Casal abriga entregadora por cinco dias após carro ficar preso em nevasca
Clima extremo no Texas fez com que carro de Chelsea Timmons derrapasse no gelo e parasse na floreira de um casal hospitaleiro

Quando o carro de uma entregadora começou a derrapar na entrada de uma garagem cheia de gelo no Texas, a motorista fechou os olhos e rezou para não bater na casa dos clientes.
Ela não acertou a casa, mas o carro de Chelsea Timmons bateu contra uma floreira do lado de fora de uma casa em Austin, no Texas, estado que ficou paralisado por uma nevasca no último domingo. Ela ainda não sabia, mas ela ficaria muito grata em breve por ficar nesta garagem em particular.
Os donos da casa, Doug Condon e Nina Richardson, foram até Timmons para tentar ajudá-la a sair do local, mas o Toyota Rav4 dela ficou preso. Eles a convidaram para esperar o guincho dentro da casa deles.
"Eu sou extremamente sortuda que esse tenha sido o lugar em que o meu carro bateu", disse Timmons à CNN. "Foi na floreira deles. Não foi numa sarjeta, no acostamento de uma estrada... eu fiquei presa em um lugar seguro e quente".
O clima ruim persistiu por muito mais tempo do que qualquer um deles pensou. Cinco dias depois, Timmons ainda estava junto do casal.
Desde o último domingo, o Texas tem passado por uma forte nevasca, que deixou cidades sem energia elétrica, água e aquecimento para milhões de pessoas que não estão acostumadas a esse tipo de frio.
Entre os contos de pessoas lutando para sobreviver, algumas histórias esperançosas mostram que a hospitalidade texana é para valer.
Timmons, que mora a três horas de Houston, diz que faz viagens semanais a Austin porque o mercado de entregas paga um pouco mais lá. A mulher de 32 anos pegou uma última entrega no domingo conforme a neve engrossava, pensando que daria tempo para chegar em casa.
Esperando por um guincho que nunca veio
Ela teve dificuldade para chegar a essa vizinhança montanhosa por volta do meio-dia para entregar compras de mercado, que já estavam atrasadas por um dia e incluíam bifes para o jantar planejado pelo casal para o Valentine's Day [dia dos namorados nos EUA, comemorado em 14 de fevereiro].
"Eu estava descendo muito devagar, pisando bem no freio", disse Timmons, da casa de seus anfitriões em Austin. "Eu pisei mais agressivamente e o carro continuava deslizando. Meu coração acelerou quando o carro começou a escorregar na direção da casa deles e eu só fechei meus olhos e rezei para não acertar a casa dessas pessoas, para eu não estragar meu carro. Eu sabia que, definitivamente, se eu batesse contra a casa deles, lá ia a minha gorjeta".
Ela enviou uma mensagem para o casal para avisar que estava lá com a compra deles e que estava presa.
Condon foi para fora e tentou empurrar o carro para dentro da garagem. Timmons disse que tentou esperar dentro do carro e chamar por um guincho, mas Condon a convidou para entrar.

"Eles me convidaram para entrar e, nessa hora, eu estava me sentindo muito estranha de entrar na casa de estranhos. Mas eles foram supergentis", contou. "Quando eles me convidaram, eu fiquei de máscara na cozinha deles por cerca de duas horas".
Ela continuou a ligar para receber atualizações do guincho e foi para o carro dela esperar. Algumas horas depois, o serviço de guincho disse que não conseguiria chegar àquela área por conta da nevasca, contou.
"Assim que descobrimos que o guincho não poderia vir e que as condições estavam piorando, pareceu até bobo imaginar que ela iria para um hotel", disse Richardson. "Isso nem nos ocorreu".
Richard e Condon tinham acabado de receber a primerira dose da vacina contra Covid-19 uma semana antes. O casal disse que não deixaria Timmons ficar do lado de fora, no frio.
O dia virou noite e, logo, era a hora do jantar. Era o Valentine's Day e o casal preparou bifes com gorgonzola, brócolis e uma salda. Era uma refeição muito melhor do que Timmons esperava ter naquela noite, disse ela.
"Não era assim que eu esperava que o meu Valentine's Day seria", riu Timmons. "Tivemos um jantar ótimo e eu estava sentada, quentinha, alimentada e era incrível pensar que eu ficaria ali por um dia, mas aqui estou eu, no quinto dia".
Nesse meio tempo, Timmons ficou sabendo que no apartamento dela, em Houston, a energia elétrica havia acabado. Se ela tivesse conseguido chegar em casa, ela só ficaria lá sem energia.
Todos os dias, eles acompanhavam o clima e Timmons e Condon tentavam desenterrar o carro. Eles tiraram a neve de uma parte da garagem e tentaram levantá-lo, pouco a pouco.
"Estávamos usando uma vassoura e uma pá para tentar limpar a entrada da garagem o melhor que podíamos", disse Condon. "Pensamos ter limpado o suficiente para que ela pudesse sair. Ela conseguiu ir até a metade do caminho e ficou presa de novo".
Ela tentou ir, mas os anfitriões insistiram que ficasse
Toda vez que Timmons sugeria ir embora e ficar em um hotel em qualquer lugar, o casal se preocupava com a situação em que ela ficaria.
"'Nosso quarto de hóspedes é melhor do que o das pousadas'", Timmons disse que o casal falava. "'Se você for embora, o que vai comer? Tem certeza que vai conseguir chegar até lá?'"
Conforme os dias passaram, o grupo ficou próximo e pareceu que Timmons era uma hóspede ficando no quarto extra do casal.
"Tivemos uma semana animada com o clima louco e uma hóspede surpresa, o que acabou sendo uma experiência agradável", contou Condon.
Os cachorros do casal, Crosby e Haddie, rapidamente começaram a sentar no colo de Timmons e ficarem próximos dela.
"Ela só se tornou parte da família muito rapidamente", disse Richardson.

Timmons ajudou o casal a cozinhar e ela preparou um bolo de coco para agradecer a eles.
Condon e Richardson dizem esperar que outros tenham feito o mesmo para estranhos que precisavam de ajuda.
"Esperamos que se nossas filhas estivessem na mesma situação que Chelsea, que houvesse alguém que as tratasse assim", disse. "Acho que nem pensamos duas vezes sobre isso".
O casal e Timmons disseram que planejam manter contato. Na sexta (19), o clima arrefeceu e Timmons conseguiu chegar em casa em segurança em Houston, num dia ensolarado e com as estradas limpas.
"Estou tão grata que eles não deixaram uma completa estranha entrar na casa deles no meio de uma pandemia, no meio de uma nevasca... sem nem hesitar", disse ela. "Eles só abriram as portas, abriram a casa deles e disseram, 'Entre e relaxe'".
"Eu estou muito agradecida a eles e muito feliz que era aqui que eu estava, de todas as garagens do mundo", afirmou.

(Texto traduzido, leia o original em inglês)