O que visitar em Brasília, a capital do país
Por Marcella Oliveira
Quando Renato Russo, na música Faroeste Caboclo, disse que o personagem João de Santo Cristo estava indo para Brasília, afirmou: “nesse país lugar melhor não há”. Mas a cidade, que neste domingo (21) completa 59 anos, não tem uma fama muito boa por aí. Não é culpa dela nem do povo que aqui habita, mas sim da corrupção e tudo mais o que acontece na política. E ela ainda é diferentona, tem uma arquitetura única, coisa que muita gente não entende.“Vocês vão ver os palácios de Brasília, deles podem gostar ou não, mas nunca vão dizer terem visto antes coisa parecida”, costumava dizer o arquiteto Oscar Niemeyer, responsável pelas nossas principais obras
Temos um ponto negativo: o transporte público não funciona muito bem e a cidade, em sua maior parte, não é convidativa a andar a pé. Portanto, a melhor forma de circular por aqui é de carro (os aplicativos funcionam muito bem).
Para contrapor com o frio do concreto da sua arquitetura, a cidade construída em mil dias em um plano ousado de Juscelino Kubitscheck tem muita gente bacana que dá vida e faz o centro do país pulsar. Eu, como brasiliense, convido vocês a visitarem a cidade. O passeio vai até incluir uma volta na Esplanada dos Ministérios e na Praça dos Três Poderes e todo aquele tradicional e essencial turismo cívico para se conhecer na capital. Mas tem outras dicas – e teriam outras milhares. Espero que se encantem e saiam daqui, continuando a citar a letra de Renato Russo, com o pensamento: “Meu Deus, mas que cidade linda”. Sejam bem-vindos à capital da República.
Turismo cívico
Ok, impossível fugir do clichê. E ele é muito bonito aqui. Comece pela Praça dos Três Poderes, que fica no fim da Esplanada dos Ministérios. Lá, você verá os prédios que representam o Legislativo (Congresso Nacional), Executivo (Palácio do Planalto) e Judiciário (Supremo Tribunal Federal). Mas o que mais amo lá é a escultura Dois Candangos ou Dois Guerreiros, de Bruno Giorgi. Ela homenageia dois jovens trabalhadores que morreram soterrados na época da construção. O Congresso Nacional, que abriga a Câmara e o Senado, pode ser visitado, e é cheio de obras de arte e tem uma arquitetura muito interessante. De lá, você pode seguir – de carro – até o Palácio da Alvorada, a residência oficial do presidente. Ele é aberto a visitas em dias específicos, você pode ver no site. É a história do nosso país contada ali.
Quando desenhou a principal igreja de Brasília, Niemeyer criou 16 colunas de concretos que se encontram no topo, em uma ideia de representação a duas mãos juntas. O engenheiro precisou rebolar para tirar do papel aquela ideia. Ela fica completa com os coloridos vitrais da artista Mariane Peretti. E pensar que para desenhá-los ela espalhou papéis no chão do ginásio e ficava subindo e descendo as arquibancadas para ter uma visão ampla de como estava ficando… O feito resultou em um problema crônico na coluna da artista que a acompanha até hoje, do alto dos seus 91 anos. Antes de entrar na igreja, você passará por um túnel escuro e depois estará em um clarão com pé direito alto. Os raios de sol atravessam os vitrais. A ideia de Niemeyer era passar o sentimento religioso de quando entra em uma igreja, ou seja, sair do escuro. E, acreditem, ele era ateu. Olhando para cima, os três anjos de Alfredo Ceschiatti, suspensos por cabos de aço. Uma brincadeira que aprendemos quando criança é nos posicionarmos nas pontas das paredes e cochichar para que a pessoa do outro lado escute. Isso é possível pelo formato curvo delas. Muito legal.
