Desistência do Renda Brasil traz impacto político a Bolsonaro, diz economista
Alexandre Schwartsman ressaltou, no entanto, que a criação do programa de renda seria complicada no cenário orçamentário atual do país.
O governo federal desistiu nesta terça-feira (15) de criar o programa Renda Brasil. O próprio presidente Jair Bolsonaro (sem partido) confirmou a decisão através de um vídeo nas redes sociais.
Para o economista Alexandre Schwartsman, o descarte dos planos de criar o programa causa mais impacto político do que econômico, principalmente para Bolsonaro.
"A consequência vai ser muito mais do ponto de vista político. Não tem nenhuma correspondência nos fatos de que [criar o programa] iria ter um impacto enorme sobre o crescimento [da economia]", disse Schwartsman, que é ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central.
"Vai ter impacto político sobre o presidente, que estava contando com alguma coisa nessa linha, porque o programa do auxílio emergencial termina no final do ano", acrescentou.
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Para ele, o auxílio emergencial explicam uma alta na popularidade do presidente durante os primeiros meses da pandemia da Covid-19.
"Do ponto de vista político, as políticas de transferência de renda tiveram um impacto importante para explicar a popularidade do presidente nesses meses. No momento em que ele não conseguir repor e isso sair de pauta, vai ter impacto. Bolsonaro vai sentir, de fato, saudades daquilo que não viveu", acrescentou.
Schwartsman ressaltou, no entanto, que a criação do programa de renda seria complicada no cenário orçamentário atual do país.
"Seria importante para manter o apoio político, mas estava difícil contar com algo devido à forma como as coisas funcionam no Brasil, como o teto de gastos", exemplificou ele.
"No Brasil, 94% das despesas já têm dono antes de começar a fazer o Orçamento", avaliou.
"O gasto público, propriamente dito, permaneceria constante e se faria uma dança das cadeiras para viabilizar isso. Mas fazer essa dança no orçamento brasileiro é complicado, porque ele é totalmente engessado", considerou.
Para além do Orçamento, o economista ainda avaliou que outro impedimento ao Renda Brasil é o próprio comprometimento de Bolsonaro com o ministro da Economia, Paulo Guedes.
"Lealdade que Bolsonaro tem com Guedes vai ficando cada dia menor até o momento em que ele colocará na balança o futuro político e Guedes. Não tenho dúvida do que vai pesar mais", concluiu.
(Edição: Sinara Peixoto)