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    Colombiana é guardiã da maior coleção de borboletas do mundo

    Curadora no Museu de História Natural de Londres, Blanca Huertas é responsável por cerca de 40.000 caixas com borboletas dentro

    Melissa Velásquez Loaizada CNN*

    Borboletas. A paixão de Blanca Huertas são as borboletas. Ela afirma ser “fascinada” por elas, porque por trás de cada espécie existe uma história diferente.

    Não são poucas histórias, porque no mundo existem 20.000 espécies de borboletas. Existem as amarelas, pretas, marrons, azuis com verde, violetas, pretas com laranja e qualquer combinação que se possa imaginar. Existem grandes, médias, pequenas, minúsculas. Elas são infinitas.

    Uma pequena parte dessa infinidade de lepidópteros — como essa espécie é cientificamente chamada — está no Museu de História Natural de Londres. E elas estão a cargo de Blanca Huertas, a guardiã da maior e mais antiga coleção de borboletas do mundo.

    Blanca Huertas é colombiana. Ela nasceu em Bogotá e sua paixão por borboletas começou desde muito jovem. Ela conta que quando era criança saía com a família para passear no campo e lá teve os primeiros encontros com esses animais.

    “Sempre fomos uma família muito camponesa caminhando nas montanhas, visitando áreas quentes da Colômbia. Obviamente, isso influenciou muito meu gosto por borboletas”, disse Huertas à CNN.

    Então ela decidiu estudar Biologia e se especializar em Gestão Ambiental e Educação em duas universidades públicas de Bogotá há 20 anos. Em princípio, diz ela, teve que fazer suas próprias malhas, usar muitas “bugigangas” para pegar borboletas e usar materiais domésticos, “todos muito feitos à mão”, explica ela, para estudar esses insetos.

    “Se eu coletasse 2 mil outros insetos na universidade, por exemplo, teria que escrever à mão a cada etiqueta de cada uma dessas espécies”, lembra.

    Depois de fazer um mestrado em Sistemática e Biodiversidade no Imperial College de Londres, e depois um PhD no University College of London, Huertas disse que o mais importante é o mundo que se abriu para ela com o estudo desses animais. Ela explica que, olhando para eles de perto, pode-se entender a evolução, a ecologia, a conservação e até as mudanças climáticas.

    Segundo ela, são animais bastante simples — “são quatro asas, duas antenas” — mas o que a fascina é o universo e a diversidade que existe em uma pequena comunidade de borboletas que voam juntas no mesmo lugar, embora nenhuma seja igual a outra.

    “Por que gosto tanto das borboletas? Obviamente, elas chamam a atenção pela beleza e pela fragilidade que têm, pela complexidade”, diz. “Elas são muito interessantes para entender a diversidade do mundo. Por trás de toda a história das borboletas, é possível entender todos os problemas e questões da biologia”.

    Mas nem tudo que está relacionado a eles é tão elegante quanto sua aparência.

    “As borboletas são lindas, são muito elegantes, mas tem borboletas que se alimentam, por exemplo, de excrementos. Isso é uma coisa que choca as pessoas”, diz. “Existem [também borboletas que] comem peixes, peixes mortos em rios… não apenas o doce néctar das flores.”

    A curadora da maior e mais antiga coleção de borboletas

    Blanca Huertas — conhecida como ‘Madame Butterfly’, ‘Dra. Butterfly’, ou a ‘Guardiã das Borboletas’ — trabalha no Museu de História Natural de Londres há 15 anos.

    “Obviamente, conseguir esse cargo tem sido o sonho de quem estuda borboletas”, diz ela, sorrindo, orgulhosa de ser a guardiã de tal coleção e também de ser uma das poucas latinas que ali trabalha.

    Atrás dela, ela aponta para armários gigantes contendo cinco milhões de cópias de borboletas de todo o mundo. Cerca de 40.000 caixas — que devem ser mantidas a cerca de 14 graus Celsius para evitar que as borboletas sejam danificadas — que ela estuda metodicamente para descobrir coisas novas de vez em quando. Não é à toa: esta coleção tem borboletas coletadas desde 1600 até o presente.

    “Sempre que abro uma caixa me distraio ou encontro algo novo, uma nova espécie, algo raro, algo que nunca tinha visto antes. Então é fascinante trabalhar na coleção, mas também é fascinante, como eu dizia, conhecer outros cientistas, ouvir seus trabalhos, ajudar em seus trabalhos”, diz ela sorrindo. Sempre sorrindo.

