Eleições 2022

Terceira via tem problema em encontrar "apelo político", diz especialista

Em entrevista à CNN, Rafael Cortez também avaliou "dilema" do PT com apoios políticos e as críticas de Bolsonaro a acordo entre WhatsApp e TSE

Ludmila Candal e Giovanna Galvani, da CNN, em São Paulo
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As recentes mobilizações políticas envolvendo os pré-candidatos à presidência da República explicitam um "problema estrutural" para a denominada terceira via, avaliou o cientista político Rafael Cortez à CNN neste domingo (17): encontrar um candidato e o "apelo do projeto político".

"O que de fato significa a candidatura de terceira via, o que ela quer trazer? O discurso de escapar da polarização nem Lula, nem Bolsonaro me parece pouco crível para o eleitor prestar de fato atenção e [a chapa] ter alguma chance em 2022. É um cenário bem difícil para esse grupo político", declarou Cortez.

Rafael Cortez analisou o papel do PSDB na construção, que surge com o nome do ex-governador de São Paulo, João Doria (PSDB), como opção para a terceira via. O grupo, formado também por União Brasil, Cidadania e MDB, quer escolher um nome único para competir nas eleições até o dia 18 de maio.

Para o cientista político, o PSDB perdeu "o poder de mobilização da centro-direita" que representou durante anos. Para a sigla, assim como para os outros partidos do grupo, o risco de lançar uma pré-candidatura fraca à presidência é ter o efeito sentido também nas eleições das bancadas estaduais e para o Congresso Nacional.

Lula e Bolsonaro

Despontando nas pesquisas, as pré-candidaturas do ex-presidente Lula (PT) e do presidente Jair Bolsonaro (PL) também encaram desafios. No caso da chapa petista, para Rafael Cortez, há um "dilema" entre mobilizar bases de esquerda que historicamente votam em Lula e, ao mesmo tempo, conversar com partidos da centro-direita.

Cortez fez o comentário baseado na entrevista à CNN do presidente do Soliedariedade, Paulinho da Força, que disse ser contra Bolsonaro, mas também ressaltou querer discutir "outras condições" com o PT para consolidar um apoio expresso a Lula.

"A fala [de Paulinho da Força] foi bastante representativa sobre o que está acontecendo nesse momento no ponto de vista da chapa das esquerdas. Essa chapa está com o dilema de ter que mobilizar esquerda e, ao mesmo tempo, caminhando um pouco para conversar com partidos da centro-direita", disse Cortez. "Tem um rearranjo de forças dentro dessa ampla coalizão. É difícil encontrar equilibrio", avaliou.

Já Bolsonaro, que mirou o acordo entre o WhatsApp e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) nas críticas feitas nos últimos dias, tem tido a estratégia "de utilizar as redes para atrair eleitores", disse Cortez, já utilizada pelo presidente.

"As redes ajudam a mensagem do bolsonarismo a ganhar um pouco mais de força, e não é por acaso que o governo faz essa movimentação, ainda que os resultados não sejam os mais positivos", afirmou.