Peixe vivo
Meu lugar preferido é o Memorial JK. O prédio também foi projetado por Niemeyer, inaugurado em 1981. De longe, se avista uma escultura de Juscelino acenando com a mão direita. Gosto de pensar que ele está abençoando a cidade, já que de lá você consegue observar boa parte dela. O museu conta a história da trajetória do político, com exposição de objetos, fotos e vídeos que envolvem e mostram a ousadia da ideia. É lá também que estão os restos mortais de JK. Logo atrás ao museu fica a Praça do Cruzeiro. É o ponto mais alto do DF, 1.172 metros acima do nível do mar. Foi o primeiro lugar que JK visitou quando chegou ao árido Cerrado antes de iniciar a construção da cidade. E era lá que ele incontáveis vezes levou os incrédulos e admiradores para mostrar onde seria a nova capital do Brasil. A praça foi palco da primeira missa celebrada em Brasília, em 3 de maio de 1957. Hoje, recebe eventualmente encontro de food trucks e a concentração de bloquinhos de Carnaval. Mas um grande espetáculo pode ser visto todos os dias: o pôr do sol mais bonito da cidade.
Tudo junto e misturado
Uma cidade tão jovem ainda tem sua população em formação. Hoje, 50% dos 3 milhões de habitantes já nasceram em Brasília. Mas a verdade é que o Brasil ajudou a compor nossa cultura. E um lugar para ver um pouco disso de perto é a Feira da Torre de TV, localizada no centro da cidade. Ela funciona aos sábados, domingos e feriados, quando os sotaques se misturam, os sabores de Norte ao Sul podem ser degustados e o artesanato brasileiro pode ser adquirido.
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Surfista do Lago Paranoá
Os brasilienses sempre brincam: “JK esqueceu do mar”. Porque como temos uma cidade com prédios baixos, a visão do horizonte é ampla e o nosso céu é único. Arrisco a dizer que é o mais bonito do Brasil, puxando sardinha pro nosso lado. E se estiver na cidade em um dia de sol, uma forma deliciosa de curtir é em um passeio de barco. Temos a terceira maior frota náutica do país, mesmo sem praia nem mar. Incrível, né? Se quiser só curtir o visual, pode ir no Pontão do Lago Sul ou na Ermida Dom Bosco. Mas sugiro o passeio de barco com o pessoal da empresa Mar de Brasília. Eles funcionam nos fins de semana e você pode conhecer de um outro ângulo a capital.
Onde ficar
Por ser uma cidade política, Brasília tem muitos hotéis, que ficam mais cheios durante a semana do que nos finais de semana. Na área central temos o Setor Hoteleiro Sul e o Setor Hoteleiro Norte, onde você estará bem localizado. O queridinho do momento é o BHotel. Ele fica em uma posição estratégica do lado norte do Eixo Monumental. Ele é a cara de Brasília: moderno, discreto, arquitetônico. No rooftop tem um bar muito legal, ao lado de uma piscina amarela totalmente diferente. E a vista é para o Estádio Nacional Mané Garrincha, para a Torre de TV e para toda a parte de cima da área central. E, mais uma vez, o ponto alto do local é o momento do pôr do sol. Mas se você é mais nostálgico e quer entrar de alma na cidade, que tal ficar no primeiro hotel, inaugurado antes mesmo da capital ficar pronta? O Brasília Palace Hotel fica perto da casa do presidente – o Palácio da Alvorada -, mais afastado do centro, mas o terreno é beira-lago, com piscina, uma linda árvore gameleira e painéis de Athos Bulcão. Lá você ainda encontra exposto o carro em que JK deu sua última volta em Brasília.
Natureza
Um passeio lindo é pelo Jardim Botânico, localizado no Lago Sul. E aos sábados e domingos você ainda pode tomar café da manhã lá – tipo um piquenique. As mesinhas são dispostas no chão, um programa típico brasiliense. Outra forma de passear em meio à natureza é no Parque da Cidade. São 4,2 milhões de metros quadrados bem no coração de Brasília. É onde Eduardo e Mônica se encontraram – quem lembra da música do Legião Urbana?
