Saiba qual foi o papel dos 37 indiciados por tentativa de golpe, segundo a PF
Inquérito que apura o caso está na PGR, que irá avaliar se os citados serão denunciados ou não
No relatório de 884 páginas elaborado pela Polícia Federal (PF) para indiciar 37 pessoas por tentativa de golpe de Estado, são listados os papéis de cada um dos envolvidos na suposta trama.
As provas coletadas pelos investigadores foram encaminhadas à Procuradoria-Geral da República (PGR), que agora vai decidir se denuncia ou não os citados, entre os quais está o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
O que diz a investigação da PF:
1) Jair Bolsonaro
- planejou, atuou e teve o domínio de forma direta e efetiva dos atos executórios realizados pela organização criminosa que objetivava a concretização de um golpe de Estado e da Abolição do Estado Democrático de Direito, fato que não se consumou em razão de circunstâncias alheias à sua vontade;
- grupo investigado, liderado por Jair Bolsonaro, criou, desenvolveu e disseminou a narrativa falsa da existência de vulnerabilidade e fraude no sistema eletrônico de votação do País desde o ano de 2019;
- com apoio do núcleo jurídico da organização criminosa, elaborou um decreto que previa uma ruptura institucional, impedindo a posse do governo legitimamente eleito;
- convenceu o general Estevam Theófilo, chefe do Comando de Operações Terrestres do Exército (Coter), a aderir ao golpe, diante da recusa do comandante do Exército.
2) Walter Souza Braga Netto
- elementos probatórios obtidos ao longo da investigação evidenciam a sua participação concreta nos atos relacionados à tentativa de golpe de Estado e da Abolição do Estado Democrático de Direito, inclusive na tentativa de embaraçamento e obstrução do presente procedimento;
- aprovou plano de golpe em reunião com militares em sua casa, em 12 de novembro de 2022;
- faria parte de gabinete de crise pós-golpe;
- pressionou ex-comandantes das Forças Armadas a aderirem ao golpe;
- tentou acessar informações sobre acordo de delação premiada de Mauro Cid.
3) Mauro Cesar Barbosa Cid
- atuou em diversos núcleos da estrutura da organização criminosa com a finalidade de desestabilizar o Estado Democrático de Direito;
- participou da produção e difusão de “estudos” que teriam identificado supostas inconsistências nas urnas eletrônicas produzidas antes de 2020;
- fez parte do núcleo responsável por incitar militares a aderirem ao golpe de Estado; articulou a elaboração e a disseminação da denominada “Carta ao Comandante do Exército de Oficiais Superiores da Ativa do Exército Brasileiro”;
- acompanhou ataques e fake news contra os comandantes do Exército que se negavam a aderir à tentativa de ruptura do Estado Democrático de Direito;
- recebeu informações sobre o monitoramento do ministro Alexandre de Moraes.
4) Ailton Gonçalves Moraes Barros
- atuou como integrante do núcleo responsável por incitar a adesão de militares ao golpe de Estado e difundir ataques pessoais aos militares que não aderissem os planos da organização criminosa;
5) Alexandre Castilho Bitencourt da Silva
- foi dos responsáveis pela elaboração e aprimoramento do documento produzido que viria a público como a “Carta ao Comandante do Exército de Oficiais Superiores da Ativa do Exército Brasileiro”, como parte da estratégia para incitar os militares e pressionar o Alto Comando do Exército a aderir ao plano de golpe de Estado;
6) Alexandre Rodrigues Ramagem
- atuou de forma proativa, de um lado, como chefe da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), solicitando e recebendo documentos que atacavam o sistema de eleitoral brasileiro, do outro, assessorando e municiando o então presidente Jair Bolsonaro com estratégias de ataques às instituições democráticas, ao Poder Judiciário e seus respectivos membros, bem como ao sistema eleitoral de votação, especialmente as urnas eletrônicas;
7) Almir Garnier Santos
- à época dos fatos investigados, exercia o comando da Marinha do Brasil; o arcabouço probatório obtido ao longo da investigação demonstra que o almirante anuiu com o golpe de Estado, colocando as tropas à disposição do então presidente da República;
8) Amauri Feres Saad
- elementos probatórios confirmaram que o investigado atuou juntamente com Filipe Martins e com o padre José Eduardo de Oliveira e Silva na elaboração de uma minuta de golpe de Estado, que posteriormente foi lida pelo assessor presidencial em uma reunião com o então presidente, com os comandantes das Forças Armadas e com o ministro da Defesa em 7 de dezembro de 2022;
9) Anderson Gustavo Torres
- provas colhidas demonstram que, na estrutura ordenada previamente criada dentro da organização criminosa, integrou ao menos dois núcleos: Núcleo de Desinformação e Ataques ao Sistema Eleitoral e o Núcleo Jurídico;
10) Anderson Lima de Moura
- tendo sido um dos responsáveis pela elaboração, revisão e aprimoramento do documento produzido que viria a público como a “Carta ao Comandante do Exército de Oficiais Superiores da Ativa do Exército Brasileiro”, como parte da estratégia para incitar os militares e pressionar o Alto Comando do Exército a aderir ao plano de golpe de Estado;
11) Angelo Martins Denicoli
- atuou diretamente na produção e difusão de “estudos” que teriam identificado supostas inconsistências nas urnas eletrônicas produzidas antes de 2020, fato que, inclusive, embasou representação do PL para anular os votos computados nas referidas urnas;
12) Augusto Heleno Ribeiro Pereira
- atuou de forma destacada no planejamento e execução de medidas para desacreditar o processo eleitoral brasileiro e para subverter o regime democrático.
