Milei toma posse hoje como presidente da Argentina sob caos econômico

Economista fará discursos, assinará livros e terminará a agenda com evento de luxo

Tiago Tortella, da CNN, São Paulo
Javier Milei é eleito presidente da Argentina
Além de Lula, o presidente Joe Biden, dos Estados Unidos, também não estará presente no evento  • Tomas Cuesta/Getty Images
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O economista Javier Milei toma posse como presidente da Argentina neste domingo (10), após ter vencido o candidato governista Sergio Massa nas eleições deste ano.

Autodenominado libertário, Milei chegou à Presidência com propostas polêmicas — algumas consideradas radicais –, como o fechamento do Banco Central e a dolarização da economia do país.

A agenda de Milei começará pela manhã, com visita ao Congresso Nacional, onde fará o juramento e um discurso. Também fará uma passagem pela Casa Rosada, sede do governo argentino; participará de recepção de líderes estrangeiros; e terminará com um coquetel e festa de gala.

O governo brasileiro enviará o chanceler Mauro Vieira como representante na posse, conforme informou Caio Junqueira, analista de Política da CNN. Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não estará presente.

Além de Lula, o presidente Joe Biden, dos Estados Unidos, também não estará presente no evento.

Veja o cronograma da posse de Javier Milei, no horário de Brasília:

  • 10:30 -- Saída do Hotel Libertador
  • 11:00 -- Chegada ao Congresso Nacional
  • 11:10 -- Assinatura de livro de visitantes ilustres
  • 11:30 -- Juramento no Congresso e discurso no recinto
  • 12:00 -- Discurso para apoiadores do lado de fora, da escadaria do Congresso
  • 12:30 -- Volta para Casa Rosada em veículo conversível
  • 13:00 -- Missa na Catedral
  • 13:30 -- Recepção de líderes estrangeiros e outras autoridades
  • 17:30 -- Juramento dos ministros
  • 18:30 -- Coquetel
  • 20:00 -- Festa de gala no Teatro Colón

Encontro com Jair Bolsonaro

Na sexta-feira (8), Javier Milei se reuniu com o ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro (PL), em um hotel de Buenos Aires. Bolsonaro deve comparecer à posse neste domingo.

Ambos tiveram um encontro particular e, depois, se reuniram com a comitiva de congressistas de direita, como revelaram Gustavo Uribe e Leandro Magalhães, âncoras da CNN.

Em vídeo obtido pela CNN, Milei disse que é um orgulho receber a visita de Bolsonaro em Buenos Aires.

Veja alguns líderes internacionais que irão à posse de Milei

  • Luis Lacalle Pou, presidente do Uruguai;
  • Gabriel Boric, presidente do Chile;
  • Santiago Peña, presidente do Paraguai;
  • Deniel Noboa, presidente do Equador;
  • Viktor Orbán, presidente da Hungria
  • Renato Florentino Pineda, vice-presidente de Honduras
  • Rei Felipe VI da Espanha

Desafios de Milei

O partido do novo chefe de Estado conseguiu ampliar a base no Congresso nestas eleições, mas, ainda assim, está atrás dos movimentos de Sergio Massa e Patricia Bullrich.

Mesmo com o apoio de Bullrich durante o segundo turno, Milei provavelmente terá que negociar com os macristas para passar suas polêmicas pautas econômicas no Parlamento, conforme explica Leandro Consentino, especialista em Relações Internacionais e professor de Ciências Políticas do Insper.

Consentino ponderou que, diferentemente da eleição de Bolsonaro no Brasil, por exemplo, o argentino não subirá ao poder com uma base partidária consolidada no Congresso.

"Milei terá dificuldade, sim, e vai precisar negociar com essa centro-direita representada pelo macrismo para conseguir aprovar suas pautas. Percebe-se que ele vai ter que, de alguma forma, moderar o seu discurso para alcançar determinadas resoluções e transformar as pautas em legislação de fato", coloca o especialista.

Quando Milei foi eleito, Mauricio Macri afirmou que o novo presidente precisará do "apoio, confiança e paciência de todos". Além disso, o apoio de Macri foi fundamental para a vitória do libertário.

Isso pode indicar, ao menos, que Javier Milei pode ter uma abertura inicial com os apoiadores do ex-presidente.

Leandro Consentino ressalta que os grandes entraves serão as medidas econômicas mais radicais, como o fechamento do Banco Central e a dolarização da economia.

O especialista avalia que a "dinamitação" do Banco Central, como Milei anunciou durante a campanha, é "praticamente impossível de acontecer", pois a instituição é "reconhecida como algo importante para conservar a política monetária por quaisquer países minimamente dentro do jogo político, do jogo democrático e até países que não são necessariamente democráticos".

Por outro lado, a pauta de privatizações pode ter mais facilidade de passar no novo Congresso argentino. Milei indicou anteriormente que quer privatizar a petroleira estatal, companhia aérea e rede de TV.

Consentino adverte, porém, que haverá resistência de movimentos sociais e sindicatos quanto a essa última pauta, que colocarão "toda a carga política nas ruas contra essas medidas".