Impasse comercial trava negociações de acordo entre Mercosul e UE
Américo Martins, no CNN Novo Dia, destaca a pressão de parte dos países integrantes da União Europeia e das suas populações contra a aprovação do acordo
O acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia, previsto para ser assinado no próximo sábado (20), enfrenta um sério impasse comercial devido às salvaguardas impostas pelos europeus. Informações são de Américo Martins no CNN Novo Dia.
"São 25 anos, mais de um quarto de século de conversas entre esses dois blocos comerciais sobre este acordo", destaca o analista de Internacional da CNN. "Criaria uma grande área de livre comércio com mais de 700 milhões de pessoas, ou seja, há um potencial muito grande".
Um dos principais entraves foi parcialmente superado ontem, quando o Parlamento Europeu votou e aprovou salvaguardas para proteger o agronegócio europeu. Essas medidas, no entanto, são mais rigorosas do que as inicialmente propostas pela Comissão Europeia e visam proteger os produtores locais da concorrência com o agronegócio do Mercosul, especialmente o brasileiro, considerado mais competitivo.
Resistência europeia e protestos
A situação é agravada pela forte oposição de países como França e Polônia. A França tenta bloquear a votação prevista para amanhã no Conselho Europeu, que reúne os chefes de Estado dos 27 países membros da União Europeia. "Ainda temos muitos entraves", explica Américo. "A maior parte desses países tem que aprovar, e precisam ter em conjunto 75% da população do bloco apoiando o acordo".
A Itália, um dos países mais populosos e, por isso, com peso significativo no Conselho, ainda não tem posição definida. Além disso, agricultores franceses, belgas, holandeses e de outros países europeus planejam grandes protestos em Bruxelas para pressionar contra a aprovação do acordo. Além disso, alguns membros do Parlamento Europeu ameaçam recorrer à justiça europeia para adiar o processo, mesmo que o acordo seja assinado no sábado.
Reação do setor produtivo brasileiro
No Brasil, a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) já se manifestou, afirmando que, caso o acordo entre os blocos entre em vigor com salvaguardas que impeçam o livre comércio, os países sul-americanos devem responder com reciprocidade. As restrições europeias afetariam principalmente a exportação de carnes, aves e açúcar brasileiros.
"Muitos países adotam uma postura protecionista quando o acordo seria muito importante para os dois lados. A indústria da Europa se beneficiaria muito", avalia Américo. "Este pode ser um grave golpe contra o livre mercado se isso não for para a frente".