    Mas também sempre “atrás das rosas há espinhos”, diz ao falar das dificuldades do seu trabalho. Segundo ela, é uma tarefa que nunca acaba, pois seus projetos, por menores que sejam, levam meses para serem concluídos.

    O estudo das borboletas ainda tem um longo caminho a percorrer, porque embora sejam espécimes tão “carismáticos”, como Huertas os descreve, existem milhões e milhões para estudar. Tanto que não existe uma lista consolidada de borboletas no mundo, e os exemplares que guardam no museu são apenas parte da grande diversidade do mundo.

    “Essa coleção é tão grande que tudo que você faz vai demorar muito, é preciso muito esforço, muito trabalho”, diz. “Então você pode ficar aqui todos os dias se quiser, mas sempre fica com aquela sensação de que não terminou as coisas… coisas importantes.”

    Colômbia, o país com mais espécies de borboletas do mundo

    Não é por acaso que Huertas, nascida na Colômbia, desenvolveu seu amor e as primeiras pesquisas pelos lepidópteros em seu país natal, por ser o país com maior diversidade de borboletas do mundo.

    A Colômbia tem 3.642 espécies e 20.085 subespécies de borboletas, o que a torna dona de 20% de todas as espécies desses animais no planeta, segundo estudo publicado em junho deste ano pelo Museu de História Natural de Londres.

    “A fauna de borboletas da Colômbia é uma das mais diversificadas e possivelmente a mais complexa de qualquer país do planeta”, diz a introdução do livro “Mariposas de Colombia. Lista de chequeo”, onde foi capturado o trabalho titânico de estudar esta espécie na Colômbia.

    “Na Colômbia, nem sabíamos exatamente quais espécies de borboletas voavam até publicar o livro este ano”, disse Huertas à CNN.

    “Agora que temos essa informação podemos ver quais estão extintos ou quais não estão mais em seus habitats naturais neste ponto da história.”

    Para colocar a Colômbia em perspectiva como líder mundial em borboletas, podemos compará-la com o número de espécies encontradas em outros lugares. Por exemplo, 496 espécies foram encontradas na Europa e 4.000 em todo o continente africano. Só na Colômbia existem pouco mais de 3.600 espécies de borboletas.

    “Mais de 200 espécies de borboletas na lista de verificação são exclusivas da Colômbia e não são encontradas em nenhum outro lugar do mundo, então, se as perdermos, não haverá população de reserva e elas desaparecerão para sempre”, disse Huertas.

    Mas os problemas ambientais também os colocam em perigo, de acordo com Huertas.

    “A região onde temos mais problemas com desmatamento, com falta de capacidade para estudar as espécies, é onde temos a maior diversidade”, diz o especialista.

    As borboletas amarelas de Gabriel García Márquez

    Esses insetos também fazem parte da cultura literária do país. As borboletas amarelas são uma figura associada ao vencedor do Prêmio Nobel de Literatura da Colômbia, Gabriel García Márquez, que em seu livro Cem Anos de Solidão as imortalizou como um símbolo do realismo mágico com que definiu a Colômbia.

    Este ano, Huertas e um grupo de pesquisadores encontraram uma borboleta amarela que foi descoberta em 1800 na Sierra Nevada de Santa Marta. Este espécime viveu apenas por quase 100 anos — 99 exatamente — na coleção do Museu de História Natural de Londres.

    O artigo sobre a descoberta deste espécime tem o seguinte nome: Cem Anos de Solidão: A Redescoberta da Catasticta lycurgus, uma borboleta amarela da Sierra Nevada de Santa Marta. Isso em homenagem às borboletas amarelas e García Márquez.

    Um grupo de pesquisadores foi procurar essa espécie na serra colombiana e a encontrou: “É uma boa notícia. Essa borboleta é rara, mas não está extinta”.

    Por enquanto, Blanca Huertas continua em seu trabalho titânico de conservação e estudo de borboletas e convida o público a visitar essas exposições.

    “Se não há público, não há interesse, e é muito importante que o cidadão comum também se interesse pelas borboletas porque elas são muito importantes para o ecossistema”, destaca.

    * (Texto traduzido. Clique aqui para ler o original).

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