Belém: um giro cultural e gastronômico por novidades e tradições da capital
Uma das portas de entrada mais importantes da Amazônia, cidade preserva seu passado ao mesmo tempo que nos presenteia com novos endereços no clima da COP30

Belém é uma das cidades mais interessantes do Brasil. Ladeada por rios, ela vai além do centro urbano e exibe um mosaico de mais de 40 ilhas em sua territorialidade. Fundada em 1616, a cidade floresceu durante o ciclo da borracha e hoje transborda cultura e sabor.
Com os principais líderes mundiais reunidos na cidade por conta da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, a COP30, Belém nos lembra que é uma das portas de entrada mais importantes da Amazônia. Ela respira fé e tradição, ao mesmo tempo que nos presenteia com mesas fartas e sabores incomparáveis.
Aqui, o passado e o presente têm convivido de maneira exemplar. Enquanto patrimônios históricos e culturais de séculos passados continuam vivos no cotidiano e devidamente preservados, novidades mais do que bem-vindas surgiram à tempo da COP30 - e continuarão a moldar um futuro animador.
Depois de embarcar em uma jornada fluvial pela Amazônia paraense e percorrer as maravilhas naturais de Carajás, a parada em Belém foi inevitável. Assim, a capital ganhou não apenas um, mas dois programas para a temporada especial do CNN Viagem & Gastronomia no Pará.
Tradições e novidades pelos mercados de Belém

Para começar, uma viagem a Belém não fica completa sem a visita ao Mercado Ver-o-Peso. Símbolo da capital paraense e do Brasil, o mercado tem raízes no século XVII e, com o passar do tempo, virou uma grande feira a céu aberto, onde ingredientes da floresta, do rio e da terra revelam o cruzamento de tradições locais.
Maior feira livre da América Latina, se espalha por 25 mil m², incluindo o Mercado de Carne, de Peixe, praças, doca e mais de duas mil barracas, onde milhares de pessoas circulam diariamente e desfrutam desde frutos típicos, como cupuaçu, bacuri e castanha-do-pará, até lojas de artesanato.
Uma das “instituições” do local é, na verdade, uma pessoa: Dona Lúcia Torres, que comanda o Box da Lúcia, de número 37. Cozinheira de mão cheia, ela soma uma trajetória de mais de três décadas, sempre usando ingredientes diretos da fonte, ou seja, da própria vizinhança. Seus preparos levam até o camapu, fruto que dá um outro sabor aos seus pratos, daqueles que alimentam corpo e alma.
Por falar em pratos, uma novidade que tem feito barulho na cena gastronômica da cidade é o Mercado de São Brás, que ganhou uma repaginação respeitando suas características históricas e arquitetônicas, resultando em um polo de gastronomia, comércio e lazer com mais de 80 negócios locais.
Aberta em 1911, a construção é um marco da Belle Époque em Belém. O mix de gastronomia tem curadoria do chef Paulo Anijar, do restaurante Santa Chicória. Para a nossa sorte, quem voltou à cena foi o restaurante Lá em Casa, que mantém um box no mercado com versões de clássicos como pato no tucupi, maniçoba e caruru. À mesa estão os ensinamentos do grandioso chef Paulo Martins.
Pioneiro na valorização dos ingredientes amazônicos e paraenses em uma época em que nem se falava da exaltação do que é nosso, Paulo foi reconhecido por nomes como Ferran Adrià e Alex Atala, deixando um poderoso legado após sua partida, em 2010. Hoje, encontramos essa força no Instituto Paulo Martins, gerido por suas filhas, Daniela e Joanna Martins.

