Coronavírus faz turista levar álcool em gel e máscara em Aeroporto de Guarulhos

Chegada do vírus no Brasil tem criado novos hábitos entre passageiros e mudado a rotina de funcionários no maior aeroporto da América do Sul

Estadão Conteúdo
Aeroporto de Guarulhos
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Viajantes no aeroporto de Guarulhos
Viajantes usam máscaras de proteção no aeroporto de Guarulhos
Foto: Amanda Perobelli/Reuters (31.01.2020)

A chegada do coronavírus no Brasil tem criado novos hábitos entre passageiros e mudado a rotina de funcionários no aeroporto de Guarulhos, o maior da América do Sul, com movimentação de mais de 120 mil passageiros por dia. Viajantes, principalmente quem vai ao exterior, incorporaram novos itens antes de fechar a mala: álcool em gel e máscaras. Funcionários também usam novos equipamentos de proteção individual, como máscara e luvas.

De partida para um passeio de 15 dias a Londres, o aposentado Edvaldo de Oliveira levou 20 frascos de álcool gel na bagagem. No setor de embarque do terminal, também usava máscara. “Não há motivo para pânico, mas é melhor prevenir”, diz. “Foi uma das primeiras coisas que coloquei na mala.”

A preocupação também fez com que a família do investidor Wilian Guedes fosse toda de máscara ao aeroporto. Além dele, estavam a mulher, Gisele Ferraz, a filha, Anajara, e Marina Santos. Eles foram receber Meiri, filha de Marina, que também chegou de máscara, vinda da Flórida (EUA). “Falta ao Brasil um pouco de prevenção. A gente só se preocupa depois que os casos acontecessem”, aponta a fisioterapeuta Gisele.

A estudante de Nutrição Jordana Costa acabou de voltar. Comprou uma caixa com 50 máscaras quando viajou de férias aos Estados Unidos. Lá, comprou mais e não tirou o acessório para nada durante 33 dias na Califórnia. “Só tiramos a máscara para comer ou quando percebíamos que era hora de trocar”, diz ela, de Goiânia.

A presença de profissionais com máscaras e luvas também evidencia a preocupação com a doença, que já tem 19 casos confirmados no país. O uso se intensificou nas últimas duas semanas. O jornal O Estado de São Paulo presenciou na quinta-feira o uso de luvas e máscaras por grande parte dos funcionários de atendimento, limpeza ou organização dos espaços, como responsáveis por recolher os carrinhos de bagagem.

No início de fevereiro, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) anunciou orientações sobre o uso de equipamentos de proteção não só para profissionais de aeroportos, mas de portos e áreas de fronteira.

“Caso haja (casos) suspeitos, a Anvisa recomenda máscara cirúrgica, avental, óculos de proteção e luvas. Profissionais que realizam inspeção de bagagens acompanhadas devem usar máscara cirúrgica e luvas”, diz a agência, que recomenda também máscaras a tripulantes de voos internacionais, agentes aeroportuários e funcionários de lojas duty-free.

Funcionária de uma empresa terceirizada de Cumbica há três meses Juciléia Maria conta que se sente mais segura com a proteção. Ela não tem ideia de quantos carrinhos recolhe por dia em Guarulhos e muito menos de quantas mãos passam por ali. “Muitos usam os carrinhos diariamente e a gente não sabe quem está com o coronavírus. É uma segurança para nós”, diz.

Desde o fim de janeiro, os principais aeroportos do país usam um alerta sonoro . As mensagens de um minuto - em português, inglês e mandarim - informam sobre sintomas e medidas para evitar a transmissão.

A orientação passada pela Anvisa aos aeroportos é para que os órgãos sanitários sejam notificados imediatamente em caso de suspeita - pessoas em vias de desembarque que apresentam sintomas como tosse, febre e dificuldade para respirar. No caso dos passageiros a bordo, os tripulantes foram orientados a informar o comandante do voo se houver suspeita. Este fala com a torre de controle do aeroporto, que acionará a Anvisa.

O passageiro com sintomas será abordado antes do desembarque. A Anvisa aciona o serviço médico do aeroporto e a vigilância sanitária do município e a equipe vai a bordo para avaliar o paciente. Se o médico descarta o caso, o desembarque de todos é liberado. Se mantida a suspeita, o passageiro doente é removido para um hospital de referência. Os demais são entrevistados pela vigilância epidemiológica para monitoramento e o avião passa por desinfecção.

Tripulantes

Um dos “grupos de risco” da doença são trabalhadores do setor aeroviário (os que trabalham em terra) e do setor aeronáutico (que trabalham nos voos), em contato frequente com milhares de passageiros do mundo todo. O fato de estarem na linha de frente impõe o cumprimento de determinações da Anvisa. Mas eles tentam mostrar tranquilidade.

“Orientamos as empresas, que estão oferecendo equipamentos de proteção. Desenvolvemos um canal de denúncias para dar suporte a funcionários que não estão recebendo luvas e máscaras”, diz Rodrigo Maciel, do Sindicato dos Aeroviários de Guarulhos. Dados do sindicato apontam mais de 20 mil trabalhadores locais, sendo 12 mil em contato com aeronaves e operações de solo.

No exterior, muitas companhias cancelaram voos para áreas mais afetadas pelo surto. A Latam suspendeu até abril voos de São Paulo a Milão. Nos EUA, a American Airlines cancelou viagens para China e Milão após pressão dos empregados.