Como tarifas dos EUA sobre café brasileiro podem impactar o mercado
O movimento é tão audacioso quanto problemático, já que o Brasil é o maior fornecedor da bebida mais consumida dos escritórios americanos

Em um daqueles lances que parecem saídos de um roteiro meio surreal, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou uma tarifa de 50% sobre o café brasileiro, que iniciou na quarta-feira (6).
O movimento é tão audacioso quanto problemático, já que o Brasil é, com folga, o maior fornecedor da bebida mais consumida dos escritórios americanos. Mais de um quarto de todo o café que entra nos EUA vem direto das nossas lavouras. Boa sorte em tentar substituir isso.
Sim, os americanos bebem café como quem respira, e o Brasil é, há tempos, a cafeteria global que mantém essa cafeína circulando. Segundo dados da FAO (Organização para Alimentação e Agricultura da ONU), mais de 25% das importações norte-americanas de café são “made in Brazil”, uma relação estreita, quase afetiva. E com cheiro de café coado.
Para piorar (ou melhorar, dependendo de onde você está sentado na mesa do comércio internacional), a produção brasileira não dá sinais de cansaço. O USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) projeta uma safra de 65 milhões de sacas para 2025 e 2026.
É café que não acaba mais: 40,9 milhões de arábica e 24,1 milhões de robusta, um verdadeiro oceano marrom de cafeína. E, claro, grande parte disso segue direto para os porões dos cargueiros rumo ao hemisfério norte.
Existem substitutos?
Com a tarifa, os EUA terão um problema: como encontrar um substituto à altura? A Colômbia, segundo maior produtor de arábica, já está entregando tudo que pode, cerca de 10 milhões de sacas, e em leve queda.
E a América Central? Bem, também está fazendo o possível. O Vietnã entra com o café robusta, mas com uma tarifa de 20% já no pacote. Em resumo, não vai ser fácil nem barato.
O resultado? O consumidor americano pode preparar o bolso, já que o café do dia a dia está prestes a ficar com gosto de inflação. As prateleiras não vão esvaziar da noite para o dia, mas a combinação de tarifas, gargalos logísticos e a boa e velha lei da oferta e demanda vai pesar. E, como sempre, quem paga a conta é quem está na fila dos “Coffee Shops”.
O mercado, claro, fica de olho. Ainda não se sabe se essas tarifas vão mexer com os preços do café na bolsa, mas uma coisa é certa: a menor demanda americana pode jogar o valor do grão para baixo. Por outro lado, a possível queda no real, consequência da menor procura pelos nossos produtos, pode deixar o café brasileiro mais barato e irresistível para outros mercados.
Ou seja, se os EUA virarem a cara para o nosso café, o resto do mundo pode aproveitar o “saldão” verde-amarelo. No fim das contas, talvez a gente nem sinta tanta falta assim dos ianques, mas com certeza ficará mais difícil acordar sem o nosso café “brazuca”.
*Os textos publicados pelos Insiders e Colunistas não refletem, necessariamente, a opinião do CNN Viagem & Gastronomia.
Sobre Caio Tucunduva

Engenheiro civil, Caio Tucunduva também é especialista e mestre em sustentabilidade pela USP (Universidade de São Paulo). Se apaixonou pelo mundo do café e, já especialista em hospitalidade, começou pelos cursos do Senac de barista e gestão de bares e restaurantes. Depois, formou-se como degustador e classificador de café. Também se tornou mestre de torra, fez cursos com grandes mestres e especialistas. Foi para a Austrália oferecer consultoria de torra de café brasileiro e aprendeu novas técnicas, como a blendagem de café verde, uma de suas marcas registradas. Ainda desenvolveu uma técnica de maturação de cafés especiais em madeiras e destilados. Hoje, percorre o país atrás de bons produtores.