Por dentro do Kempinski Laje de Pedra, com investimento bilionário no RS
Empreendimento hoteleiro e residencial marca a estreia da sofisticada bandeira alemã na América do Sul, reunindo acomodações com mais de 200 m² e destinos gastronômicos

Fundado em Berlim em 1897, o selo de hotéis de luxo Kempinski tem hoje mais de 70 empreendimentos pelo mundo, com uma coleção que abrange desde capitais europeias e asiáticas até destinos de neve, praia e endereços na África, Dubai e até em Havana. Agora, a América do Sul também passa a fazer parte do mapa com a chegada da bandeira em Canela, na Serra Gaúcha.
Com entrega da obra prevista para novembro de 2026 e abertura total das operações em fevereiro de 2027, o Kempinski Laje de Pedra marca o renascimento do Hotel Laje de Pedra, semente da hotelaria de luxo na Serra, prometendo atrair uma nova demanda de alta renda na região.
Somente na obra, o investimento no projeto é de cerca de R$ 700 milhões. Se somadas outras despesas, o montante passa de R$ 1 bilhão, segundo José Ernesto Marino Neto, sócio-gestor do empreendimento, responsável por ajudar a trazer marcas como Tivoli, NH e Ramada ao país.
Os antigos quartos se transformarão em unidades de 53 a 209 metros quadrados e o projeto terá quatro piscinas, spa, mais de nove operações gastronômicas, anfiteatro e centro de convenções. A oportunidade de trazer a bandeira alemã para o Brasil surgiu no meio da pandemia e uma outra unidade já está sendo negociada para desembarcar em São Paulo.
Novos rumos

Situado à beira do Vale do Quilombo, em uma falésia de 400 metros, o Laje de Pedra teve os primeiros esboços rascunhados por Oscar Niemeyer, mas os traços modernistas tiveram autoria de Edgar Graeff.
Aberto em 1978, o hotel foi eleito o melhor do Brasil em diferentes ocasiões e foi palco para eventos diplomáticos e da elite cultural, como a organização da Festa Nacional do Disco, realizada a partir de 1981, e o encontro de autoridades dos países formadores do Mercosul em 1992, que assinaram a Declaração de Canela.
Em fase de obras, o edifício principal será totalmente revitalizado. “Vamos manter os arcos do modernismo. De resto, praticamente é uma nova edificação. Ainda que chamemos de retrofit, praticamente colocamos tudo abaixo”, conta José Ernesto Marino Neto. Entre as mudanças está a implementação de paredes e vidros duplos, por questão de acústica, além de portas corta-fogo, corta-vento e corta-som.
“No começo do projeto, um dos arquitetos disse: ‘imagine que há uma festa do David Guetta no corredor e que você está no quarto. Você não pode ouvir nada’”, lembra o sócio. “É um nível de sofisticação alto.”
O empreendimento hoteleiro e residencial reunirá apartamentos e um núcleo de serviços e experiências. Hoje, a propriedade já está em operação com um restaurante, uma enoteca, um auditório para 400 pessoas, loja, galerias de arte e sala imersiva.
“Nosso restaurante 1835 Carne e Brasa recebe mais de nove mil pessoas por mês, faturando mais que muitos restaurantes pelo Brasil”, aponta Marino Neto. Ao todo, o complexo contará com cerca de uma dezena de operações gastronômicas, incluindo bar de esportes com pistas de boliche, delicatessen com produtos alemães, e rooftop bar com drinques autorais e música.
Por conta da localização, o vinho, claro, não poderia ficar de fora. A enoteca tem mais de 500 rótulos, com a participação de mais de 40 vinícolas gaúchas. A partir de agora, todos os meses serão realizadas degustações com os parceiros dentro da propriedade.
“O Laje de Pedra sempre foi um destino aspiracional. Percebemos que ter produtos de qualidade na Serra é essencial, então ter um volume grande de operações é importante não apenas para quem está dentro da propriedade, mas também para quem vem de fora”, explica José Ernesto.
Detalhes do projeto
O Kempinski Laje de Pedra será como uma pequena cidade, com mais de mil colaboradores e capacidade para 1.200 hóspedes e proprietários ao mesmo tempo. Ao todo, o empreendimento prevê 360 acomodações, entre unidades hoteleiras e residenciais. O design de interiores é do escritório Anastassiadis, o mesmo por trás da decoração do Palácio Tangará, em São Paulo, e do Fairmont Copacabana, no Rio.
"Fala-se muito de personalização, mas é difícil quando você tem muitas pessoas em um mesmo ambiente. Para conseguir isso, deve haver uma combinação das pessoas certas, com o treinamento adequado, e proporcionar ao time o ambiente mais apropriado para que haja espaço para imprimir a própria assinatura, sem deixar de ser profissional e amigável", indica Aurelia Van Lynden, vice-presidente de experiências da Kempinski.
Na parte de lazer, quatro piscinas serão destaque: uma com borda infinita para o Vale do Quilombo, outra no rooftop, além de interna e kids. O spa terá mais de mil metros quadrados e também vistas para o vale.
Programações culturais ficarão por conta do anfiteatro ao ar livre; o centro de convenções terá sete ambientes; e uma praça de convivência espalhada por 2.500 metros quadrados reunirá salão de beleza, floricultura e lojas.
Para hóspedes, espera-se que as tarifas comecem entre US$ 550 e 600, valores entre R$ 2.940 e R$ 3.200 na cotação atual.
“A Serra Gaúcha será desejada pelo norte-americano, não tanto pelo europeu, mas também por brasileiros que costumam viajar para o exterior e ficar em um Kempinski. A demanda de alta renda já existe na Serra, mas em número reduzido. Agora temos um aeroporto da Infraero em Canela que pode receber jatos. É um convite para que a demanda se amplie”, analisa José Ernesto Marino Neto.
O projeto também envolve as Kempinski Residences, imóveis escriturados integrados aos serviços e à infraestrutura do hotel, com área total privativa de 30 mil metros quadrados. Entre os proprietários, 65% são do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, público que enxerga a proposta como uma segunda residência.
Serviço: um desafio
Um dos maiores desafios na implementação de um complexo desse porte é o serviço.
Entra na conta não só um serviço correto e no tempo certo, mas a antecipação de necessidades e desejos, além de postura e tom de voz adequados. Isso faz com que você se sinta um verdadeiro rei. E isso leva tempo para ensinar as pessoas
Parte desse ensinamento foi levar alguns profissionais do Kempinski Laje de Pedra para uma imersão no DNA da marca em Bangkok, na Tailândia, e em Bali, na Indonésia. O mesmo acontecerá com o gerente-geral da propriedade, cargo em fase final de contratação.
A vice-presidente de experiências da rede concorda com o direcionamento. "Os times estão trabalhando duro nos treinamentos, não somente nas questões da língua, mas também na postura e nos modos. Quando as pessoas me perguntam o que é luxo, digo que é sobre um sentimento. É sobre saber ler o hóspede e fazê-lo se sentir especial”, resume Van Lynden.


