Como são calculadas as baixas nas forças russas na guerra com a Ucrânia
Número tem sido computado a partir de relatórios com código aberto de organizações não governamentais, do governo ucraniano, de imagens de satélite e de comunicações russas interceptadas

Milhares de soldados russos morreram na Ucrânia desde que a invasão da Ucrânia pela Rússia começou há quase um mês, segundo representantes dos EUA e da Otan disseram à CNN esta semana.
Agora, a Rússia se esforça para realimentar essas forças à medida que se defronta com o moral militar abalado e uma resistência ucraniana feroz.
A ofensiva da Rússia para capturar Kiev está estagnada em grande parte, como contaram as fontes da Otan. Na quinta-feira (17), a Ucrânia disse que lançou uma contraofensiva destinada a ganhar o controle decisivo dos subúrbios da cidade.
As avaliações dos serviços de inteligência dos EUA e dos aliados variam muito sobre quantos das forças russas foram mortos até agora. Entretanto, mesmo as estimativas mais baixas estão nos milhares.
Uma dessas avaliações verificou que cerca de sete mil militares russos morreram até agora, disse uma das fontes. Mas esse número, como revelado em primeira mão pelo jornal “The New York Times”, está no extremo mais elevado das estimativas americanas, que variam porque os EUA e seus aliados não têm uma forma precisa de contar vítimas.
Algumas estimativas colocam o número de militares russos mortos na Ucrânia em cerca de três mil, enquanto outras sugerem que mais de dez mil.
Até agora, o número foi calculado em grande parte a partir de relatórios com código aberto provenientes de organizações não governamentais, do governo ucraniano, de imagens de satélite comerciais e de comunicações russas interceptadas.
Autoridades americanas também calcularam números de baixas com base no número de tanques russos que foram destruídos, de acordo com as fontes.
Independentemente do número exato, fontes dos serviços de inteligência dos EUA e do Ocidente observaram que a Rússia enfrenta dificuldade em substituir as suas forças, o que traz um impacto significativo no moral dos militares russos.
“Fica mais evidente a cada dia que Putin cometeu um grave erro de cálculo”, afirmou um alto funcionário de informações da Otan aos repórteres na sede da organização na noite de quarta-feira (16), falando sob a condição do anonimato para divulgar avaliações sensíveis.
“A Rússia continua enfrentando dificuldades em substituir as suas perdas de combate, e procura cada vez mais alavancar forças irregulares, incluindo corporações militares privadas russas e combatentes sírios.”
A fonte da Otan repetiu essa avaliação, dizendo que “podemos avaliar que mais empresas militares privadas vão se envolver” no conflito em breve. Mas, em geral, ele disse, as perdas tiveram “um mau efeito sobre o moral das tropas”.
"Dá para ver que [Putin] calculou mal a resiliência e a resistência dos ucranianos”, disse o oficial militar da Otan. “Isso é um fato. Ele não vê isso. E essa é uma grande surpresa para ele. E, portanto, ele teve que desacelerar”.
Moral russa
A fonte da Otan acrescentou, citando as forças ucranianas, que “os militares russos estão cada vez mais se recusando a viajar para a Ucrânia, apesar das promessas de estatuto de veterano e de salários ainda mais elevados”.
Ele notou que a Otan espera que “o número supostamente elevado de vítimas russas também desperte alguma reação na Rússia, à medida que o povo russo finalmente se torna consciente da extensão de suas perdas”.
Na quinta-feira (17), um alto funcionário de defesa dos EUA disse aos repórteres que o Pentágono tem relatos em primeira mão de que o moral russo está enfraquecido.
“Não temos conhecimento de todas as unidades e de todas as indicações. Mas coletamos alguns casos mostrando que o moral não é alto em algumas unidades”, disse a fonte. “Parte disso ocorre, acreditamos, por causa de má liderança, falta de informação que as tropas estão recebendo sobre suas missões e objetivos, e eu acho que a desilusão de receber uma resistência tão feroz”.
Em alguns casos, as tropas russas simplesmente abandonaram veículos danificados, a pé, deixando no local tanques e carros blindados de transporte de pessoal, de acordo com duas autoridades dos EUA.
Uma fonte do Congresso informou que os EUA avaliaram que parece haver uma diferença entre o que os russos estavam preparados para ver e o que realmente encontraram. Muitos russos capturados até agora disseram que não esperavam, por exemplo, que lutassem em uma guerra na Ucrânia, e acreditavam que faziam apenas parte de um exercício militar.
O compromisso dos líderes militares russos, no entanto, parece ainda ser alto, disse a fonte do Congresso.
Na semana passada, o Tenente-General Scott Berrier, diretor da Agência de Inteligência da Defesa, disse a uma comissão parlamentar numa audiência pública que a avaliação da comunidade de serviços de informação dos EUA sobre as mortes de tropas russas se situava entre duas mil e quatro mil baixas. Ele disse que a avaliação foi baseada em fontes de inteligência e material de código aberto.
As fontes dos EUA e ocidentais consultadas para esta reportagem reconhecem que a vontade de lutar é muitas vezes difícil de medir e não está claro quanto o moral em declínio contribuiu para o progresso lento da Rússia no campo de batalha.
Mas a investigação de dados de fontes abertas durante semanas documentou sinais de descontentamento e moral baixo entre as tropas terrestres. Uma autoridade especulou que uma das razões pelas quais os generais russos têm atuado em posições operacionais de maior risco e mais à frente é um esforço para se animarem as tropas desmotivadas.
As autoridades ocidentais dizem que pelo menos três generais russos foram mortos pelas forças ucranianas desde o início da guerra.
O problema também pode se estender às unidades aéreas de elite da Rússia.
“Eles perderam um monte de aviões”, comentou. “Isso realmente afeta o moral dos pilotos”.
A Rússia também está atrasada na sua cronologia desejada, disse o alto funcionário militar da Otan na quarta-feira. Putin esperava já ter expandido o controle russo sobre a Ucrânia até agora, a oeste, até a fronteira com a Moldova, disse o funcionário, a fim de ligar mais tropas russas e tentar cercar Kiev.
Há tropas pró-russas estacionadas na Transnístria (um estado separatista na Moldova) que “estão de certa forma, preparadas” para aderir à guerra, disse o funcionário. Mas ainda não o fizeram porque as forças russas regulares ainda não fizeram progressos substanciais no sentido oeste, disse.
Apesar de todas as perdas, o alto funcionário dos serviços de inteligência da Otan afirmou que a aliança considera que “improvável que [Putin] seja desencorajado, e pode, em vez disso, escalar. Ele provavelmente continua confiante de que a Rússia pode derrotar militarmente a Ucrânia”.
*Barbara Starr, da CNN, contribuiu para esta reportagem