13) Bernardo Romão Correa Netto
- foi o idealizador e responsável por articular e marcar, juntamente com o coronel (atual general) Nilton Diniz Rodrigues, a reunião realizada no dia 28 de novembro de 2022, em Brasília, que teve o objetivo de executar ações voltadas a pressionar os comandantes do Exército a aderirem ao golpe de Estado para manter o então presidente da República Jair Bolsonaro no poder, além de ações para atingir o ministro Alexandre de Moraes, denominado de “centro de gravidade”;
14) Carlos Cesar Moretzsohn Rocha
- o representante do Instituto Voto Legal (IVL), atuou em unidade de desígnios com Valdemar Costa Neto e Jair Bolsonaro para disseminar teses de indícios de fraudes nas urnas eletrônicas que circulavam pelas redes sociais, sem qualquer método científico;
15) Carlos Giovani Delevati Pasini
- foi dos responsáveis pela elaboração, revisão e aprimoramento do documento produzido que viria a público como a “Carta ao Comandante do Exército de Oficiais Superiores da Ativa do Exército Brasileiro”, como parte da estratégia para incitar os militares, pressionar o Alto Comando do Exército a aderir ao plano de golpe de Estado e manter a mobilização de civis nas imediações de quartéis;
16) Cleverson Ney Magalhães
- participou da reunião realizada no dia 28 de novembro de 2022, em Brasília, que teve o objetivo de planejar e executar ações voltadas a pressionar os Comandantes do Exército a aderirem ao Golpe de Estado, para manter o então presidente da República no poder, além de ações para atingir Alexandre de Moraes;
17) Estevam Cals Theophilo Gaspar de Oliveira
- então comandante de Operações Terrestres do Exército, anuiu com o golpe de Estado, colocando as tropas à disposição do então presidente da República;
18) Fabrício Moreira de Bastos
- teve atuação relevante nos atos desencadeados pelo grupo no intento golpista; as evidências indicam que o coronel foi um dos participantes da reunião realizada na data de 28 de novembro de 2022, em Brasília, que teve o objetivo de planejar e executar ações voltadas a pressionar os Comandantes do Exército a aderirem ao golpe de Estado;
19) Filipe Garcia Martins
- atuou na interlocução com juristas para elaborar uma minuta de teor golpista que, posteriormente, foi apresentada ao então presidente Jair Bolsonaro, aos comandantes das Forças Armadas e ao ministro da Defesa no dia 7 de dezembro de 2022, em reunião no Palácio do Alvorada;
20) Fernando Cerimedo
- atuou diretamente para disseminar, por meio de uma live realizada no dia 4 de novembro de 2022, o que ele chamou de “investigação” sobre as eleições brasileiras;
21) Giancarlo Gomes Rodrigues
- subtenente do Exército Brasileiro cedido a Abin, atuou sob o comando de Alexandre Ramagem, em ações visando criar informações inverídicas relacionadas aos ministros do STF Luís Roberto Barroso e Luiz Fux com o objetivo de desacreditar o processo eleitoral;
22) Guilherme Marques de Almeida
- atuou para burlar a ordem judicial de bloqueio do conteúdo falso sobre o sistema eleitoral brasileiro, disponibilizando o material produzido por Fernando Cerimedo em servidores localizados fora do país;
23) Hélio Ferreira Lima
- na divisão de tarefas designadas pelo grupo criminoso, teve atuação relevante na disseminação da narrativa falsa de vulnerabilidades nas urnas eletrônicas, bem como foi um dos responsáveis pelo planejamento estratégico para implementação do golpe de Estado, além de ter integrado o núcleo de militares com formação em forças especiais que realizaram monitoramento do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva e do ministro Alexandre de Moraes;
24) José Eduardo de Oliveira e Silva
- atuou na elaboração de uma minuta de golpe de Estado, que posteriormente foi lida pelo assessor presidencial em uma reunião com o então presidente com os comandantes das Forças Armadas e com o ministro da Defesa em 7 de dezembro de 2022;
25) Laercio Vergilio