“Ele começou o trabalho nos anos 2000 a partir de uma necessidade de mostrar para grandes chefs que eles poderiam difundir o que a gente tinha dentro do próprio Brasil”, diz Daniela. Sua irmã completa: “Nosso grande sonho é que o público perceba que os ingredientes amazônicos são universais.”
Polo gastronômico à beira do rio
O Instituto Paulo Martins atua por meio de pesquisa, capacitação e promoção dos ingredientes amazônicos. Durante a COP30, um dos projetos do instituto é a mostra “Aysú”, que promove uma jornada pelos ingredientes e saberes da região por meio dos cinco sentidos, com uma ajudinha da realidade virtual. Ela ocupa o Armazém 5, no Parque de Bioeconomia e Inovação da Amazônia, no complexo Porto Futuro II.
Com mais de um século de história, o local ganhou uma nova vida, transformando-se em um espaço sócio-cultural com variadas iniciativas, incluindo o Museu das Amazônias, o Centro Gastronômico, o Parque de Bioeconomia e a Caixa Cultural. “O Porto Futuro II estava ocioso há anos. As pessoas estavam perdendo esse espaço à beira-rio”, me conta o chef Thiago Castanho.
O Puba, bar do qual é sócio e já faz sucesso em Belém desde que abriu as portas em fevereiro, ganhou uma unidade no polo gastronômico, que reúne cerca de 15 bares e restaurantes. O Muamba Bar, do mixologista Yvens Penna, também abriu por aqui. “Era uma questão de tempo a gente se reencontrar com a Baía do Guajará, com esse rio lindo à nossa frente”, diz.
Outros cantinhos gastronômicos em Belém

O chef Saulo Jennings é Embaixador Gastronômico da ONU Turismo e um dos nomes-chave quando o assunto é comida paraense. Mas ele vai além ao apresentar ao mundo a sua cozinha tapajônia. Em Belém, comanda o Casa do Saulo Onze Janelas e a Casa do Saulo Quinta de Pedras, mas desta vez decidi fazer diferente: junto do chef, sai em busca de um cantinho "mais raiz" da capital paraense.
A surpresa foi no Caranguejo do Gatinho Estrela, no bairro do Marco. O restaurante é simples, com zero frescura, e nos serve uma cozinha farta com frutos do mar frescos. O proprietário Ronald Marcus da Silva serve caranguejos há mais de 40 anos e nos brinda com cerveja e especialidades.
Entre os pedidos, podem chegar à mesa camarões no bafo, patolas (e não patinhas) de caranguejo com vinagrete e caranguejo do mangue de Belém, o caranguejo "toc toc", com uma carne suculenta. Se quiser, ainda há arroz de mariscos, ostras frescas e casquinha de caranguejo entre os destaques.
Patrimônios históricos e culturais

Para além da comida, Belém nos surpreende com sua história. Uma das guardiãs dessa riqueza é a Basílica Santuário de Nossa Senhora de Nazaré, que levou décadas para ficar pronta. Começou a ser erguida em 1909, atravessando duas grandes guerras e, finalmente, sendo dotada de vitrais, mármores e mobiliário europeus. Além do encontro de fé e religião, o local é um dos grandes pontos turísticos da capital paraense.
Esse templo é uma homenagem a Nossa Senhora de Nazaré e às figuras femininas da história da salvação. Podemos observar que nas colunas internas estão representadas as 10 mulheres do antigo testamento. Esse templo também traz um olhar da força feminina na evangelização
A igreja tem ligações diretas com o Círio de Nazaré, considerada a maior procissão católica do mundo e a maior festa religiosa do Brasil. A grande procissão, que ocorre em outubro, termina exatamente na basílica e neste ano atraiu 2,6 milhões de pessoas.
Outro ponto histórico que nos emociona é o Theatro da Paz, na Praça da República, imponente tanto por fora quanto por dentro. Sua construção ocorreu no auge do ciclo da borracha, com inauguração em 1878, há quase 150 anos. O lustre do hall de entrada é francês, feito em cristal Baccarat, e podemos notar bustos em mármore de carrara dos escritores brasileiros José de Alencar e Gonçalves Dias.

Foi a primeira casa de espetáculos construída na Amazônia e os pisos que vemos hoje são originais, formando um mosaico de madeiras nobres. O Salão Nobre, onde a nobreza costumava se reunir, tem uma pintura estonteante no teto, feita em 1960 com decoração da fauna e flora amazônica.
A grandiosa Sala de Espetáculos, com 900 lugares, tem balaustrada em ferro inglês folheado a ouro, assim como pintura em afresco no teto central com elementos da mitologia greco-romana. O Theatro promove visitas guiadas mediante uma pequena taxa, mas uma agenda constante de apresentações ao longo do ano transforma o local em um verdadeiro patrimônio vivo.
Guia Belém do CNN Viagem & Gastronomia
Tendo em vista a COP30, o CNN Viagem & Gastronomia lançou um guia com o melhor de Belém, contendo dicas de restaurantes, hotéis e passeios essenciais, mas também histórias de quem transforma a cidade. Há ainda dicas autênticas da cena criativa – moda, música, arte e, claro, gastronomia. Confira o Guia Belém na íntegra abaixo:


