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    Riscos da guerra na Ucrânia vão muito além de suas fronteiras, diz Joe Biden

    Presidente dos Estados Unidos está na Europa para coordenar a resposta conjunta dos países do Ocidente contra a Rússia após a invasão da Ucrânia

    Kevin LiptakMaegan Vazquezda CNN

    O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse às tropas americanas em uma missão perto da fronteira com a Ucrânia que as consequências do conflito violento a 80 quilômetros de distância podem se estender ao redor do mundo.

    “O que está em jogo não é apenas o que estamos fazendo aqui na Ucrânia para ajudar o povo ucraniano e impedir que o massacre continue, mas, além disso, o que está em jogo é como serão seus filhos e netos em termos de liberdade”, ressaltou Biden aos militares dos EUA da 82ª Divisão Aerotransportada.

    O batalhão foi posicionado ao longo da borda leste do território da Organização do Tratado do Atântico Norte (Otan) como um impedimento visível ao presidente russo, Vladimir Putin.

    “O que vocês estão fazendo é muito mais do que se podemos ou não aliviar o sofrimento da Ucrânia”, continuou ele. “Estamos em uma nova fase, a sua geração. Estamos em um ponto de inflexão”, acrescentou.

    A declaração foi uma visão abrangente da guerra em andamento na Ucrânia, que sacudiu o Ocidente para uma cooperação sem precedentes, ao mesmo tempo em que fez milhões fugirem de suas casas, principalmente para a Polônia.

    Biden pôde testemunhar esses dois fatores de perto durante sua visita à cidade polonesa de Rzeszow, que atuou como uma área de preparação para a assistência militar ocidental à Ucrânia, além de servir como ponto de passagem para pessoas que fugiam da violência.

    Enquanto o presidente desembarcava, mísseis antiaéreos podiam ser vistos no terreno do aeroporto. Mais tarde, ele se reuniu com trabalhadores humanitários para ouvir seus relatos de esforços para aliviar a crise humanitária, a qual disse ter sido desencadeada por um líder – Vladimir Putin – a quem ele novamente descreveu como um criminoso de guerra.

    Falando durante uma mesa redonda focada na questão dos refugiados, Biden destacou que teria preferido ver a crise de uma perspectiva ainda mais próxima, mas foi impedido por questões de segurança.

    “Eles não vão me deixar, compreensivelmente, eu acho, cruzar a fronteira e dar uma olhada no que está acontecendo na Ucrânia”, afirmou. A Casa Branca informou que não explorou a ideia de uma visita à Ucrânia.

    Biden disse às tropas americanas, reunidas dentro de um estádio, que sua missão era mais do que simplesmente enviar uma mensagem à Rússia. Em vez disso, ele observou que estavam agindo como um sinal para todos os autocratas do mundo.

    “A questão é: quem vai prevalecer? A democracia vai prevalecer e os valores que compartilhamos? Ou as autocracias vão prevalecer? Isso é realmente o que está em jogo”, pontuou.

    Ecoando o quadro expansivo de política externa que adotou anteriormente, mas com um “toque russo”, ele afirmou que os membros do serviço americano reunidos estavam “no meio de uma luta entre democracias e oligarcas”.

    Joe Biden está na Europa em uma tentativa apressada de reforçar a cooperação ocidental e garantir aos países que os Estados Unidos ajudarão a manter sua segurança. Antes de chegar à Polônia, ele anunciou uma nova iniciativa com a União Europeia destinada a privar Putin dos lucros de energia, que Biden alegou serem utilizados ​​para alimentar a guerra da Rússia na Ucrânia.

    Falando em Bruxelas ao lado da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, o líder americano destacou que a Rússia está usando seu suprimento de petróleo e gás para “coagir e manipular seus vizinhos”.

    Ele acrescentou que os Estados Unidos ajudarão a Europa a reduzir sua dependência do petróleo e gás russos e garantirão que o continente tenha suprimentos suficientes para os próximos dois invernos.

    Encontro com tropas na Polônia

    Biden chegou ao meio-dia de sexta-feira (25) na Polônia, onde as questões de segurança regional e a catástrofe humanitária que havia discutido durante uma série de cúpulas um dia antes foram colocadas em foco.

