Rosh Hashaná: entenda o que é, as tradições, as comidas e curiosidades do Ano-Novo judaico
Em 2023, data será comemorada a partir do pôr do sol de 15 de setembro; Dia do Perdão e Festa das Cabanas também acontecerão neste mês
“Shanah tovah u’metuka”. Um ano bom e doce. É com esse desejo traduzido em forma de saudação que judeus do mundo inteiro deverão começar o Rosh Hashaná, o Ano-Novo judaico, que acontecerá do pôr do sol do dia 15 até o do dia 17 de setembro de 2023.
Diferentemente do calendário cristão, os meses no judaísmo são regidos pelo calendário lunar, o que faz com que os dias sejam contabilizados de forma diferente: começam ao anoitecer de um dia e terminam no anoitecer do seguinte. Por este motivo, datas importantes para a religião não têm dias exatos para acontecer todos os anos como no calendário convencional. Em 2024, por exemplo, o Ano-Novo acontecerá entre os dias 2 e 4 de outubro.
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O que é comemorado no Rosh Hashaná?
Como explica o rabino Pessach Kauffman, no Ano-Novo judaico é comemorado o aniversário da criação do universo. Em 2023, será celebrado o ano 5784.
“Rosh Hashaná quer dizer a ‘cabeça do ano’. Um momento de renovação, em que estamos muito conectados com Deus. É a hora em que tudo o que vai acontecer no ano que vem está sendo decretado, seja em questões financeiras ou em outras áreas das nossas vidas. Um momento de introspecção, reflexão e renovação”, enfatiza.
As tradições do Rosh Hashaná
Assim como outras datas importantes para a religião, a ocasião é marcada por muita festa, comidas típicas, tradições, alegria, gratidão e reza.
Um dos pontos mais marcantes para todos é o toque do Shofar, um instrumento de sopro feito de chifre de carneiro. Tocado durante momentos do Rosh Hashaná, ele representa um chamado para o arrependimento dos pecados.
“Esse som toca nossos corações. Neste dia também tem uma oração mais longa, todos vão à sinagoga e há uma refeição festiva em família”, complementa o rabino.
Entre os símbolos e comidas presentes em praticamente todas as mesas desta celebração estão a maçã e o mel, que significam o desejo por um ano bom e doce. “Comemos a maçã e pedimos para a vontade de Deus ser feita. Pedimos que tudo dê certo de uma forma doce, não amarga”, conta Pessach.
Outro item que traz uma grande simbologia nesta data é a cabeça de um peixe, que geralmente é colocada em cima da mesa da refeição da família. Ela representa o desejo para o ano ser “cabeça”, a melhor parte do animal, e não a cauda.
A Challah, famoso pão doce trançado que se come no shabat e em outras festas judaicas, ganha uma versão circular nesta ocasião, representando o ciclo da vida e o início do novo ano.
As romãs, por sua vez, representam fertilidade e abundância. Tâmaras e mais alimentos doces também são presenças certas nas mesas. Quanto aos pratos principais, vale ressaltar que cada família segue suas tradições vindas de diferentes regiões.
Se você for à casa de um judeu Ashkenazi, de origem europeia, por exemplo, certamente encontrará o Guefilte fish, um bolinho de peixe feito com carpa.
Kneidele (bolinhas feitas de matzá servidas em um caldo), Varenike (uma massa de pastel cozida recheada de purê de batata e cebola), Beigale (uma massa folhada de batata), Goulash (uma espécie de ensopado que leva cubos de carne, molho de tomate e vinho) e Lekach (bolo de mel) também compõem o cardápio tradicional.
Já na comemoração dos Sefaradis, as delícias são de influências ibéricas e do Oriente Médio.
O que esperar em Israel neste dia?
O Rosh Hashaná está profundamente enraizado no tecido cultural de Israel. O Muro Ocidental (também chamado de Muro das Lamentações), um local reverenciado em Jerusalém, torna-se um ponto de encontro espiritual, atraindo fiéis de todo o mundo.
Os visitantes podem testemunhar as orações e observar as tradições, obtendo insights sobre o panorama espiritual da região. Para os turistas brasileiros, o Rosh Hashaná oferece uma ponte entre duas fés. Explorar a herança judaica pode levar a um entendimento mais profundo das raízes do cristianismo e dos valores compartilhados.
“Os visitantes podem participar de serviços religiosos em sinagogas, engajar-se em conversas com os moradores locais e compartilhar das refeições tradicionais da data. Essa experiência intercultural proporciona a oportunidade de fomentar o diálogo inter-religioso e enriquecer jornadas espirituais pessoais”, enfatiza o Ministério do Turismo de Israel.
Iom Kippur
O dia mais sagrado do ano para os judeus não é uma festa, mas sim um dia de grande reflexão.
Dia de “pedir perdão”, o Iom Kippur acontece dez dias depois do Rosh Hashaná –neste ano, ele cairá a partir do pôr do sol de 24 de setembro. Na ocasião os judeus praticam um jejum de mais de 24 horas, em que a maior intenção é refletir sobre todo o mal e pecados cometidos no último ano.
“É um dia de muita prece em que demonstramos todo o nosso arrependimento. Passamos o dia na sinagoga lendo um livro de reza chamado Machzor. É quando é selado o nosso destino. Se pede perdão ao próximo e a Deus. Um dia de introspecção e muito foco. Um dia que estamos mais perto de Deus”, ressalta o rabino Pessach.
Ao término do período, uma refeição festiva regada principalmente a muita carne e vinho é feita em família. Vale destacar que crianças menores de 13 anos e pessoas com algum tipo de doença em que a alimentação é necessária estão autorizadas a não praticar o jejum.
Sucot
Em setembro de 2023 também acontecerá outra data celebrada para o judeus. A festa judaica Sucot acontecerá de 29 de setembro a 6 de outubro – ou 15º dia do mês de Tishrei. Conhecida como Festa dos Tabernáculos, ou Festa das Cabanas, ela comemora a proteção divina que o povo judaico teve em seus 40 anos no deserto a caminho da Terra prometida.
“São sete dias de festa. Construímos cabanas em ambientes abertos (seja no quintal de casas ou em espaços disponibilizados pelas sinagogas) e as cobrimos com ramos e enfeites. As refeições são feitas dentro delas. É como se fosse uma prova de fé, mostrando que não se tem medo de chuva e nem do sol e o quanto confiamos em Deus”, explica o rabino.
“É uma festa de peregrinação. Em Israel, o muro das lamentações fica lotado. São levados alguns frutos como agradecimento à benção desta terra que Deus prometeu a Abraão, com os cultivos principais como ramo de tamareiras, limão e louro. Esse mês de setembro o país está todo em festa” completa Yohai, guia turístico israelense há mais de 30 anos.