns passeios levam os visitantes em locais menos movimentados até flutuantes que oferecem nado com botos-cor-de-rosa, os golfinhos fluviais. Caso opte pelo passeio, certifique-se que os animais estejam em seu habitat natural – dentro do rio e sem cativeiros – e que o objetivo seja apenas apreciá-los, sem tocá-los, alimentá-los ou interagir de alguma forma. Deve ser feito ao lado de um guia que utiliza peixes do próprio rio, sempre em silêncio e em grupos muito reduzidos. Também é possível ficar no deck e observá-los a uma certa distância.

No caminho é possível avistar e até passar por baixo da ponte Rio Negro, a maior ponte estaiada do Brasil, com 3,6 km, que já virou um cartão postal da cidade. Nas grandes colunas, dá até para ver a marcação da maior cheia do rio até o momento.

Um dos maiores símbolos regionais e atração turística emblemática, o Encontro das Águas é especial. É num ponto em frente a Manaus que as embarcações param bem em cima do encontro entre as águas escuras do rio Negro e as águas barrentas do rio Solimões, que ali não se misturam.

É como um beijo que levanta questões: há alguma divisória material entre os rios? Alguma barreira? A resposta para o fenômeno está nas diferenças entre a temperatura e a densidade das águas e a velocidade de suas correntezas. Mais do que saber, o ideal é estar ali para ver com os próprios olhos.

Com o calor de Manaus, uma praia cairia bem, certo? Pois a praia manauara fica em Ponta Negra, às margens do rio Negro. Ideal para dias quentes e também concorrida aos sábados, a Praia da Ponta Negra é equipada com calçadão, locais para comer e beber, mirante, lojas e áreas para esportes.

4. Comer em restaurantes locais emblemáticos

É claro que os sabores regionais estariam incluídos no roteiro básico por Manaus. Com uso de matérias-primas e ingredientes locais, que colocam uma parte da cultura amazônica no prato, restaurantes, bares e casas de comida fazem bonito na cena gastronômica da cidade. Entre uma refeição e outra, não se esqueça do suco de cupuaçu gelado!

Inaugurado há menos de um ano, o Biatüwi, casa de comida índigena, é imperdível. Localizado na região central, o local funciona junto do Bahserikowi – Centro de Medicina Indígena. De cozinha comandada por Clarinda Ramos, da etnia Sateré-mawé, é a primeira casa de comida indígena do Brasil e capitaneada por uma equipe formada por membros de duas etnias.

A casa funciona no almoço e tem de se experimentar a quinhapira de tambaqui ou matrinxã, com o peixe mergulhado num caldo apimentado com tucupi preto e sal acompanhado de formiga sahai (saúva) e uma fatia de beiju. O filé de tambaqui puquecado, assado na folha de cupuaçu ou de cacau e finalizado com formiga sahai, assim como a mujeca de matrinxã, um caldo apimentado engrossado com goma e peixe desfiado, são igualmente especiais.

Mesma profissional por trás da capacitação da equipe do Biatüwi, a chef Débora Shornik comanda ao lado do Teatro Amazonas o Caxiri. Azul por fora, o casarão tem mesas com vista privilegiada para o teatro, plantas suspensas no teto e paredes de tijolinhos aparentes – bem amplo e arejado. À mesa, criações que exaltam o melhor dos ingredientes amazônicos, como o xibé tropical, com farinha Uarini, abacaxi regional, linguiça curada, camarões na churrasqueira, pesto de jambu e tucupi agridoce.

A sardinha “ticada” forra bem o estômago, assim como a caponata com homus de feijão de praia, castanhas, ervas, chips coloridos e beiju de tapioca. O cupuaçu, fruto unânime nos cardápios da cidade, aparece na versão da piña colada com polpa de cacau, gin, e calda de cumaru, finalizado com puxuri. No almoço ou no jantar, a dica é encerrar com a surpresa de tucupi: sorvete de castanha do Brasil, compota de cubiu, praliné de castanha e calda de tucupi negro.

Ideal para o almoço e também logo ao lado do Teatro Amazonas, na lateral oposta ao do Caxiri, o Tambaqui de Banda conta com áreas internas e externas agradáveis. Sob comando da chef Elisângela Valle, as entradinhas variam entre rolinhos de banana pacovã frita de pirarucu seco com cream cheese e isca crocante de pirarucu. O prato que leva o nome do restaurante é igualmente delicioso, sem espinhas e acompanha baião de dois, assim como a moqueca de caboca, com pirarucu e vegetais regionais – servido numa base alta com folha de bananeira.

Famoso no circuito gastronômico, o Banzeiro, restaurante de Felipe Schaedler que também possui uma unidade em São Paulo, é ótimo para o jantar. Uma canoa de madeira na parede e uma ilustração de um peixe regional evidenciam a cultura nortista e dos povos indígenas que será experimentada no prato.

A casa serve a famosa costelinha de tambaqui com barbecue e farinha Uarini e a formiga saúva (com gostinho de capim limão) na espuma de mandioquinha. Entre os principais, o tambaqui na crosta de castanha e banana assada ou o pirarucu grelhado coberto com banana pacovã e queijo coalho são pedidas certeiras. O mousse de cupuaçu com recheio de brigadeiro e base de bolo de amêndoas junto do picolé de açaí arrematam o pedido. Vale ressaltar que a carta de drinks é super-refrescante, com coquetéis de nomes manauaras e amazônicos.

Para quem gosta da culinária japonesa, o Shin Suzuran, do chef Hiroya Takano, faz releituras interessantes de pratos com peixes de água doce regionais. Os peixes amazônicos, como o tucunaré, são transformados em sushis e sashimis. Ele também introduziu a vitória régia no cardápio, como a entradinha de sunomono de vitória régia com lichia. As PANCs (plantas alimentícias não convencionais) também se fazem presentes, como o tempurá de urtiga.

Fora da rota, vale o Tacacá da Tia Socorro, no bairro Parque 10 de Novembro. Entre as comidinhas há unha de caranguejo, farofa de camarão e, claro, o tacacá, preparado com tucupi, goma de mandioca, jambu, chicória e camarão seco. Para um café da manhã mais “raiz”, vendinhas na Feira do Parque 10 vendem o tradicional x-caboquinho: pão recheado de queijo coalho, tucumã e banana pacovã frita – uma iguaria amazonense.

5. Ter um gostinho da floresta sem sair da cidade

musa museu da amazonia
O MUSA é um museu vivo que fica em 100 hectares de uma reserva florestal nos limites de Manaus/Foto: Mário Oliveira – MTur

E que tal ter um gostinho da Amazônia sem ter de sair dos limites da cidade para apreciar a floresta? É o que oferece o MUSA – Museu da Amazônia, que ocupa 100 hectares de uma reserva florestal do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA).

Com objetivo de promover o convívio das pessoas com a diversidade cultural, biológica, social e política da bacia amazônica, o local funciona como um museu vivo. Lá encontram-se exposições, lago, aquário, viveiros de plantas, laboratórios de serpentes, de insetos e de borboletas.

Há também trilhas na floresta e uma torre de 42 metros que permite uma visão das árvores da floresta. A entrada é paga e a visita guiada deve ser feita mediante agendamento.


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