Roteiro de 3 dias em Paraty: maravilhas históricas, naturais e gastronômicas

Cidade na Costa Verde do Rio é Patrimônio da Humanidade e oferece centro histórico, mar e serra como nenhuma outra, com direito a rica gastronomia e cultura da cachaça

Daniela Filomenodo Viagem & Gastronomia

No litoral do Rio de Janeiro, na região da Costa Verde, Paraty é daquelas cidades ideais para serem curtidas sem pressa. A boa notícia é que ela pode ser aproveitada em feriados, em que nos apresenta uma sedutora combinação de história, com centrinho preservado, e de natureza, com um jogo delicioso de Mata Atlântica e de mar.

Reconhecida como um Patrimônio da Humanidade pela Unesco, Paraty nasceu no ciclo da cana e enriqueceu no ciclo do ouro, deixando elementos de seu passado quase intactos pelas ruas de pedra do centrinho, cuja circulação de carros é proibida.

Andar por aqui é se encantar com igrejas e casas do Brasil Colônia que resistiram ao tempo, com construções dos séculos 18 e 19. Grande parte delas foram requalificadas e hoje dão lugar a lojinhas, bares, restaurantes e centros culturais.

Mas parte da história de Paraty também é recente: em 2017 ela foi eleita uma Cidade Criativa da Gastronomia pela Unesco, jogando luz a suas apetitosas tradições, que, para nosso deleite, incluem a produção de cachaça e o resgate da culinária caiçara. Mesmo pequena, grandes festivais fazem casa aqui e atraem visitantes de todos os lugares – é comum ouvirmos o inglês e o francês junto do português.

A Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) é um dos mais importantes eventos do setor, neste ano sediada em outubro, e o Festival da Cachaça, Cultura e Sabores, em agosto, costumam atrair amantes da “marvada” e entusiastas dos pratos locais.

Roteiro de 3 dias em Paraty

Paraty é uma das cidades que mais amo do litoral fluminense, muito por conta de seu fácil acesso: a meio caminho de São Paulo e do Rio — são cerca de 270 km da capital paulista e 240 km da Cidade Maravilhosa. Ela também fica coladinha a Ubatuba, no litoral norte de São Paulo, que promove um bate e volta em apenas 70 km.

A cidade foi um dos destinos da primeira temporada do CNN Viagem & Gastronomia, em que destaquei quatro atividades imperdíveis: se “perder” pelo centro histórico; passear de barco; degustar cachaças e desfrutar a rica gastronomia.

Recentemente, voltei à cidade mais uma vez pelo CNN Viagem & Gastronomia, cujo resultado você confere em breve. A seguir, compartilho dicas de um roteiro de 3 dias em Paraty:

Dia 1: Curtir o centro histórico

O coração de Paraty bate no centro histórico, que é delimitado por ruas de pedras irregulares — é melhor ficar atenta onde pisa! Além de percorrer as ruas, que reúnem lojinhas e restaurantes, as igrejas ajudam a contar a história Paraty.

São quatro delas no centro: primeiramente, procure pela Igreja de Santa Rita, cartão-postal da cidade, com interior barroco-rococó e que abriga o Museu de Arte Sacra. Ela foi erguida em 1722 e fica em um largo de frente para a Baía de Paraty.

Na Rua do Comércio, uma das principais vias do centro, fica a Igreja do Rosário, com construção iniciada em 1725 por pessoas escravizadas — ela também era voltada a eles. Já a matriz de Paraty é de 1873, a Igreja de Nossa Senhora dos Remédios, com pé direito alto e que se abre para uma agradável praça. A poucos passos dela, em direção ao mar, fica a Igreja Nossa Senhora das Dores, datada de 1800 e construída pelas mulheres da aristocracia paratiense.

No espírito da FLIP, a Livraria das Marés, vizinha da Pousada Literária, pode dar aquele empurrão na leitura de um livro parado em nossa lista. Para almoçar, minhas dicas são o Café Paraty, da chef Ana Bueno, com drinques assinados por Jean Ponce e bolinho de camarão delicioso — não deixe de experimentar também o Jorge Amado da casa –, ou o Pupu’s Panc Party, anexo ao Sandi Hotel, que faz uma ótima combinação de peixes e frutos do mar com plantas comestíveis e que, durante a semana, serve menu executivo.

Por todo o centro, fique de olho nos carrinhos de doces, que são um patrimônio imaterial da cidade. Os mais comuns são rapadura, quindim, cocada e brigadeiro. Por falar neles, procure pelo Empório da Cachaça, com inúmeras cachaças regionais, além de doces, pimentas e cervejas. Na mesma pegada, A Caiçarinha reúne canecas, toalhinhas e outros objetos como um antigo armazém.

Com o cair da noite, o centrinho se transforma: músicos de rua embalam a trilha sonora e luzes baixas garantem uma atmosfera agradável.

Para jantar, o Banana da Terra, que celebra 30 anos, é um ícone da cidade que traz à mesa peixes e frutos do mar por meio de uma aguçada culinária caiçara — a lula recheada com coalhada servida com risoto e folha de taioba é para lá de interessante, assim como o clássico peixe com banana. Também há o requintado Quintal das Letras, dentro da Pousada Literária, onde conceitos de sazonalidade e farm to table são trabalhados.

Dia 2: Passeio de barco pela Baía de Paraty

Daniela Filomeno pelas águas de Paraty
Daniela Filomeno pelas águas da Baía de Paraty • CNN Viagem & Gastronomia

Do Cais de Paraty, logo em frente à Igreja de Santa Rita, diferentes embarcações saem diariamente pelas águas da baía. São barcos pequenos, para poucas pessoas e com roteiros desenhados, ou escunas, com vários grupos, que vão em direção às ilhas — são cerca de 65 delas.