    “Eu só queria passar por aqui e dizer obrigado. Obrigado, obrigado e obrigado”, disse o presidente ao entrar em uma cafeteria onde as tropas americanas se reuniram, acrescentando: “não é exagero sugerir que vocês são a melhor força de combate no mundo… na história do mundo.”

    O presidente deixou claro que as tropas dos EUA não viajarão para a Ucrânia para combater diretamente as forças russas, sugerindo que tal passo levaria à Terceira Guerra Mundial. Mas ele ordenou novos desdobramentos rotativos ao longo da borda leste da Otan para demonstrar o compromisso americano de proteger a aliança.

    Ele foi recebido na Polônia pelo presidente Andrzej Duda, que pediu uma postura de defesa mais permanente da organização militar no país, juntamente com uma força internacional de manutenção da paz na Ucrânia. Autoridades dos EUA não gostaram da proposta de manutenção da paz, sugerindo que ela poderia violar a linha vermelha de manter as tropas americanas fora do conflito.

    Falando aos membros do serviço dos EUA, Biden saudou o povo ucraniano, que ele disse estar demonstrando uma determinação admirável. “O povo ucraniano tem muita coragem. Tenho certeza de que vocês estão observando. E não me refiro apenas a militares”, declarou.

    Ele cometeu um aparente deslize ao sugerir que as tropas americanas veriam os próprios ucranianos em ação.

    “O cidadão comum, veja como eles estão intensificando. E você vai ver quando estiver lá, não sei se você esteve lá, você vai ver mulheres, homens, jovens parados no meio do maldito tanque, dizendo: ‘Eu não vou embora. Estou defendendo'”, afirmou.

    Biden e seu governo têm sido inflexíveis na questão de não enviar soldados para a Ucrânia, e todas as forças armadas dos EUA que estavam no país foram retiradas antes da invasão russa. Um porta-voz da Casa Branca complementou mais tarde: “O presidente deixou claro que não estamos enviando tropas dos EUA para a Ucrânia e não há mudança nessa posição”.

    Mais tarde, ao receber um briefing sobre a resposta humanitária à crise na Ucrânia, Joe Biden analisou que as imagens vindas do país são “algo saído de um filme de ficção científica”.

    “Aqueles bebezinhos. Filhinhos. Você está olhando para as mães – você não tem que entender a língua que eles falam – você vê em seus olhos dor e quero dizer literalmente dor ao observar seus filhos. Eu não acho que haja nada pior para um pai do que ver seus filhos sofrendo”, continuou durante a fala.

    Mais de 3,5 milhões de pessoas já fugiram da Ucrânia, de acordo com dados da Agência para Refugiados das Nações Unidas (ACNUR) divulgados na terça-feira (22). A grande maioria desses refugiados fugiu para os vizinhos ocidentais da Ucrânia em toda a Europa.

    A Polônia, que faz fronteira com o país a oeste, registrou a entrada mais de 2 milhões de refugiados ucranianos. No entanto, o número de refugiados que permanecem por lá é menor, com muitos continuando sua jornada para outros países.

    No início deste mês, durante a viagem da vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, à Polônia, Andrzej Duda pediu pessoalmente que agilizasse e simplificasse os procedimentos para que ucranianos com família nos EUA pudessem ir até o país.

    Ele também alertou Harris de que os recursos poloneses estavam sendo muito prejudicados pelo fluxo de refugiados, mesmo que a Polônia os receba de braços abertos.

    A Casa Branca diz que, desde 24 de fevereiro, os EUA forneceram mais de US$ 123 milhões para ajudar países vizinhos à Ucrânia e à União Europeia para lidar com o fluxo de refugiados, incluindo US$ 48 milhões na Polônia.

    Também foi anunciada nesta semana que os Estados Unidos receberiam 100 mil pessoas fugindo da guerra por meio de uma variedade de canais de migração.

    Ações para afastar a Europa da dependência do gás natural

    Quando Biden estava deixando Bruxelas mais cedo, ele procurou suavizar uma das maiores divergências na união do Ocidente ao punir a Rússia: a dependência da Europa das importações de energia russa, que continuaram a fornecer bilhões de dólares a Putin, mesmo com o presidente americano buscando desligá-lo da economia mundial.

