Bolsonaro volta a falar em “coincidência” de recuo de tropas russas e sua visita ao país
Declaração foi feita em Budapeste nesta quinta-feira; na véspera, presidente já havia dito, em Moscou, que ao manter sua agenda, "por coincidência ou não, parte das tropas deixaram a fronteira"
O presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a falar em “coincidência” entre sua viagem à Rússia e o suposto recuo de tropas russas na fronteira com a Ucrânia.
A declaração foi dada nesta quinta-feira (17), em Budapeste, após encontro de Bolsonaro com o presidente da Hungria, János Áder. Ao falar da conversa que teve com o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, Bolsonaro disse que passou a ele “o sentimento que tive nessa viagem, até mesmo pela coincidência de ainda estarmos em voo para Moscou e parte das tropas russas serem desmobilizadas da fronteira.”
“Entendo, sendo coincidência ou não, como um gesto que a guerra realmente não interessa a ninguém e que não interessa ao mundo que dois países entrem em guerra”, acrescentou Bolsonaro.
Na quarta-feira (16), em uma declaração à imprensa após reunião com Vladimir Putin, Bolsonaro já havia dito que “por coincidência ou não, parte das tropas deixaram a fronteira” da Ucrânia durante sua visita à Rússia.
Procurada pela CNN, a Embaixada da Rússia afirmou que não vai se manifestar sobre a declaração do presidente Bolsonaro.
“O Brasil é um país soberano. Tivemos informação de alguns países que gostariam que o evento não se realizasse, alguns acharam que o pior ia acontecer com a nossa presença aqui. Eu entendo. A leitura que eu tenho de Putin é que ele busca a paz, e qualquer conflito não interessa para ninguém no mundo. Mantivemos nossa agenda, por coincidência ou não, parte das tropas deixaram a fronteira. E, pelo que tudo indica, uma grande sinalização que o caminho para a solução pacífica se apresenta para a Rússia e a Ucrânia”, disse o presidente.
A declaração foi feita logo após um almoço e duas horas de conversas com Putin e uma coletiva conjunta dos dois presidentes, em Moscou.
A ida de Bolsonaro a Rússia chegou a ser questionada por ministros do governo por ocorrer em um momento sensível para a geopolítica da região: a Rússia é acusada por países-membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) de se organizar para atacar a Ucrânia; o país nega as intenções, mas exige dos Estados Unidos e aliados que limitem as atuações militares em conjunto com os ucranianos.
Moscou já havia anunciado uma retirada parcial das forças próximas à Ucrânia na terça-feira (15). A medida foi recebida com ceticismo, no entanto, e o presidente dos EUA, Joe Biden, disse que mais de 150.000 soldados russos ainda estão reunidos perto das fronteiras da Ucrânia.
Em resposta, nesta quarta-feira, o Ministério da Defesa da Rússia publicou um vídeo que mostra tanques e veículos militares saindo da Crimeia por uma ponte ferroviária após a conclusão de exercícios militares, acrescentando que algumas tropas também retornarão às suas bases permanentes.
Bolsonaro disse ainda que “o Brasil é um país pacifista e o mundo e vários outros países têm seus problemas, seus problemas regionais. Aqui existe um problema e nós estamos solidários com todo e qualquer país desde que o caminho para a busca desses impasses seja o pacífico.”
Notícia falsa
O ex-ministro Ricardo Salles publicou na terça-feira (15) uma montagem que atribui à CNN a informação de que Jair Bolsonaro evitou “a 3ª Guerra Mundial”. Na postagem fake, a frase mentirosa entra como suposta causa do recuo do presidente da Rússia, Vladimir Putin, para invasão da Ucrânia.
A sinalização de Putin tem sido veiculada pela CNN desde segunda-feira. A imagem publicada por Salles foi compartilhada por grupos bolsonaristas. Mais cedo, o presidente Bolsonaro publicou uma imagem em que a CNN Brasil informa o recuo de Putin.
Na mesma postagem, o presidente informou que já estava no espaço aéreo russo, mas não fez qualquer menção à frase mentirosa publicada por Salles.
Nesta quarta-feira, o Ministério da Defesa russo informou que algumas tropas nos distritos militares da Rússia adjacentes à Ucrânia estão retornando às suas bases depois de completar os exercícios militares.