Os preços dependem do tipo de embarcação, do roteiro e de quantas horas ficaremos no mar. Alguns dos mais baratos podem sair, em média, R$ 150. Os roteiros mais comuns passam por ilhas como dos Cocos, da Cotia, Praia da Conceição, assim como Praia da Lua e a Ilha do Algodão.

Seja qual for o tipo escolhido, é inevitável se encantar com as cores da água, que vão do verde esmeralda ao azul turquesa. Geralmente há paradinhas em pontos mais calmos, abrindo chance para nos refrescarmos com um mergulho.

Alguns dos passeios também oferecem paradas em restaurantes. Um deles é o Recanto Caiçara, na Praia do Engenho, com acesso somente por barco. É aquele tipo de local informal que podemos ficar sem camisa, de biquíni, apreciando uma lula, casquinha de siri empanada e uma suculenta carne de cavaca.

Também há o Restaurante do Hiltinho, que mantém uma filial na Ilha do Algodão em um casarão rústico com vista para o mar, onde siri, polvo e camarões estão entre os itens. Depois do almoço, o ideal é descansar com os pés na água e apreciar as vistas.

E, claro, com o cair da noite, aproveite para curtir novamente o centrinho. Comece apreciando um drinque ou uma dose de cachaça em um bar. Depois, indico apostar em outro tipo de cozinha: Paraty tem o Thai Brasil, restaurante entre os melhores da cidade que serve comida tailandesa, com uma variedade de saladas, grelhados, curries, frutos do mar e vegetarianos.

Também há o Punto Di Vino, com antipastos, peixes e massas de influência italiana — o gostoso é escolher uma mesa perto dos janelões ou na área externa.

Dia 3: Conhecer os arredores

A 20 minutos do centro, um dos passeios mais agradáveis da região é na Fazenda Bananal, que une educação ambiental e restaurante. É uma fazenda original do século 17 que passou por todos os ciclos econômicos de Paraty e que foi reflorestada em tempos recentes. Agroecologia e sustentabilidade são palavras de ordem aqui.

Além de exposições regulares sobre a fauna e flora local, o ponto alto é a trilha de 520 metros por um caminho de madeira que passa em meio à rica vegetação da Mata Atlântica. Imagine abraçar uma figueira que possui entre 250 anos e 400 anos? Aqui é possível. O local ainda conta com restaurante com produtos orgânicos próprios. O ideal é visitar a fazenda sem pressa, dedicando várias horas. Os ingressos saem a R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia).

O bom é que logo em frente à Fazenda Bananal fica o Alambique Paratiana, uma das cachaças mais conhecidas de Paraty. O alambique tem lojinha com produtos artesanais e degustação de cachaças, assim como é possível vermos de perto o processo de produção. O bacana é que o dono, o Cazé, coleciona cachaças e tem uma espécie de pequeno museu no segundo andar do alambique, com mais de 4.500 exemplares, alguns raros e outros de 1940.

Ainda dentro do alambique, faça como eu: estique um almoço na Casa Paratiana, novo restaurante da chef Ana Bueno. A casa é uma ode à comida caipira do Vale do Paraíba e capricha na decoração, com direito a móveis antigos e fotos de época recriadas por ela e o marido. Enquanto arroz caldoso de frango com quiabo, carne de porco na lata e torresmo são colocados à mesa, não deixe de notar o enorme barril de 120 mil litros que decora o restaurante.

Uma outra dica é visitar o alambique da Cachaça Maria Izabel. Situado no Sítio Santo Antônio, à beira da Baía de Paraty, o local funciona desde 1996 e a cachaça leva cana plantada dali mesmo. A visita e a degustação duram em torno de 40 minutinhos.

Vale lembrar que a cachaça de Paraty foi reconhecida no começo do ano como uma Denominação de Origem, que ajuda a protegê-la ainda mais e que nos lembra que a cachaça de Paraty é melhor degustada na própria Paraty.

3 hospedagens no centro de Paraty

Casa Turquesa

Com localização favorável no meio do centrinho, a construção é composta por três casarões, que nos oferecem uma arquitetura colonial com conforto contemporâneo. O café da manhã é dos deuses, com produtinhos artesanais e receitas feitas na hora. Os quartos são um convite ao descanso com móveis rústicos e ares de praia chique.
Casa Turquesa: Rua Dr. Pereira, 50 – Centro Histórico, Paraty – RJ / Tel.: (24) 3371-1037 / Reservas via site.

Pousada Literária

Hospedagem oficial da FLIP, a pousada é marcada pela literatura, com cada uma das 28 acomodações exibindo uma rica seleção de títulos, a maioria nacional. Uma biblioteca central é ponto de encontro e de calmaria logo em frente à agradável piscina, rodeada por um verdejante gramado. A tranquilidade reina, os quartos são acolhedores e o sofisticado restaurante Quintal das Letras recebe não hóspedes.
Pousada Literária: Rua do Comércio, 362
- Centro Histórico de Paraty, Paraty – RJ / Tel.: (11) 2770-0237 / Reservas via site

Sandi Hotel

Em um edifício do século 18 no Largo do Rosário, o Sandi Hotel transita entre o colonial e o contemporâneo, com quartos e áreas comuns recheados de toques leves, abajures e lustres de palha. Além de jardim, ofurô e sauna a vapor, há dois restaurantes, incluindo o Pupu’s, assim como o bar Apothekario e uma sorveteria, reunindo boas opções para hóspedes e não hóspedes.
Sandi Hotel: Largo do Rosário, 1 – Centro Histórico, Paraty – RJ / Tel.: (11) 2503-0195 / Reservas via site

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