    Biden e von der Leyen anunciaram uma força-tarefa conjunta destinada a ajudar a Europa de sua dependência do petróleo e gás russos. O painel será presidido por representantes da Casa Branca e da Comissão Europeia e terá como objetivo encontrar suprimentos alternativos de gás natural liquefeito (GNL) e reduzir a demanda geral poreste combustível no futuro.

    “Vai levar algum tempo para ajustar as cadeias de fornecimento de gás e a infraestrutura que (foram) construídas na última década, então teremos que garantir que as famílias na Europa possam passar por este inverno e pelo próximo enquanto estamos construindo uma infraestrutura para um futuro de energia diversificada, resiliente e limpa”, disse o americano.

    A dependência energética europeia provou ser um grande entrave nos esforços ocidentais para punir Moscou por sua invasão da Ucrânia. Enquanto os EUA proibiram as importações de energia da Rússia, a Europa achou muito mais difícil cortar seus suprimentos.

    “Sei que eliminar o gás russo terá custos, mas não é apenas a coisa certa a fazer do ponto de vista moral, mas também nos colocará em uma base estratégica muito mais forte”, acrescentou.

    O grupo também trabalhará para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, diminuindo as emissões de metano e usando energia limpa.

    Em uma declaração conjunta, os EUA e a União Europeia destacaram que “a segurança energética e a sustentabilidade da UE e da Ucrânia são essenciais para a paz, a liberdade e a democracia na Europa”.

    Altos funcionários do governo disseram que os 15 bilhões de metros cúbicos de gás natural liquefeito vêm de várias fontes, incluindo os Estados Unidos e nações da Ásia, mas não têm uma repartição exata de onde o gás estava vindo.

    O anúncio de sexta-feira foi um importante passo de um esforço dos EUA nos últimos meses para identificar fontes alternativas de energia para a Europa, particularmente na Ásia. Autoridades informaram que essas ações continuarão ao longo deste ano para atingir a meta.

    Um funcionário disse que retirar a Europa da energia russa equivale a “substituir um fornecedor não confiável de GNL por outro muito mais confiável nos EUA”.

    “Esta crise também apresenta uma oportunidade. É um catalisador”, observou o presidente americano. “Um catalisador que impulsionará os investimentos de que precisamos para dobrar nossas metas de energia limpa e acelerar o progresso em direção ao nosso futuro de ‘zero emissões líquidas'”.

    Tanque de guerra russo destruído na Ucrânia
    Tanque de guerra russo destruído na Ucrânia / Maximilian Clarke/SOPA Images/LightRocket via Getty Images

    Foco em armas químicas

    A Casa Branca também procurou esclarecer outro comentário que Biden fez durante a entrevista coletiva de quinta-feira (24) – quando disse que responderia “na mesma moeda” se a Rússia usasse armas químicas na Ucrânia.

    A caminho da Polônia a bordo do Air Force One, o conselheiro de segurança nacional dos EUA, Jake Sullivan, afirmou que a resposta a um possível ataque com armas químicas pela Rússia será feita em coordenação com aliados.

    Sullivan não detalhou o que a resposta implicaria, mas destacou que a Rússia pagaria um “preço severo” e enfatizou que “os Estados Unidos não têm intenção de usar armas químicas, ponto final – sob quaisquer circunstâncias”.

    A viagem à Polônia também ocorre duas semanas depois que os Estados Unidos rejeitaram as propostas da Polônia para facilitar a transferência de seus caças MiG-29 para a Ucrânia.

    A ideia foi rechaçada por temores de que a ação pudesse ser vista como uma escalad no conflito entre a aliança e a Rússia – que se opõe veementemente às ambições da Ucrânia de ingressar na aliança da Otan.

    O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, pediu repetidamente mais aeronaves para a invasão, fazendo outro apelo aos líderes da organização militar na quinta-feira.

    Durante um discurso virtual na quinta-feira, ele pediu aos membros da Otan “1% de todos os seus aviões”, acrescentando posteriormente: “Vocês têm milhares de caças, mas ainda não recebemos um”.

    Apesar do apelo de Zelensky, um alto funcionário dos EUA disse à CNN na quinta-feira que a posição sobre a questão dos caças não mudou.

    Kaitlan Collins e Allie Malloy, da CNN, contribuíram para esta reportagem.

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