Saiba como Trump tomou a decisão de atacar as instalações do Irã

Ofensiva coloca os Estados Unidos diretamente no conflito do Oriente Médio

Kevin Liptak, Jeremy Herb e Kristen Holmes, da CNN
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Enquanto o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, circulava pelo seu clube de golfe em Nova Jersey na noite de sexta-feira (20), os aviões americanos estavam prestes a decolar.

Para os espectadores presentes no clube, Trump demonstrou pouca ansiedade em relação à sua decisão de autorizar ataques aéreos a três instalações nucleares iranianas.

Enquanto Trump acompanhava Sam Altman, presidente-executivo da empresa OpenAI, a um evento para novos membros realizado em um dos refeitórios do clube, ele estava relaxado e — pelo menos em público — de bom humor, disseram pessoas que o viram.

Vinte e quatro horas depois, o líder americano estava na Sala de Crise no porão da Casa Branca, assistindo aos ataques que havia aprovado dias antes, com o codinome “Operação Martelo da Meia-Noite”, em tempo real, nos monitores da instalação.

A decisão de prosseguir com os ataques coloca os Estados Unidos diretamente no conflito do Oriente Médio.

A ofensiva ocorreu após dias de deliberação pública, com o presidente alternando entre fazer ameaças militaristas contra o Irã nas redes sociais e manter preocupações pessoais de que um ataque militar arrastasse os EUA para uma guerra prolongada.

No entanto, na quinta-feira (19), mesmo dia em que instruiu sua secretária de imprensa a anunciar que daria ao Irã duas semanas para retornar à mesa de negociações antes de decidir sobre um ataque, aliados que conversaram com ele disseram estar claro que a decisão já estava tomada.

“Esta noite, posso relatar ao mundo que os ataques foram um sucesso militar espetacular”, disse ele algumas horas depois, durante comentários noturnos no Cross Hall da Casa Branca.

“O Irã, o tirano do Oriente Médio, precisa agora promover a paz. Se não o fizer, os ataques futuros serão muito maiores e muito mais fáceis.”

Em entrevista à NBC neste domingo (22), o vice-presidente JD Vance disse que Trump manteve o poder de cancelar os ataques “até o último minuto”. Mas ele optou por prosseguir.

Planejamento americano durou semanas

Funcionários do governo fizeram de tudo para ocultar seu planejamento.

Adiar a decisão do ataque por duas semanas pareceu condizente com as tentativas de desvio da missão — uma tática projetada para ocultar os planos de ataque, embora o líder americano tenha adiado a autorização final até sábado (21), segundo autoridades americanas de alto escalão.

Ao final da semana, autoridades americanas passaram a acreditar que o Irã não estava pronto para voltar à mesa de negociações e firmar um acordo nuclear satisfatório, depois que líderes europeus se encontraram com seus homólogos iranianos na sexta-feira (19), disseram à CNN duas fontes familiarizadas com o assunto.

O prazo público de duas semanas de Trump durou somente 48 horas antes que ele tomasse uma das ações mais importantes de sua presidência.

Vice-presidente, JD Vance, e o presidente, Trump, na Sala de Crise • Reuters
Vice-presidente, JD Vance, e o presidente, Trump, na Sala de Crise • Reuters

As discussões sobre possíveis opções para ataques americanos ao Irã começaram para valer entre Trump e membros de sua equipe de segurança nacional no início de junho, onde o diretor da CIA, John Ratcliffe, informou Trump sobre as avaliações americanas de que Israel estava preparado para iniciar ataques em breve.

As opções para Trump se juntar a Israel em sua campanha haviam sido elaboradas nos meses anteriores, com os assessores do presidente já tendo resolvido as diferenças entre si sobre quais opções estavam disponíveis para ele decidir.

Na semana anterior à decisão final de que bombardeiros furtivos e submarinos da Marinha dos EUA atacassem três instalações nucleares iranianas, o republicano realizou reuniões informativas diárias com sua equipe de segurança nacional na Sala de Crise, no subsolo, para discutir planos de ataque — e avaliar as potenciais consequências.

