Horas de pânico, mísseis diários, corrida para bunker: família brasileira relata tensão em Israel

Professora brasileira mora há seis anos em Israel e agora vive entre o medo de ir à rua comprar comida e o desabastecimento em casa

Isabelle Saleme, da CNN, São Paulo
Compartilhar matéria

Na terça-feira (10), a professora brasileira Patrícia Zontak foi ao supermercado, em Kriat Ono, cidade a 15 minutos de Tel Aviv, capital de Israel, e já não encontrou água à venda.

Moradores de Israel têm tido que escolher entre o medo de ir à rua comprar mantimentos, em meio aos bombardeios, e o do desabastecimento em casa.

Segundo a professora, as filas são enormes nos estabelecimentos que comercializam produtos essenciais. “Mandam você estocar comida enlatada, biscoitos, essas coisas que não estragam para você poder ficar lá [no bunker] por dois, três dias. Não tem mais água no supermercado", explicou Zontak, que usou o filtro de água em sua casa para encher garrafas vazias.

E aquela sensação de medo, um olhando para o outro. Se o míssil cair você tem que largar tudo e ir para um lugar seguro...
Patrícia Zontak

Horas de pânico

Desde o início dos bombardeios por parte do grupo radical islâmico Hamas em Israel, no último sábado (7), a tensão é muito grande. No fim de semana, a filha da professora estava no sul do país, perto da Faixa de Gaza, região mais atingida.

A jovem estava dormindo e não atendeu o telefone imediatamente ao contato da mãe. "Foram duas, três horas de pânico que eu passei até conseguir ouvir a voz dela. Eu queria pegar o carro e sair para lá, mas meu marido disse: ‘não adianta pegar o carro porque as estradas estão bloqueadas e não vão deixar a gente passar’. Do que adiantaria eu sair no meio dos mísseis caindo, dos terroristas atirando... E você fica em pânico. Eu só chorava!".

Somente nesta segunda-feira (9), depois de enfrentar o desabastecimento de alimentos na região onde estava, a moça conseguiu voltar para casa.

Professora Patrícia Zontak vive há cerca de seis anos em Israel / Arquivo Pessoal/Patrícia Zontak
Professora Patrícia Zontak vive há cerca de seis anos em Israel / Arquivo Pessoal/Patrícia Zontak

Sirenes e bunker

A qualquer sinal das sirenes, a família se abriga no bunker que tem no imóvel. “É um quarto, que tem as paredes de ferro, a janela é reforçada com também, assim como a porta de entrada. Nós já deixamos no quarto alimentos e água, como orientado, para caso de necessidade”, disse a professora.

Patrícia mora no país há quase seis anos e conta que mísseis já fazem parte da rotina, de tempos em tempos. No entanto, essa é a primeira vez que ela vê ataques terrestres. “Caem mísseis duas, três vezes por dia. A gente tem que sair correndo para o quartinho. Todo mundo tem medo de sair nas ruas, medo de sair para trabalhar, porque você não sabe o que vai acontecer, quem vai encontrar na rua... e os mísseis no céu. E você vai correndo para o quartinho...”, lembrou.

A família não dorme direito há dias e o sentimento é um só: "muito medo".

"É muito, muito duro. As cenas que a gente vê, a tristeza das famílias que perderam parentes... É uma situação muito complicada, muito difícil. A gente está vivendo realmente numa guerra que, eu vou fazer agora seis anos que moro aqui, e eu nunca passei [por isso]. Eu não desejo isso para ninguém”, contou Zontak.