- general da reserva, atuou como integrante do núcleo responsável por incitar a adesão de militares ao golpe de Estado e difundir ataques pessoais aos militares que não aderissem os planos da organização criminosa;
26) Marcelo Bormevet
- a difusão de informações falsas diretamente vinculadas a ministros da Suprema Corte e de seus familiares era intencionalmente difundida no grupo nominado por Marcelo Bormevet como “grupo dos malucos” e também em outras redes sociais destacando a plena ciência dos interlocutores da desarrazoada desinformação produzida;
27) Marcelo Costa Câmara
- integrou dentro da divisão de tarefas estabelecida pela organização criminosa, núcleo de inteligência paralela; o grupo desenvolveu diversas ações clandestinas, utilizando, de forma ilícita, órgãos do Estado brasileiro;
28) Mario Fernandes
- foi o responsável pela elaboração do planejamento operacional “Punhal Verde Amarelo”, que se refere ao planejamento da ação clandestina para assassinar Moraes, Lula e o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB); atuou como o elo entre os líderes dos manifestantes golpistas instalados principalmente no QG do Exército em Brasília e a Presidência da República, coordenando o planejamento e a execução de atos antidemocráticos, conforme o interesse da organização criminosa;
29) Nilton Diniz Rodrigues
- na época dos fatos, atuava como assistente do comandante do Exército, general Freire Gomes, ou seja, no período, exercia uma função estratégica, dentro do planejamento do grupo criminoso, para tentar influenciar o então comandante da Força Terrestre;
30) Paulo Renato de Oliveira Figueiredo Filho
- foi o responsável por divulgar informações falsas com o objetivo de incitar integrantes do meio militar a se voltarem contra comandantes que se posicionavam contra a ação criminosa que estava em execução;
31) Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira
- atuou de forma concreta para tentar pressionar os então Comandantes das Forças Armadas a aderirem ao plano de golpe de Estado, visando garantir o suporte armado para as medidas de exceção que seriam adotadas pelo então presidente Jair Bolsonaro;
32) Rafael Martins de Oliveira
- atuou diretamente nas ações de monitoramento do ministro Alexandre de Moraes nos meses de novembro e dezembro de 2022;
33) Ronald Ferreira de Araújo Junior
- foi um dos responsáveis pela elaboração, revisão e aprimoramento do documento produzido que viria a público como a “Carta ao Comandante do Exército de Oficiais Superiores da Ativa do Exército Brasileiro”, como parte da estratégia para incitar os militares, pressionar o Alto Comando do Exército a aderir ao plano de Golpe de Estado e manter a mobilização de civis nas imediações de quartéis;
34) Sergio Ricardo Cavaliere de Medeiros
- foi um dos responsáveis por propagar e coletar assinaturas de militares para a “Carta ao Comandante do Exército de Oficiais Superiores da Ativa do Exército Brasileiro” com teor antidemocrático.
35) Tércio Arnaud Tomaz
- foi o responsável por repassar o conteúdo editado da live realizada pelo argentino Fernando Cerimedo em 04 de novembro de 2022, no qual propagou ataques às urnas eletrônicas e ao processo eleitoral brasileiro;
36) Valdemar Costa Neto
- na condição de presidente do PL, atuou de forma dolosa no ajuizamento de “Representação Eleitoral para Verificação Extraordinária” junto ao TSE pela agremiação partidária em novembro de 2022, a partir de ‘‘argumentos técnicos’’ os quais tinha ciência de que eram falsos, ou seja, sem qualquer fraude ou irregularidade no sistema das urnas eletrônicas que comprometesse o pleito realizado em outubro de 2022;
37) Wladimir Matos Soares
- atuou como elemento auxiliar do núcleo vinculado à tentativa de golpe de Estado, fornecendo informações relativas à segurança de Lula, fato que se enquadra no contexto do planejamento operacional “Punhal verde amarelo”, que descreveu a possibilidade de assassinar o presidente eleito.
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