Principais temores do presidente

Trump chegou às negociações secretas com duas preocupações principais: que um ataque americano fosse decisivo para destruir as instalações altamente fortificadas, incluindo a instalação subterrânea de enriquecimento de Fordow; e que qualquer ação que tomasse não arrastaria os EUA para o tipo de guerra prolongada e mortal que ele prometeu evitar como candidato.

Quanto ao primeiro ponto, as autoridades estavam confiantes na capacidade das bombas anti bunker americanas de adentrar a instalação, embora tal ação não tivesse sido testada anteriormente.

Dan Caine, chefe das Forças do Estado-Maior, declarou neste domingo (22) que a avaliação inicial mostra “danos e destruição extremamente graves” às três instalações nucleares do Irã, embora tenha observado que levará tempo para determinar o impacto final nas capacidades nucleares do país.

Autoridades iranianas minimizaram o impacto dos ataques americanos às suas instalações nucleares neste domingo.

Imagem de satélite mostra crateras na instalação de enriquecimento de Fordow, no Irã, após ataques dos EUA. • Reprodução/Reuters
Imagem de satélite mostra crateras na instalação de enriquecimento de Fordow, no Irã, após ataques dos EUA. • Reprodução/Reuters

Quanto à segunda questão de uma guerra prolongada, as autoridades dificilmente poderiam prometer ao presidente que as represálias do Irã — que poderiam incluir ataques a ativos ou pessoal americano na região — não arrastariam os EUA para um novo atoleiro.

A incerteza pareceu fazer Trump hesitar, e ao longo da semana ele disse em público que ainda não havia decidido, mesmo que, nos bastidores, parecesse aos seus assessores que sua decisão já estava tomada.

O dia do ataque

Trump deixou seu clube de golfe em Bedminster na tarde de sábado (21) e retornou à Casa Branca para uma “reunião de segurança nacional” agendada — uma viagem incomum para o presidente em um fim de semana, mas prevista em sua agenda diária divulgada no dia anterior.

Antes dos ataques de sábado, os Estados Unidos avisaram Israel de que atacariam.

Netanyahu manteve uma reunião de cinco horas com altos funcionários israelenses que durou todo o período dos ataques americanos, segundo uma fonte familiarizada com a reunião.

Trump e Netanyahu conversaram por telefone novamente depois, e o primeiro-ministro israelense elogiou o ataque americano em uma mensagem de vídeo, dizendo que ele foi realizado “com total coordenação operacional entre as Forças de Defesa de Israel (IDF) e as Forças Armadas dos Estados Unidos”.

Os EUA também notificaram alguns parceiros do Golfo de que estavam prontos para atacar o Irã nos próximos dias, mas não especificaram alvos nem prazo, conforme uma fonte familiarizada com o assunto.

A mensagem foi transmitida verbalmente, disse a fonte, e houve uma reunião na Casa Branca onde alguns desses parceiros do Golfo foram informados.

Trump e sua equipe estavam em contato com os principais republicanos do Congresso antes dos ataques de sábado, mas os principais democratas só foram informados dos planos depois que as bombas foram lançadas, segundo várias pessoas familiarizadas com os planos.

Hegseth declarou no domingo que os líderes do Congresso foram notificados “imediatamente” após os aviões saírem do espaço aéreo iraniano.

Operação Martelo da Meia-noite

A operação americana sem precedentes envolveu sete bombardeiros B2 stealth. Ao todo, mais de 125 aeronaves estavam envolvidas, incluindo B2s, aviões de reabastecimento, aviões de reconhecimento e caças.

Após os aviões americanos deixarem o espaço aéreo iraniano, Trump revelou o ataque ao mundo em sua plataforma de mídia social, Truth Social.

“Concluímos nosso ataque muito bem-sucedido às três instalações nucleares no Irã, incluindo Fordow, Natanz e Esfahan”, escreveu Trump, acrescentando que “uma carga completa de BOMBAS foi lançada na instalação principal, Fordow”.

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