Restaurante TUJU foi a mais aguardada e brilhante reabertura de 2023

Com um serviço impecável, ambiente elegante e pesquisas que se transformam em pratos autorais, a experiência gastronômica no Tuju transcende, proporcionando uma explosão de sabores e saberes

Daniela FilomenoTina Binido Viagem & Gastronomia , São Paulo, SP

É impossível falarmos de alta gastronomia sem mencionar o nome de Ivan Ralston. Um dos chefs de cozinha mais talentosos do Brasil, ele inaugurou o Tuju em São Paulo em 2014, conquistando rapidamente uma estrela Michelin em 2015. No ano seguinte, entrou pela primeira vez na lista dos 50 melhores restaurantes da América Latina (LatAm 50 Best Restaurants). Em 2018, recebeu a segunda estrela Michelin e, em 2019, entrou na premiação La Liste, figurando entre os 100 melhores restaurantes do mundo. Ivan também foi nomeado um dos 100 melhores chefs do mundo pelo The Best Chefs Awards.

Mesmo no auge, conquistando reconhecimento e admiradores, o chef decidiu, em 2020, revisitar sua trajetória. Fechou o Tuju e inaugurou uma versão mais informal, o Tujuína, com uma promessa: o Tuju voltaria!

Para nossa sorte, o Tuju retornou em setembro de 2023 com grande pompa. Uma volta triunfal como pouco se viu na gastronomia.

A começar pelo espaço, um imóvel exuberante de três andares, situado numa rua sem saída, silenciosa e que parece destoar do agito da Av. Brigadeiro Faria Lima, localizada a poucos passos dali. O ambiente conta com amplos jardins verticais, é moderno e convidativo, ao mesmo tempo que instiga a curiosidade: o que estará no andar de cima? E atrás daquela porta?

No térreo, logo ao entrar, encontra-se um amplo bar decorado com livros, destacando-se uma enorme jabuticabeira bem ao centro, circundada por mesinhas altas. Ao fundo, a adega chama a atenção, encantando qualquer apreciador de bebidas. É aqui que a visita se inicia com pequenas entradas para serem degustadas com as mãos, em uma única bocada, acompanhadas por drinques.

Ao longo da noite, o comensal transita entre os andares, mas não se trata apenas de uma “simples troca” de andares; é uma troca de experiências. Cada espaço proporciona situações únicas.

No segundo andar, encontra-se a cozinha totalmente aberta, com apenas nove mesas redondas ao redor. Aqui é onde a mágica acontece diante de nossos olhos.

Snacks e drinques são servidos no térreo em ambiente elegante com uma jabuticabeira no centro / Tina Bini

Como numa coreografia, cada membro da equipe ocupa seu espaço e executa movimentos leves e silenciosos, conferindo à cozinha do TUJU uma atmosfera quase teatral. O chef e sua equipe se comunicam pelo olhar, o serviço impecável se desenrola ritmicamente, e o menu de 10 tempos (R$ 890), autoral e leve, surpreende a cada etapa.

Os menus degustação sazonais são pautados nos desdobramentos decorrentes de imersões do chef Ivan e da pesquisadora gastronômica Katherina Cordás nos diversos biomas brasileiros. Inúmeras visitas a produtores em diferentes épocas do ano, reflexões, pesquisas e estudos de ingredientes resultaram no Centro de Pesquisa e Criatividade TUJU, conhecido como TUJU Pesquisa, dedicado ao estudo e aprofundamento de ingredientes por meio da sazonalidade e do território, com um olhar especial para a culinária paulistana.

O menu do TUJU é pautado pela época das chuvas com foco em produtores do interior paulista / Rubens Kato

“Destrinchamos ingredientes locais e sazonais para entender sua forma, textura, aroma e sabor, além de pesquisar sua história, origem, incidência e auge”, explica Katherina, diretora do Centro e líder de uma equipe que congrega acadêmicos, pesquisadores e cozinheiros.

Foram inúmeros quilômetros rodados até chegarem a um conceito que conjuga a história de sucesso digna de duas estrelas do Guia Michelin a um projeto de futuro pautado pelo multiculturalismo e refinamento da capital paulista, refletidos em uma cozinha sazonal de vanguarda, feita com ingredientes únicos, de proximidade.