Nas telonas
Aqui em Brasília nós temos o último cinema no estilo Drive-in da América Latina. Ele completou 45 anos de funcionamento no ano passado. Normalmente são três sessões por dia, uma infantil e duas de filmes do momento. Você pode entrar para um e ficar até o último. Crianças adoram, especialmente porque podem sair dos carros, sentar no capô… e ainda tem aquele charme de acender o farol baixo e vir o garçom com as opções para saborear durante o filme. Uma experiência superdiferente nos dias de hoje. Por falar em cinema, quem gosta de cinema alternativo tem que ficar de olho na programação do Cine Brasília. Ah, e se for em setembro, participe do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, um dos mais tradicionais do país e que reúne a classe por uma semana de pura imersão na Sétima Arte.
Arte por toda parte
Nossa principal casa de espetáculos, o Teatro Nacional Cláudio Santoro infelizmente está fechado há cinco anos por problemas na estrutura. Então fica para a próxima você conhecê-lo. Mas há o Museu da República do outro lado da rua, no formato de uma bola, ele é curioso pela arquitetura. Tem ainda o Espaço Cultural Renato Russo, reaberto no ano passado e cheio de coisa legal acontecendo por lá.
Como no interior
Seja para um café da manhã ou lanche da tarde, não deixe de conhecer o Café e um Chêro, um charmoso café com unidades na 109 Norte e na 107 Sul. Todo o cardápio é incrível, mas o pão com carne de panela… hummm… ou a tapioca invertida com carne de panela e banana frita. Se quiser um docinho, peça o bolo de banana com calda de doce de leite à parte, que você joga por cima na hora de comer. O clima do lugar é bem caseiro, com direito até a água servida no filtro de barro e mantinhas para aquecer do frio.
Sabor brasiliense
Como por aqui houve uma mistura de tudo um pouco, não temos bem uma comida típica. Mas algo muito tradicional é a Pizzaria Dom Bosco, uma massa diferente (meio tipo pão) com molho e muçarela. Apenas essa opção de recheio. Os brasilienses gostam de comer a dupla, ou seja, uma em cima da outra. São várias casas espalhadas pela cidade, mas o primeiro e original é da 107 Sul. E depois ainda vale uma visita à Igrejinha Nossa Senhora de Fátima, uma outra obra de Niemeyer, dessa vez mais modesta, pequena, no formato do chapéu de freira. Do lado de fora, azulejos de Athos Bulcão, que representam a Cruz e a pomba do Espírito Santo. Aliás, vale uma visita à Fundação Athos Bulcão, que fica na 405 Sul e tem muitas lembranças a cara de Brasília para você levar para casa.
Chef local
Apesar de não termos especificamente uma comida típica, nosso polo gastronômico é grande e variado. Se quiser conhecer um chef local a dica é ir ao restaurante Bloco C. Localizado na 211 Sul, sob o comando do gaúcho de coração brasiliense Marcelo Petrarca, o carro-chefe da casa é o filé com risoto de grana padano e rapadura. Mas a melhor parte é a sobremesa: um churros de banana coberto com brigadeiro de leite ninho e com doce de leite. Além disso, a decoração tem a cara de Brasília, com muito concreto e azulejos de Athos Bulcão.
Burger day
A opção para um lanche mais rápido é saborear um hambúrguer brasiliense. No estilo americano tem a Páprica Burger, com três unidades – 205 Norte, Setor Hoteleiro Sul e Águas Claras. Experimente o tradicional, de Black Angus com queijo minas, cebola caramelizada, bacon e salada. Outra hamburgueria nativa é o Ricco Burger, na 306 Sul. Destaque para o Blend Passion, carne Beef Passion, maionese da casa trufada, chips de parma, telha de parmesão e ruculetas. E não deixe de tomar o milkshake de bolo da Ivone. Aliás, o Bolo da Ivone é vendido em vários lugares da cidade, ele é de chocolate e será o melhor bolo que você já comeu na vida.
Sobre Marcella Oliveira
Marcella Oliveira é formada em Comunicação Social – Jornalismo, com pós-graduação em Ciência Política. Atua como jornalista há 15 anos, tendo passado por redações como Jornal de Brasília e TV Record, além de assessorias de imprensa. Desde 2012 é editora-chefe da revista GPS|Lifetime e foi editora da revista GPS|Miami. Brasiliense, é apaixonada por Brasília, Oscar Niemeyer e JK. O que mais gosta de fazer na vida é viajar e comer bem.