Câmara dos Deputados cria grupo para acompanhar situação de indígenas Ianomâmi

Indígenas estão em busca de grupo que sumiu após aldeia ter sido incendiada; Liderança acredita que eles estão vivos e em fuga pela mata

Paula Martini, da CNN, No Rio de Janeiro
Comunidade em Aracaçá, em Roraima, onde ficava aldeia com indígenas ianomâmi,
Comunidade em Aracaçá, em Roraima, onde ficava aldeia com indígenas ianomâmi  • Reprodução/Codisi-YY
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A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara aprovou a criação de um grupo de trabalho para acompanhar a situação dos povos indígenas Ianomâmi após denúncias envolvendo a comunidade Aracaçá, localizada no norte de Roraima. O objetivo do grupo é realizar diligências e propor providências sobre a situação de violência e violações a que estão submetidas crianças e adolescentes da comunidade. O requerimento de autoria da deputada Joenia Wapichana (Rede-RR) é assinado por 16 parlamentares da oposição.

No texto, a deputada afirma que tem encaminhado documentos e acompanhado lideranças em reuniões com autoridades competentes com "pouquíssimos resultados efetivos". O grupo também deve buscar informações do Executivo, além de agendar debates e reuniões. O grupo de trabalho foi criado após as denúncias da morte de uma menina indígena de 12 anos e desaparecimento de uma criança de 3 anos. Lideranças indígenas afirmam que a adolescente foi morta após ser abusada por um garimpeiro que explora a região ilegalmente e que a criança caiu no Rio Uraricoera.

"Cadê os Ianomâmi"

O caso ganhou repercussão após o Conselho Distrital de Saúde Indígena Ianomâmi e Ye'kwana (Condisi-YY) divulgar que a comunidade Aracaçá, onde viviam cerca de 24 ianomâmis, foi encontrada queimada e vazia. O presidente do Condisi-YY, Júnior Hekuraki Ianomâmi, acredita que os índios estejam vivos e em fuga pela mata. Nesta quarta-feira (4), ele informou à CNN que indígenas da região de Waikás estão realizando buscas por terra e pelo rio para tentar encontrar os ianomâmi desaparecidos. Até o momento, não se sabe quem queimou a comunidade.

Os indígenas não foram localizados durante uma diligência conjunta realizada pela Polícia Federal, Ministério Público Federal, Fundação Nacional do Índio (Funai) e Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai).

Em uma nota conjunta divulgada no dia 28, os órgãos informaram que "não foram encontrados indícios da prática dos crimes de homicídio e estupro ou de óbito por afogamento". O Condisi, por outro lado, informou que avistou a comunidade em chamas, no dia 27, e sem a presença de indígenas. O helicóptero pousou inicialmente em uma área de garimpo, onde de acordo com o presidente do Condisi, os indígenas só apareceram cerca de 40 minutos depois para resgatar materiais de garimpeiros. Na ocasião, segundo o Condisi, alguns deles relataram que não poderiam falar pois teriam recebido 0,5g de ouro dos garimpeiros em troca do silêncio.

Na mesma nota, o Conselho Disitrital de Saúde informa que retornou ao local na manhã do dia 28, mas a aldeia Aracaçá já havia sido abandonada, restando apenas marcações de queimações. No dia 29, ainda de acordo com o comunicado, líderes indígenas se reuniram e analisaram as imagens da comunidade e "relataram conforme costume e tradições que após a morte de um ente querido a comunidade em que residia é queimada e todos evacuam para outro local".

O grupo também analisou a possível marca onde o corpo foi cremado e "constatou-se que ocorreu um óbito, porém, os indígenas da região se mantiveram em silêncio por receio de que sofressem qualquer tipo de ataque dos invasores". O Condisi-YY também divulgou um vídeo que mostra um garimpeiro não identificado questionando indígenas da comunidade sobre a veracidade das denúncias, o que sugere que eles estariam sofrendo pressão.

A Comissão de Direitos Humanos do Senado Federal formou um grupo para acompanhar em Roraima as medidas de combate ao avanço do garimpo ilegal na Terra Indígena Ianomâmi. A previsão é que a visita à região ocorra no próximo dia 12.