Batizados de Umidade (primavera), Chuva (verão), Ventania (outono) e Seca (inverno), cada menu reflete as influências do clima sobre os ingredientes ao longo do ano. “Entendemos que a sazonalidade paulistana se manifesta de forma muito mais clara pelas chuvas de cada estação do que pela temperatura, como acontece no hemisfério Norte”, explica Katherina.

Carne do curraleiro/ Tina Bini

A experiência cativa o paladar e transforma o ato de comer em um “verdadeiro acontecimento”. Uma cozinha que valoriza o ingrediente e que, com intervenções precisas, apresenta itens inesquecíveis, onde nenhum ingrediente entra despropositadamente. Tudo contribui para agregar sabor, textura, profundidade ou estrutura à comida.

No dia da nossa visita, itens como vieiras com molho coral e maracujá vermelho; salada para limpar o paladar servida num taco de pupunha com hommus de feijão de corda; tucupi; garoupa com ervilha torta e pimenta verde; carne do curraleiro, a carne de gado crioulo, que tem sabor mais intenso e é acompanhada de aspargos envoltos em folhas de ora pró nobis; uma sobremesa feita com morango, requeijão, azeite e baunilha do Cerrado de comer ajoelhado brilharam em cada etapa.

Outros detalhes também encantam, como o carrinho de madeira que chega com pães quentinhos, as louças elegantes que valorizam ainda mais os preparos e os vinhos, que são um capítulo à parte.

Adega do Tuju é impactante com rótulos premiados, consagrados e muitas descobertas / Tina Bini

A equipe, comandada pela head sommelière Juliana Carani e Tiago Menezes, executa com maestria a missão de harmonizar o menu de Ralston com produtores raríssimos, além de nomes consagrados de Bordeaux, como Château Margaux, Latour, Haut-Brion, La Mission Haut-Brion e Palmer. Bem como de Champagne, como Krug, Dom Perignon e Cédric Bouchard.

São 5 mil garrafas, divididas em cerca de mil rótulos, armazenadas na linda adega de dois andares que ganha uma playlist especial de música clássica ao fundo. Vale pedir para visitar esse espaço tão especial.

As bebidas podem ser harmonizadas com a refeição em duas opções. Uma delas oferece dez vinhos diferentes por R$ 690. A versão com rótulos especiais e raros sai a R$ 1.500, com opções dificilmente servidos em taça.

Depois desse menu degustação autentico, autoral e servido por um dos melhores serviços do Brasil, é hora de subir para o terceiro e último andar.

Lá, um bar com sofás e uma grande mesa compartilhada finalizam a experiência com café, chá, drinques ou apenas uma tábua de queijos selecionados a dedo com méis do interior paulista. Na decoração, itens das expedições do TUJU Pesquisa ficam disponíveis e nos fazem entender ainda mais cada item degustado e o conceito desse que é o único restaurante brasileiro com instituto de pesquisa interno, constantemente dedicado a entender seu entorno, seus ingredientes, produtores, processos e métodos de forma aprofundada.

Ambiente do último andar e onde finaliza a experiência gastronômica do visitante / Rubens Kato

Que bom que na gastronomia paulistana aparecem e reaparecem personagens. Saímos com a certeza que o Tuju é uma cozinha capaz de angariar qualquer prêmio máximo na gastronomia, com um trabalho autoral de pesquisa.

“A gente não deve mirar essas coisas, falar que nosso objetivo é ganhar estrela Michelin. Acho que o objetivo é atender bem os clientes. Se eles ficarem felizes, com o tempo essas coisas virão naturalmente, e a gente não precisa ficar se preocupando muito”, diz Ivan Ralston em entrevista a Daniela Filomeno no programa CNN Viagem & Gastronomia. O chef ainda completou que se sentiram super apoiados pela comunidade de São Paulo para a reabertura e nesses primeiros meses provavelmente 99% das reservas foram de pessoas da cidade.

Confira o programa completo aqui:

Vida longa ao Tuju!

Tuju: R. Frei Galvão, 135, Jardim Paulistano / Horário de funcionamento: terça a sexta, das 19h às 22h; e sábado, das 12h às 15h e 19h às 22h. Serviço: apenas menu-degustação / Harmonização: Descobertas (R$ 690) e Clássicos  (R$ 1.500) /  Apenas com reservas: www.tuju.com.br

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